domingo, 8 de dezembro de 2019

O perigo que corremos


Daniel Strutenskey Macedo 
As revoltas que estão acontecendo em vários países é fruto de da convergência de duas coisas: a maior comunicação entre as pessoas e a maior concentração de renda dos países. A maior comunicação traz tudo à tona, as pessoas são estimuladas a reagir. Reagir num sentido ou em sentido contrário, o que provoca tensões sociais. A maior concentração de renda num pequeno percentual de ricos torna mais difícil a vida das pessoas comuns e que aspiram melhoria de vida. Melhoria que não chega e que não apresenta perspectivas. Daí o pessimismo. As críticas. Críticas que refluem para intensificar a comunicação pessoal e que são amplificadas nas mídias sociais, as quais lhes dão intensidade e força. Força e intensidade perigosa, que causa disputas, rupturas, passeatas, manifestações violentas.

Grupos organizados utilizam as mídias sociais com robôs para influenciar a população e conseguir apoio para as suas posições e aspirações sociais, econômicas e políticas. Fala-se muito em Fake News, mas não são elas que produzem efeito, mas, sim, o fato das Fake News pegarem, serem bem recebidas pelos grupos que pensam e sentem de maneira semelhante aos que produziram a Fake News. Não é uma questão de ser Fake ou não, mas de encontrar nas pessoas sentimentos semelhantes aos conteúdos que noticias e mensagens (falsas ou não) passam para o público. Portanto, o problema são os sentimentos, as ideias, as crenças e os valores das pessoas. Ou seja, cultura!

A cultura é construída no seio familiar, no grupo próximo a nossa criação, na educação formal das escolas, nos nossos ambientes de trabalho, nos filmes, novelas, series, musicas, publicidade, jornalismo. O que sentimos é profundo e tem origem familiar e do grupo social próximo. Dizer que os filmes, as novelas e o jornalismo são responsáveis pelo que estamos passando é dizer bobagem. São nossos sentimentos que formaram nossa personalidade que filtram o que vemos, ouvimos, assistimos, participamos. Tanto assim, que não conseguimos mudar a maneira de ver o mundo nem nos nossos filhos. Cada um tem a sua cabeça, as suas preferências, a sua vida, o seu mundo. Logo, os conflitos são frutos das diferentes formas que as pessoas veem o mundo, o modo como sentem a vida. Tudo o que eu escrever e defender aqui, neste momento, não mudará o seu pensamento, o juízo que você tem e faz das coisas. Você continuará acreditando e defendendo o seu modo de pensar e sentir, os seus valores. O que as redes sociais fazem é unir em grupos os mesmos modos de pensar e sentir.

E quando as mensagens são de ódio, de preconceito e de revolta, elas ganham força, pois reúnem milhões de pessoas. Formam, digamos assim, uma grande boiada e se essa boiada estoura causa problemas. É isto que está acontecendo. As boiadas estão formadas e estão em disparada. Aqui no Brasil as boiadas foram formadas na ultima campanha eleitoral. Primeiro batendo nos petistas e depois reunindo bolsonaristas.

O Partido dos trabalhadores praticamente acabou depois que se corrompeu. Quem é jovem e não viveu os anos 60 não sabe que o Partido dos Trabalhadores, o original, não causou problemas, pelo contrário foi uma iniciativa política de fazer política pacifica e acabar com os movimentos extremistas. E como, ao nascer, conquistou os trabalhadores, os grupos extremistas, se sentindo isolados e sem espaço, ingressaram no partido para poder participar, não ficar de fora. Apesar disto, a partir daí tivemos um período de paz politica, pois a base do partido dos trabalhadores contava com muitos militantes da igreja, com famílias, que não eram extremistas. Depois, quando conquistou poder público e cargos, o partido também utilizou as negociatas para ter recursos de campanha. Por causa disto, de ter feito o que os outros partidos faziam e fazem, o partido dos trabalhadores acabou. Não é mais o partido que tivemos nos anos 80 e 90.

Nasceu o bolsanarismo. Nasceu com o vigor e o idealismo de reforma, justiça e melhoria social que anteriormente fez nascer o antigo partido dos trabalhadores. Só que agora como um partido chamado de Liberal, “palavra da moda”, mas bastou onze meses para mostrar que disputa interesses pessoais, divulga Fake News através de robôs, ataca politicamente professores, estudantes, sindicalistas, artistas, índios, umbandistas e intelectuais. Qual seja, divide a sociedade brasileira. Não é republicano, não é democrata. Mas faz de conta de que é e atrai multidões que desejam justiça, reformas, melhoria de vida. É parecido com o que aconteceu com o PT, com a diferença que o PT atacava o Liberalismo e os capitais. Ataque idiota, pois nossa economia é capitalista. O problema não é o capital, mas a forma como o capital contribui socialmente para a Nação e o Estado. Agora os bolsonaristas atacam o Socialismo e Comunismo. Regimes econômicos que nem existem mais. Até a Rússia é capitalista. E a China então, mas que de comunista só tem o nome do partido. As suas ações são de mercado, de aumento de capitais, de abertura de novas empresas e novos produtos, de conquistar os mercados do mundo. Os grupos bolsonaristas, no entanto, dão guarida a essas bobagens, pois por detrás de tudo estão os valores e os sentimentos dos que pensam de maneira igual ou semelhante.

O perigo, portanto, é a exacerbação dos ânimos e o choque dos grupos adversários, das boiadas. Quem pagará a conta? As famílias. Todas. Até aquelas que agem de modo sensato e equilibrado, que respeitam as opiniões alheias, que não utilizam jargões e frases de efeitos, mas de argumentação fundamentada em valores cristãos. Cristãos de verdade e não esses que estão divulgados por bolsonaristas e petistas.

Nós, que não nos identificamos com estes grupos extremistas, e que somos maioria, precisamos nos unir e divulgar nossa indignação pelo que os dois grupos estão fazendo. Não é este o clima político que queremos para o nosso país, para a nossa nação. Nação plural, mas orgulhosa de si e de seus valores republicanos e cristãos. Queremos reformas, mas com equilíbrio, com a mediação, com negociações respeitosas.


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