1 - é pura semântica essa discussão, além de um desiderato inútil. Na medida em que soja, milho, algodão (OGMs, especialmente), café, açúcar e etanol, carnes bovinas e de aves e suínos - principais itens de nossa pauta de exportação - usam altíssima tecnologia para sua produção, e por serem renováveis, portanto com "sustentabilidade", elas têm valor agregado, sim, dão lucros ao país e aos produtores, geram muitos empregos em toda a cadeia. Não é por acaso que Sorriso e Lucas do Rio Verde, ambas no Mato Grosso, são duas cidades com o mais alto IDH no Brasil.
2 - As críticas da falta de valor agregado parecem comparar nossas commodities com as commodities europeias, onde o leite tem valor altamente agregado ao ser transformado em queijos, ou a uva em vinho. Aí sim, é alto valor agregado, nisso concordo, mas se fizéssemos tal marketing para quem exportaríamos? Para a Europa e EUA? Somente eles teriam poder aquisitivo para remunerar o valor agregado. A escolha brasileira pelas commodities é natural diante das nossas imensas áreas de produção ao privilegiar altos volumes de exportação, e não baixos volumes com alto valor agregado. Para desmistificar isso basta comparar os valores de exportação de queijos e vinhos da França e Itália, cujas somas não chegam a 20% das nossas exportações de commodities em termos de valores. Portanto, essa história de valor agregado a commodities é retórica de economistas.
3 - Há, sim, caminhos alternativos para agregar valor às nossas commodities, por exemplo: exportar apenas farelo ou óleo refinado de soja, café torrado e moído, açúcar, cachaça (o que já fazemos, com muita competência), artigos de couro, carnes processadas ou com cortes especiais, mas quem compraria nossos altíssimos volumes produzidos? Não esqueçamos que a China importa soja, milho e algodão, apenas porque são culturas altamente mecanizadas e não exigem grandes volumes de mão de obra, fator que contraria a política chinesa de gerar empregos.
4 - Os EUA, sim, cometeram a burrice estratégica do século ao exportar suas indústrias para a China, na expectativa de que iriam gerar alto valor agregado em produtos industriais com alta tecnologia embutida. As commodities industriais chinesas, hoje em dia, dominam o mundo no comércio internacional, como artigos do vestuário, brinquedos, automóveis, aparelhos de TVs, produtos químicos, eletrodomésticos em geral, e toda a parafernália da informática, como monitores, mouses, teclados e demais peças dos computadores, exceto os processadores. Os EUA, com isso, geraram desemprego em casa e proporcionaram emprego e riqueza na China e Índia. Ou seja, se é fabricado na China, é commoditie!
5 - A Europa continua encalacrada, e sem saída. Os produtos são de altíssimo valor agregado, como Marcos Jank registra no artigo, não têm chances de produzir em escala como nós, e, por isso, têm poucos clientes mundo afora. O marketing é uma ferramenta de "dois legumes", agrega valor as produtos de um lado, torna-os exclusivos, mas reduz o tamanho do mercado na outra ponta. E precisa de muita propaganda para isso funcionar.
6 - Ainda sobre valor agregado a commodities agrícolas, o que nos falta no Brasil, conforme registrei em meu livro "Marketing da Terra" (Editora UFV - Viçosa-MG, 2005), é o processamento fabril de produtos da terra (frutas, grãos, leite e derivados, carnes, algodão), porém com a participação de cooperativas agrícolas no processo, ou em indústrias regionais, agregando valor à produção dos pequenos e médios produtores rurais, para fixar população na área rural, gerando empregos e riquezas. Foi assim que nasceram empresas internacionais como Parmalat, Nestlé, Batavo, Sadia, Perdigão (hoje BR Foods) etc., e muitas outras. O que me leva a concordar com Marcos Jank de que temos de sair da zona de conforto, nisso sim, estamos atrasados, pois podemos trabalhar nas duas vertentes, com muita categoria.
Espero ter contribuído ao debate.
Caro Richard
ResponderExcluirPrecisamos não nos perder em pensamentos desiderativos (wishful thinking).
Abç. FC
Caros Marcos Jank e Richard,
ResponderExcluirBela contribuição ao debate.
Tudo de bom por ai.
Casale