Como faço todo santo dia, nublado ou com muito sol, depois
do horário do almoço vou pitar meu cigarrinho de palha na calçada frontal à
casa da DBO Editores.
A casa integra o enorme quarteirão do parque da Água Branca,
hoje um espaço verde para caminhadas de moradores da região. Nos prédios e
casas espalhados pelo parque há escritórios da Secretaria da Agricultura, e agora também da Secretaria do Meio Ambiente, e uma
quantidade expressiva de sedes de associações de criadores de gado e cavalos,
gente da agricultura orgânica, pessoal que volta e meia realiza festas e
feirinhas, cheias de barracas com guloseimas, mas também existe um espaço maior, que eu ainda não sei exatamente onde é, onde gente da
terceira idade frequenta três vezes por semana, no período da tarde, para participar
de um baileco à moda antiga.
Deve ser animado o tal do arrasta-pé da turma, a julgar pelo
entusiasmo que a maioria demonstra ao chegar às proximidades do convescote.
Fico olhando a turma passar, enquanto vou pitando meu palheiro. Nas terças e
quintas-feiras tem baile, no domingo também, e gente da terceira idade que passa feliz, todos
arrumadinhos, lépidos e faceiros, vindos de todas as direções.
Esta semana meus ouvidos capturaram um diálogo supimpa,
digno de se registrar numa crônica como esta. Não havia como não ouvir. Pois um casalzinho vinha andando
ligeirinho, e conversavam, mas a senhorinha, uma mulher de seus sessenta e muitos
anos, não sei precisar, parecia contrariada com algo, enquanto ele, baixinho
como ela, tinha sotaque nordestino carregado. Olhei para o outro lado, mas não
foi possível deixar de ouvir o diálogo:
Ele: - na próxima eu levo você...
Ela: - mas não sei se eu vou querer, não tô gostando muito...
Ele: - a gente gosta, sim...
Ela: - mas você não funciona mais...
Foram andando, lado a lado, mas calados, o argumento dela
deve ter sido um petardo devastador. Pararam na esquina, ao lado de um poste, uns 40 metros
de onde eu me encontrava observando a tragicomédia. Bem, tragédia para ele, e
comédia pra mim. Lembre-se: no dos outros não é pimenta...
Ela ameaçou ir em direção ao parque, e ele foi atrás, deram dois
ou três passos cada um, mas ela voltou-se e dizia algo, colocando a mão no ar,
como quem diz “pode parar, você não vai, não”. Conversaram mais uns minutos. Na sequência, ela pegou o baixinho
pela mão, e atravessaram a rua em sentido contrário ao baileco.
Não sei se voltaram, nem para onde foram, ou como se
resolveram, mas foram quatro frases curtas, reveladoras do cotidiano, um retrato
da vida, estrupício que meus ouvidos não tinham como perceber e capturou-se um instante
fugaz da vida de pessoas simples e anônimas.
Há muitas dessas histórias, a que os amigos estimulam que
eu revele aqui na blogosfera.
Volto em breve, com novos estrupícios...
.
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