quarta-feira, 13 de maio de 2015

Água para comer

João Rebequi *
Segundo a FAO-ONU, o mundo tem um grande desafio pela frente. Produzir alimentos para 9 bilhões de pessoas até 2050 e, ao mesmo tempo, ser sustentável. Unidos, podemos conquistar esse objetivo: alimentar e preservar o planeta. Mas isso só será possível quando considerarmos a utilização da irrigação na agricultura e entendermos o seu papel.

Neste ano, diante da gravidade da crise hídrica que vive o país, a população urbana, por falta de conhecimento, acabou condenando a irrigação agrícola como uma grande vilã. Entretanto, é fundamental que a sociedade saiba que, sem áreas irrigadas, não há como fazer crescer a produção, principalmente sem aumentar as áreas de cultivo. Só podemos fazer mais com o mesmo (ou menos) usando irrigação.

Além disso, o desenvolvimento técnico dos equipamentos nos últimos anos comprova ser possível utilizar água na agricultura com racionalidade e sem desperdício. Em diversos debates no Brasil e no mundo sobre o gerenciamento dos recursos hídricos, foi demonstrado que a irrigação é um instrumento efetivo para auxiliar a produção de alimentos que a futura e crescente população mundial demandará. O que podemos discutir, a partir daí, é a eficiência de aplicação hídrica para cada cultura. Imaginar o mundo sem irrigação seria aceitarmos a falta de alimento, pessoas passando fome e aumento nos preços.
 

O que a população urbana precisa entender é que água na irrigação não é consumida, é utilizada dentro do melhor ciclo hidrológico possível e que os equipamentos de irrigação, são como a torneira dentro de casa, bem utilizados, não desperdiçam sequer uma gota de água e, o mais importante, é que a grande maioria dos irrigantes brasileiros tem essa consciência e usam seus equipamentos de maneira adequada e sustentável, ou seja, aplicam somente a quantidade de água que a planta precisa e, em alguns casos, até menos trabalhando no limite do estresse hídrico de cada cultura. Voltando a comparação com a água consumida em casa, a agricultura usa bem suas “torneiras”, e a água utilizada, além de produzir alimentos, volta ao ciclo hidrológico devidamente filtrada, sem a necessidade de tratamento.

Um diferencial é a utilização das boas práticas de manejo agrícola. Com elas, é possível racionalizar a água utilizada nas fazendas. Essa racionalização depende das culturas nas quais serão utilizadas com irrigação, e passa, também, pelos métodos utilizados para tal. É importante usufruir da infraestrutura e tecnologias já disponíveis no mercado, para utilizar somente a quantidade de água que a cultura necessita ou até menos.

A irrigação por pivôs, por exemplo, é uma alternativa econômica e rentável, além de eficiente, que aplica a água de maneira uniforme, evitando o desperdício. A água é aplicada na hora certa e na exata quantidade que a planta necessita. Tanto o pivô central quanto outros métodos de irrigação têm excelentes níveis de eficiência de aplicação, alcançando índices que variam entre 95% a 98%.

O foco profissional do setor, desta forma, deve recair sobre um triângulo agronômico de eficiência na produção (fazer mais com menos), atender à planta em sua necessidade hídrica e escolher o método adequado de irrigação. Entendendo esse processo, é incorreto atribuir culpas ao agronegócio e à irrigação na questão da crise hídrica nacional.

* João Rebequi é presidente da Valmont e vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos)
 

Comentário do blogueiro: em fevereiro último publiquei aqui no blog artigo sobre a água, sob o título “A água e as imbecilidades. Leia aqui: http://richardjakubaszko.blogspot.com.br/2015/02/a-agua-e-as-imbecilidades.html
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terça-feira, 12 de maio de 2015

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.



Marina Colasanti *
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez irá pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


* a autora é jornalista e escritora.
O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pg 9.
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segunda-feira, 11 de maio de 2015

Mulher faz baliza "perfeita" no shopping

Richard Jakubaszko
Num shopping na Austrália o improvável acontece. Uma mulher ao volante demora 3 minutos para fazer uma baliza para estacionar de ré, e acaba mudando de ideia e estaciona de frente.

Mais uma vez deu razão aos machistas críticos de que mulher dirige e estaciona mal. Basta uma só cometer as barbeiragens que essa do vídeo nos brindou de forma espetacular pra mulherada levar a fama...
O pior é que, se uma andorinha não faz verão, uma mulher faz a fama das outras...

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domingo, 10 de maio de 2015

Morre o ex-ministro Mendes Ribeiro Filho

Richard Jakubaszko
Morreu ontem (sábado, 9/5/2015) em Porto Alegre Jorge Mendes Ribeiro Filho (60 anos), após uma luta de cerca de 8 anos contra um câncer no cérebro, que o levou a duas cirurgias, a primeira em 2007 e a segunda em 2011 quando era ministro da Agricultura no primeiro mandato de Dilma Rousseff.
Mendes Ribeiro foi vereador, deputado estadual e secretário de estado da Justiça e Casa Civil no RS, além de ter sido eleito deputado federal em 4 legislaturas, e foi relator da Assembleia Constituinte de 1988. Jorge se declarava "um viajante e aprendiz".

Membro de tradicional família gaúcha, Mendes Ribeiro tinha o mesmo nome do pai, o conhecidíssimo radialista Jorge Mendes Ribeiro, morto em 1999, autor de uma frase célebre quase ao final do jogo Brasil 2 x Espanha 1 na Copa do Mundo de 1962 no Chile, quando o Brasil conquistou o bi-campeonato Mundial de Futebol. A frase, que caiu na boca do povo, "Deus não joga, mas fiscaliza", indicava que o placar da partida era mais do que justo diante da pancadaria de pontapés distribuída pelos espanhóis, fato que era sistematicamente ignorado pelo juiz, inclusive dois pênaltis clamorosos não assinalados quando o placar estava em 1 x 1 e era dramática a situação do Brasil em campo, sem Pelé, que estava lesionado.

Convivi com muitos da família Mendes Ribeiro, especialmente o ex-ministro e seu tio Antônio Carlos Mendes Ribeiro, jornalista e ex-treinador do Internacional, com quem trabalhei no jornal Zero Hora e na Denison Propaganda, no início da ditadura militar.
Minhas condolências aos seus familiares.
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sábado, 9 de maio de 2015

BBC fura grande mídia sobre Zelotes

Richard Jakubaszko

BBC fura grande mídia sobre Zelotes

Por Miguel do Rosário


Publico abaixo uma reportagem publicada na BBC há alguns dias, que passou despercebida por nossas redes sociais. Fala sobre a Zelotes, e repercute números que cansamos de mencionar por aqui: uma pesquisa da Tax Justice Network que aponta o Brasil como o país com a maior taxa de evasão fiscal do mundo.

Só uma retificação no texto da BBC. Ele observa que somente os EUA registram um valor maior de evasão fiscal. Certo, só que, em percentual do PIB, a evasão fiscal brasileira é dez vezes maior: nos EUA, a evasão corresponde a 2% do PIB, a evasão brasuca nos custa 13,4% do PIB.

Os repórteres da BBC, todavia, deveriam ler o Cafezinho com mais frequência, porque saberiam, por exemplo, que há estudos mais atualizados sobre a evasão fiscal no Brasil.

Há, por exemplo, uma estimativa divulgada este ano pelo Sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional, calculando a sonegação em 2014 em R$ 502 bilhões. A mídia nunca deu este número.

Digite “sonegação R$ 502 bilhões” no Google e só achará posts do Cafezinho, ou de outros blogs reproduzindo o Cafezinho.

A grande mídia foge de notícias sobre sonegação como o diabo foge da cruz.

Por isso tanto silêncio em torno da Zelotes, que envolve desvios muito maiores do que a Lava Jato.

Reportagens sobre a evasão fiscal no Brasil podem ser lidas em blogs e na BBC Brasil, mas não no cartel midiático, especializado em sonegar informação e impostos.

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Evasão fiscal anual no Brasil ‘equivale a 18 Copas do Mundo’
Fernando Duarte, da BBC Brasil em Londres

- A evasão fiscal do Brasil, com base em números de 2010, equivaleu a R$ 490 bilhões -

- Mesmo antes da disparada na cotação do dólar, US$ 280 bilhões já seria um número impressionante -

Segundo uma pesquisa da Tax Justice Network (rede de justiça fiscal, em tradução livre, organização internacional independente com base em Londres, que analisa e divulga dados sobre movimentação de impostos e paraísos fiscais), este é o montante que o Brasil teria perdido, apenas em 2010, com a evasão fiscal – em 2011, ano de divulgação do estudo, isso equivalia a R$ 490 bilhões.

O número vem de estimativas feitas com base em dados como PIB, gastos do governo, dimensão da economia formal e alíquotas tributárias. Segundo um dos pesquisadores da organização, estudos sobre evasão fiscal mostram que as estimativas do que deixa de ser arrecadado leva em conta também a economia informal.

O valor coloca o Brasil atrás apenas dos Estados Unidos numa lista de países que mais perdem dinheiro com evasão fiscal. É 18 vezes maior que o orçamento oficial da Copa do Mundo de 2014 e quase cinco vezes mais que o orçamento federal para a Saúde em 2015, por exemplo.

É bem maior que os R$ 19 bilhões que a Polícia Federal acredita terem sido desviados da União por um esquema bilionário de corrupção envolvendo um dos principais órgãos do sistema tributário brasileiro, o Carf – a agência responsável pelo julgamento de recursos contra decisões da Receita Federal, e que é o principal alvo da Operação Zelotes.

Mas para diversos estudiosos da área, a deflagração da ação policial pode representar o momento em que a sonegação ocupe um espaço maior nas discussões sobre impostos no Brasil, normalmente dominadas pelas críticas à carga tributária no país.

“A operação Zelotes mostrou que grandes empresas são pegas (em esquemas de sonegação) e têm grandes valores de dívidas. Mostrou ainda que não há constrangimento em pagar ‘consultorias’ que lhes assessorem em seus pleitos. A evasão fiscal é um problema muito mais grave do que a corrupção, não apenas por causa do volume de dinheiro envolvido, mas porque é ideologicamente justificada como uma estratégia de sobrevivência”, disse à BBC Brasil uma fonte da Receita Federal.

Pesquisador da Tax Justice Network, o alemão Markus Meinzer, aponta também para estimativas da entidade, igualmente baseadas em dados de 2010, de que os super-ricos brasileiros detinham o equivalente a mais de R$ 1 trilhão em paraísos fiscais, o quarto maior total em um ranking de países divulgado em 2012 pelo grupo de pesquisa.

“Números como estes relacionados aos paraísos fiscais mostram que o grosso do dinheiro que deixa de ser arrecadado vem de grandes fortunas e empresas. Por isso a operação da receita brasileira poderá ser extremamente importante como forma de tornar o assunto mais público”, acredita Meinzer.

O pesquisador acredita que a discussão é crucial para debates políticos no Brasil. Cita especificamente como exemplo o debate sobre os gastos sociais do governo da presidente Dilma Rousseff, um ponto contencioso em discussões públicas no Brasil.

“A verdadeira injustiça não está nas pessoas que usam benefícios da previdência social, mas as pessoas no topo da pirâmide econômica que simplesmente não pagam imposto. Pois isso é o que força governos a aumentar a taxação para os cidadãos. Alguns milhares de sonegadores milionários fazem a vida de milhões mais difícil”.

Leia mais: Ricos brasileiros têm quarta maior fortuna do mundo em paraísos fiscais

Autor de Ilhas do Tesouro, um livro sobre a proliferação dos paraísos fiscais e esquemas de evasão de renda que rendeu elogios do Nobel de Economia Paul Krugman, o britânico Nicholas Shaxson, concorda com a atenção que a Operação Zelotes poderá despertar junto ao grande público, em especial sobre a bandeira da justiça fiscal.

“Nos países europeus, a crise econômica de 2008 mobilizou o público para questões como esquemas de evasão fiscal, incluindo sistemas de certa forma encorajados pelo governo, como os impostos de multinacionais. Falar em impostos é um tema delicado politicamente, mas que se transformou em algo instrumental em campanhas políticas. O Brasil, que agora passa por um momento econômico mais delicado terá uma oportunidade de abordar esse assunto de forma mais generalizada”, diz Shaxson.

“O princípio de justiça fiscal é uma bandeira de campanha interessante. Na Grã-Bretanha, por exemplo, já não é mais exclusivamente restrito a uma parte do espectro político. E mostra que não adianta você insistir naquela tese de ‘ensinar a pescar em vez de dar o peixe’ quando alguns poucos são donos de imensos aquários”, completa o britânico, numa alusão à expressão usada para criticar programas assistenciais como o Bolsa-Família.

http://www.ocafezinho.com/2015/05/04/bbc-fura-grande-midia-sobre-zelotes/
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sexta-feira, 8 de maio de 2015

A 'nova rota da seda' e o Brasil

Marcos Sawaya Jank *



Mais de dois milênios após o seu surgimento, a grande novidade da China é o projeto da "nova rota da seda". Chamada de "One Belt, One Road" (um cinturão, uma estrada), a iniciativa foi apresentada em março último pelo líder Xi Jinping no Fórum Econômico de Boao, na província de Hainan.

A China pretende redesenhar a ordem econômica e política da região criando um corredor de investimentos em infraestrutura que vai interligar as grandes cidades ao longo das antigas rotas de especiarias. Pelo lado terrestre, a rota irá da China para a Ásia Central, a Rússia e o sul da Europa. Pelo lado marítimo, ela ligará o Sudeste Asiático, o oceano Índico, o leste da África e o golfo Pérsico, até o canal de Suez.

Duas grandes iniciativas que somam quase US$ 100 bilhões foram lançadas: o AIIB (Banco de Investimentos e Infraestrutura da Ásia), que já atraiu 47 países interessados, apesar da forte oposição dos EUA, e o Fundo da Rota da Seda.

A rota tradicional da seda nunca chegou às Américas, mas as grandes navegações, sim. Foi em busca de novos caminhos para o Oriente que espanhóis e portugueses desembarcaram no hemisfério Ocidental. Hoje o principal excedente de especiarias do século 21 – minerais e produtos agropecuários – está bem mais a oeste da roda da seda, e a Ásia como um todo precisa dele.

As importações chinesas de produtos agropecuários e alimentos mais do que duplicaram nos últimos cinco anos, ao passar de US$ 47 bilhões para US$ 108 bilhões por ano. Quem lidera a exportação para a China são os EUA (US$ 30 bilhões) e o Brasil (US$ 22 bilhões), seguidos de Canadá, Argentina, Austrália e Nova Zelândia. A China tornou-se o primeiro mercado destino dos EUA e do Brasil, representando um quinto de suas exportações.

O grande problema é que a China ainda pratica uma política comercial altamente seletiva e cirúrgica, pautada pela busca da autossuficiência. Quase 70% das importações chinesas no agronegócio concentram-se em um pequeno grupo de matérias-primas básicas – grãos e fibras –, para as quais a China abre exceção e facilita a entrada de produtos com tarifas baixas. Estamos falando basicamente de soja e milho para produzir rações para animais e algodão para a indústria têxtil.

As oportunidades inexploradas entre Brasil e China são imensas, não apenas no campo do comércio, mas também em investimentos, construção de parcerias estratégicas e projetos de cooperação e treinamento. Apenas no agronegócio, o vasto espaço de cooperação cobre infraestrutura e logística, biotecnologia, qualidade e sanidade dos alimentos, joint ventures e construção de cadeias produtivas integradas entre os dois países.

Menos de um ano após a visita do líder Xi Jinping, em julho passado, o Brasil recebe de 18 a 20 deste mês o primeiro-ministro da China, Li Keqiang. É hora de aproveitar o bom momento das relações bilaterais para avançar concretamente na exploração das grandes oportunidades que a China e a nova rota econômica da seda podem oferecer para o Atlântico Sul.

Sete séculos depois, é hora de reconstruir o caminho das especiarias de Marco Polo com inteligência e sofisticação, desta vez indo do Ocidente para o Oriente.

* o autor é especialista em questões globais do agronegócio.
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quinta-feira, 7 de maio de 2015

O Brasil virou um puteiro, não é mais a casa da mãe Joana, lamentavelmente.

Richard Jakubaszko 
O Brasil, cada vez mais, é a casa da mãe Joana, ou melhor, a Casa de Irene, como dizia a antiga canção.
Somos hoje um gigantesco puteiro a céu aberto. Agora, só falta privatizar o ar. É a lei do "estado mínimo", como querem alguns políticos. E não estou falando da Dilma, não.
O Congresso Federal está privatizado pelo lobby de deputados e senadores, e não há um "bispo" a quem os brasileiros possam recorrer. O governo está engessado, pela mídia e pela "opinião pública". Terceirizou a política!

Enquanto isso, os brasileiros "se distraem" com as "denúncias" de corrupção que os jornais, revistas e telejornais mancheteiam; os políticos agem à sombra de notícias sonegadas pela grande mídia, votam a terceirização e precarização dos trabalhadores, votam no silêncio a PEC 215, sobre a demarcação de terras indígenas e quilombolas; os juristas ignoram a votação da ADIN solicitada pela OAB, travada no STF por um ministro lobbysta de políticos que desejam ver o Brasil no "quanto pior, melhor"; e todos eles aguardam a vez de privatizar o pré-sal.

O mais importante, para a mídia, parece ser a Lava Jato, ou a extradição de Pizolatto, ou a prisão da cunhada do tesoureiro do partido que eles odeiam, afinal libertada, sem maiores explicações, mas há cheiro de festa no ar, como se isto fosse a coisa mais importante a ser noticiada, como se fosse acabar com a corrupção neste país, construído desde os primórdios de seu descobrimento pela escória da nobreza portuguesa. Somos, em verdade, um país de corruptos, somos o amálgama de uma cultura única, com origens luso-católica-judaica-africana.

Nosso judiciário precisa ter transparência, a "caixa preta" das nossas instituições jurídicas precisa ser desvendada, pois deixa a desejar, pelas decisões estapafúrdias, pela lentidão com que as sentenças são tomadas. O MP - Ministério Público, e seus promotores de justiça, precisam agir com bom senso, caso contrário vão paralisar o país, e o desemprego vai aparecer. Os procuradores tornaram-se o quarto poder, aliados com a mídia, onde tudo se faz por manchetes espetaculosas.

Nos jornais, a única verdade publicada é a data (conforme Luis Fernando Veríssimo), o resto é notícia com interesse político e partidário. 

O país perdeu a vergonha. A elite se locupleta.

terça-feira, 5 de maio de 2015

O que só a Agro DBO viu na Agrishow 2015

Richard Jakubaszko
Foi a Agrishow do ti-ti-ti, da expectativa, das dúvidas, dos protestos, e do primeiro faturamento "negativo" da feira em sua história de 22 edições. Em 2015 vendeu-se menos do que em 2014.
No vídeo abaixo, publicado no Portal DBO ( www.portaldbo.com.br ) faço um relato do que vi e percebi na Agrishow 2015. Relaxe, e divirta-se ao assistir.

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segunda-feira, 4 de maio de 2015

Começou a Expo Milão 2015

Richard Jakubaszko 
Começou em 1º de maio último a Expo Milão 2015, na Itália. Cerca de 140 países estão participando, e vão debater o tema no maior evento do ano: "Alimentar o planeta, energia para a vida".
Foto de Antonio Cellani/ AP
Estive na Itália em setembro último, a convite da CNH Industrial (Grupo Fiat/NewHolland), um dos patrocinadores desse mega-evento, para conhecer detalhes da Expo Milão, que começou agora e vai até outubro próximo, ou seja, 6 meses de visitação e debates sobre produção sustentável de alimentos.

 
O Brasil é um dos países expositores e tem um estande na amostra, além de ser um dos gigantes produtores de alimentos do mundo.

No dia 1º de maio, dia do Trabalho, os italianos realizaram uma passeata em Milão para protestar contra a realização da exposição. Conforme a mídia, o protesto era contra os gastos aplicados na realização da Expo Milão, que "poderia ter melhor resultado se incentivasse empregos". Politizaram a questão, nada diferente do que foi feito no Brasil antes da Copa do Mundo de Futebol em 2014.

Se você leu este post e planeja ir para a Europa nos próximos meses, não deixe de visitar. Esse mega-evento só se realiza a cada 5 anos.


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domingo, 3 de maio de 2015

Placas de propaganda do varejo

Richard Jakubaszko
A propaganda do varejo brasileiro é feita por todo tipo de gente. Comunica e é errática, especialmente no vernáculo, e são verdadeiras obras primas do humor brasileiro:
Qual a melhor? O peido de frango ou o frango bovino?
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sábado, 2 de maio de 2015

Retrato do governo FHC, por ele próprio.

Richard Jakubaszko 
Anda "na moda" o ex-presidente FHC e outros tucanos emplumados recordando-se de "bons tempos" do governo deles. Não é bem verdade isso, e como os brasileiros possuem memória curta, reproduzo matéria do saudoso amigo Aloysio Biondi (in memoriam), publicada em fevereiro de 1997:

Retrato do governo FHC, por ele próprio.
Aloysio Biondi, via Folha de S.Paulo (atenção para a data!) 20/2/1997:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi200205.htm
O presidente Fernando Henrique Cardoso fez uma declaração espantosa em sua viagem à Itália. Pela primeira vez, desde que foi ministro da Fazenda no governo Itamar Franco, FHC admitiu que a “abertura” da economia brasileira às importações foi demasiado rápida. Isto é, FHC agora reconhece que toda a base de sua política econômica é um desastre, e está provocando a destruição da indústria brasileira, desempregando milhões de pessoas, reduzindo a produção nacional, “torrando” dólares, provocando rombos na balança comercial em virtude da explosão das importações – e, acrescente-se, vai provocar nova e grave onda recessiva no país.

Noticiada quase exclusivamente por esta Folha, a declaração de FHC foi, porém, acompanhada de falseamento da verdade histórica. O presidente da República atribuiu o “escancaramento” da economia brasileira ao governo Collor.

Na verdade, seu antecessor deu início ao processo. Mas, reconheça-se, a abertura do mercado, apresentada à sociedade como “nova política industrial”, seria feita de forma gradual, ao longo de alguns anos. Ou, sinteticamente, o imposto sobre as importações (tarifas) seria reduzido um pouco a cada ano, com o objetivo de “dar tempo” à indústria nacional de investir para produzir melhor e mais barato, enfrentando a concorrência estrangeira.

Quem mudou da noite para o dia as regras do jogo foi a equipe do governo FHC/BNDES, que reduziu para 10%, 3% ou mesmo 0% (isenção total de imposto) as tarifas sobre produtos importados. Em lugar de reconhecer os erros monumentais cometidos por ele próprio e sua arrogante equipe, o ex-sociólogo FHC limita-se a inculpar Collor. Nenhuma autocrítica, capaz de trazer a expectativa de mudanças nos rumos desastrosos da política econômica. E o país paga, dramática e bovinamente, o preço dos equívocos.


Com a declaração de FHC, como ficam os de-formadores de opinião que há três ou quatro anos vêm tecendo loas incontidas à “abertura”?

Mais recessão
Para conter o rombo da balança comercial, o governo já estuda medidas para reduzir o consumo, reduzir a produção, provocar mais recessão e desemprego. Absurdo. As importações – até de matérias-primas – cresceram por causa do “escancaramento” do mercado, e não por hipotética “explosão do consumo”. É preciso rever toda a política de importações. Combater as causas. Há meses esta coluna diz isso.

Viva a fraude – 1
Escândalo de bilhões de reais, na emissão de títulos por governadores e prefeitos. Dois pontos a destacar. As emissões foram autorizadas em regime de urgência, em poucos dias, pelo Senado. Leia-se: foram autorizações “políticas”, dentro dos conchavos entre o governo FHC e as lideranças do Senado. E mais: as emissões liberadas em regime de urgência pelo Banco Central, que dispensou até mesmo a apresentação de documentos por parte dos governadores ou prefeitos. Leia-se: ordens do Planalto. Estilo de governar.

Viva a fraude – 2
Investigações mostraram que parte do dinheiro das fraudes foi enviado para o exterior. Lembre-se: o procurador da República que investigou o caso PC Farias desabafou, na época, que o Banco Central não apenas “tolera” remessas ilegais, como dificulta as investigações da Justiça. A Receita Federal quis mudar leis, para dificultar fraudes. O Banco Central se opôs. O presidente da República apoiou o Banco Central. Estilo de governar.

Viva a dengue
O ministro Gustavo Krause teve dengue. Milhões de brasileiros tiveram dengue. O Ministério da Saúde lança campanha bilionária, inclusive com anúncios na tevê, para combater a doença, priorizando a erradicação do mosquito transmissor.

Está nos jornais (de 8 deste mês): “Por enquanto, a Fundação Nacional da Saúde ainda enfrenta problemas de recursos para o combate à dengue e à malária”. Aguarda, por exemplo, a liberação de verbas da ordem de R$4 milhões (atenção: milhões com m, ninharia) para a aquisição de inseticidas. Para matar o mosquito.

O governo FHC corta verbas para a saúde. Dengue, malária, tuberculose, leishmaniose são algumas doenças que estão de volta. Estilo Malan / Kandir / FHC de governar.

Reproduzido do blog Limpinho & Cheiroso: http://limpinhoecheiroso.com/2015/02/19/autocritica-no-final-de-seu-mandato-fhc-reconheceu-que-seu-governo-foi-um-desastre/