terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Não, nós não somos Charlie!

Daniel Strutenskey de Macedo

Observei que, em geral, todos lamentaram a violência. Porém, observei também que as pessoas não concordaram com a posição dos jornalistas, pois elas sentem que não é direito se utilizar da sátira e do humor para ferir os sentimentos que as pessoas têm do sagrado, da sua fé. Percebi que as pessoas prezam o sentimento de dignidade e é por isto que rejeitam a posição dos jornalistas, para os quais a liberdade de expressão não pode ter limites.

É compreensível que os jornalistas temam que haja restrições à liberdade de expressão, pois, fora do controle social, elas poderão se tornar censura. Todavia, é ainda mais compreensível que as pessoas priorizem o valor do respeito e da dignidade humana. Sem dignidade, o indivíduo não é pessoa, não é cidadão. Aliás, quando se lê as declarações dos direitos humanos, a de 1789, francesa, ou a de 1948, das Nações Unidas, fica claro que a DIGNIDADE vem antes. As declarações asseguram a liberdade de expressão, inclusive a religiosa, mas, antes, se posicionam em relação à fraternidade, dignidade, reputação das pessoas e às relações amistosas entre as nações.

Meu sentimento é que, em função da tragédia ocorrida, estamos agora rediscutindo valores. Valores já discutidos anteriormente e escrito nas Declarações. O que vale mais? A dignidade, a fraternidade, as relações amistosas entre as pessoas ou o direito dos jornais publicarem o que quiserem? O que vem antes?

Sou a favor do Estado Laico, mas há nações que preferem ser governadas por religiosos. Pelo que sei, a Declaração dos Direitos de 1948 foi escrita sob a liderança dos países que ganharam a Segunda Grande Guerra. Não incluiu os direitos dos vencidos, nem das minorias. Vários países da África, do Oriente e da Ásia eram praticamente colônias e muitos econômica e militarmente dominados pelas potências ocidentais. Penso que a questão religiosa tenha que ser rediscutida nas Nações Unidas e considere os países que não puderam influir no texto anterior. É uma questão complexa, pois além do direito e dos limites de expressão, envolve outros direitos civis negados pelas religiões, a exemplo da igualdade entre homens e mulheres, que não é observada sequer pela igreja católica, nem pelos protestantes, que comandam a religiosidade no mundo ocidental.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por participar, aguarde publicação de seu comentário.
Não publico ofensas pessoais e termos pejorativos. Não publico comentários de anônimos.
Registre seu nome na mensagem. Depois de digitar seu comentário clique na flechinha da janela "Comentar como", no "Selecionar perfil' e escolha "nome/URL"; na janela que vai abrir digite seu nome.
Se vc possui blog digite o endereço (link) completo na linha do URL, caso contrário deixe em branco.
Depois, clique em "publicar".
Se tiver gmail escolha "Google", pois o Google vai pedir a sua senha e autenticar o envio.