Observei que, em geral, todos
lamentaram a violência. Porém, observei também que as pessoas não
concordaram com a posição dos jornalistas, pois elas sentem que não
é direito se utilizar da sátira e do humor para ferir os
sentimentos que as pessoas têm do sagrado, da sua fé. Percebi que
as pessoas prezam o sentimento de dignidade e é por isto que
rejeitam a posição dos jornalistas, para os quais a liberdade de
expressão não pode ter limites.
É compreensível que os jornalistas
temam que haja restrições à liberdade de expressão, pois, fora do
controle social, elas poderão se tornar censura. Todavia, é ainda
mais compreensível que as pessoas priorizem o valor do respeito e da
dignidade humana. Sem dignidade, o indivíduo não é pessoa, não é
cidadão. Aliás, quando se lê as declarações dos direitos
humanos, a de 1789, francesa, ou a de 1948, das Nações Unidas, fica
claro que a DIGNIDADE vem antes. As declarações asseguram a
liberdade de expressão, inclusive a religiosa, mas, antes, se
posicionam em relação à fraternidade, dignidade, reputação das
pessoas e às relações amistosas entre as nações.
Meu sentimento é que, em função
da tragédia ocorrida, estamos agora rediscutindo valores. Valores já
discutidos anteriormente e escrito nas Declarações. O que vale
mais? A dignidade, a fraternidade, as relações amistosas entre as
pessoas ou o direito dos jornais publicarem o que quiserem? O que vem
antes?
Sou a favor do Estado Laico, mas há
nações que preferem ser governadas por religiosos. Pelo que sei, a
Declaração dos Direitos de 1948 foi escrita sob a liderança dos
países que ganharam a Segunda Grande Guerra. Não incluiu os
direitos dos vencidos, nem das minorias. Vários países da África,
do Oriente e da Ásia eram praticamente colônias e muitos econômica
e militarmente dominados pelas potências ocidentais. Penso que a
questão religiosa tenha que ser rediscutida nas Nações Unidas e
considere os países que não puderam influir no texto anterior. É
uma questão complexa, pois além do direito e dos limites de
expressão, envolve outros direitos civis negados pelas religiões, a
exemplo da igualdade entre homens e mulheres, que não é observada
sequer pela igreja católica, nem pelos protestantes, que comandam a
religiosidade no mundo ocidental.
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