quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

A Igreja Católica não é criminosa

Richard Jakubaszko 
Discordo da opinião de que a Igreja Católica é criminosa ao inibir as ações de políticos e do governo em distribuir preservativos nos sertões do Brasil, e de que essa posição seria a principal causa do avanço da AIDS.

Não distribuem porque não dá voto, assim como esgoto não dá voto. Discordo, porque a disseminação da AIDS não é no sertão ou nos interiores do Brasil, está nas grandes cidades e, principalmente, nas turísticas e portuárias. Nas pequenas o moralismo é evidente, funciona como freio moderador para atos não sintonizados com o que a sociedade pensa, e onde todo mundo se conhece.
Nas grandes a juventude é livre – na condição de anônima - e pratica o que acha que pode, seja sexo ou drogas.

Lamentavelmente a AIDS avança silenciosamente no Brasil em todas as classes sociais e econômicas, dissimulada por falsas estatísticas que indicam sua involução, em especial doentes das classes C e D, acobertadas por médicos coniventes que mascaram diagnósticos. O modismo da elite intelectual brasileira de responsabilizar a Igreja pelo descontrole e avanço da AIDS incomoda-me como católico porque é mais uma hipocrisia brasileira, como tantas que grassam pelo país.

Apesar de a Igreja pactuar o sexo apenas no casamento – e para procriação da espécie – isso não foi obedecido. Então, o que se pretende agora? Que a Igreja contrarie e ignore o dogma milenar e recomende o preservativo? Adiantaria? Se os "fiéis" não praticaram o preceito antes, porque o fariam agora? Nem alguns padres usaram os preservativos, e estão com AIDS. Os cônjuges que traem jamais vão usar em casa, seria admitir culpa.

Ora, meus amigos de opinião contrária, saiam desse modismo e mudem de opinião. Não me envergonho de mudar de opinião, porque penso. Então, raciocinem comigo. Pedir que a Igreja Católica recomende o uso de camisinhas é um paradoxo e uma quimera, assim como pedir ao Ministro da Justiça que – ante a antiga legislação permissiva para armas de fogo – autorizasse usar silenciador para não incomodar o vizinho. O mesmo da recomendação malufiana: estupra, mas não mata!

O problema da AIDS está na matriz cultural do povo: macho não usa camisinha; macho come todas e dá 3 ou 4 por dia; usar camisinha é como chupar bala com papel; virgindade dá câncer; e a pior, quem passa AIDS é bicha, mulher não, porque tem vagina lubrificada etc. O avanço da AIDS só vai perder velocidade se o governo encarar o problema de frente: escola para todas as crianças – com educação sexual.

Em paralelo façamos campanhas realistas e agressivas, e não à base de desenho animado, ou com artistas globais e simpáticos, e apenas durante o Carnaval, hipócritas campanhas lights.

Tem de dizer que cada transa com parceiro novo é 50% de chance de pegar AIDS, porque o outro tem ou não tem o vírus. Na segunda transa mais 50% de chance, o que eleva a chance para 75%, e na terceira vez o sujeito está com 87,5% de chances de ter contraído AIDS. O risco é progressivo.

Quem sobe num avião com 50% de chances dele cair?

O paradigma implícito de que felicidade e sucesso está no sexo - apregoado na TV, cinema, nas revistas, deve ser repensado. Sexo quase explícito na novela das 8 faz mais pelo avanço da AIDS – como incentivo à prática – do que discurso de padre recomendando uso de camisinha para deter a epidemia.

Isso me lembra a história do marido que levou a esposa ao zoológico e mandou-a mostrar pernas e seios para o orangotango na jaula. Depois de alguns safanões o macacão derrubou a porta e avançou para a mulher enquanto o marido avisava: agora diz rápido prá ele que tá com enxaqueca, diz que tá com dor de cabeça, diz... 

Não vi nenhum padre proibir preservativo, no púlpito ou na TV. É fácil incentivar o jovem – que é inseguro – e excitá-lo, e depois culpar a Igreja porque não recomenda a camisinha. Não estou sugerindo que voltemos à era vitoriana, mas lembremos o que ocorreu como conseqüência da epidemia de sífilis, também fatal naquela época. Houve uma mudança de paradigma no comportamento da sociedade para deter o avanço da epidemia.

Não culpem a Igreja de proibir o uso – ela não proíbe explicitamente, nem adiantaria, apenas não incentiva o uso.

A ação e a postura da mídia, ao lado das indústrias do lazer e da moda, de estimular sedução, é a principal incentivadora da epidemia – junto com os hormônios próprios da idade. Não há diretor de filme ou novela que não tenha sua concepção individual e imperiosa necessidade de mostrar no mínimo uma cena caliente de sexo (acho estranho isso...).

Guardo em meu mais profundo íntimo uma plena identificação na contestação de inúmeros hábitos e tradições da sociedade humana, a exemplo da personagem Emília dos livros de Monteiro Lobato, onde aprendi minhas primeiras letras. 
Em paralelo, até por uma questão de caráter, e também da atividade jornalística, onde convive-se no dia-a-dia com opiniões contrárias, acredito piamente no embate das idéias como fator de crescimento individual e coletivo, e lamento profundamente o silêncio dos que se sentem agredidos pela postura dos críticos da Igreja Católica.

Há flagrante omissão, é uma fuga e um comportamento galináceo dos católicos brasileiros nesse assunto, em que comprovam o horror atávico aos temas polêmicos, o que também não deixa de ser uma autêntica hipocrisia.

Assim não dá, meus caros amigos a favor ou do contra, eu não sou lobo e nem vocês ovelhas, mas vocês estão turvando as águas dos rios da vida. Não é possível viver em cima do muro e conviver, sistematicamente, com uma no cravo e outra na ferradura.


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4 comentários:

  1. Olá, caro Richard,

    Excelente texto, com relação a camisinha, ela não é mais eficiente que a abstinência. Porém a abstinência é díficil, não é mesmo?

    O problema das campanhas é que elas incentivam a promiscuidade, um cara encontra uma mulher e vai transar com ela, como se fosse um bicho. É um reducionismo absurdo da sexualidade humana, até que nos tornamos animais irracionais.

    A campanha deve incentivar o uso do preservativo, sim. Porém, sem incentivar a promiscuidade. Embora a camisinha seja o método mais eficiente para se diminuir o HIV, sendo sexualmente ativo, ela pode falhar em 10%, ou mais, dos casos (Efetividade do preservativo contra DSTs, OMS,2004). Portanto incentivar a promiscuídade, é saturar a margem de segurança do preservativo.

    No meu blog trago informações sobre o tema.

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  2. Olá Bebeto,
    vc devia ter registrado o end. do seu blog. Richard

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  3. Caro Richard,

    É de causar assombro como voces fazem questão de defender,os erros causado pela religião,,,pricipalmente a cátolica que além de auxiliar em manter as pessoas na total ignorancia para melhor poder manipulalas, não é e nunca foi condenada pelos seus crimes que vem desde sua fundação a quase 2000 anos atrás, matando, roubando, se corrompendo com os governos de todas as épocas e ultilizando o nome de Deus e da Fé para justificar seus crimes,,,mas o mais absurdo, é que pessoas que notamos serem cultas como voce, dá total apoio a esses crimes, e não olha pra traz,, não sei se é seu caso mais a maioria das vezes por puro tradicionalismo religioso,,,,pessoas com a opniões iguais as suas é quem mantem a pedofilia, os estupros, os desvios e todos os crimes da igreja católica impunes até hoje,,,ou vc conhece algum padre, bispo ou ligados que estam presos pelos seus crimes,,,,espero que repense e ajude a acabar com a ignorancia pregada pela igreja.....

    Eduardo Ribeiro Dias
    Curitiba, PR

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  4. Olá Eduardo,
    esse artigo foi publicado em dezembro 2007 neste blog, mas já havia sido publicado em 2006 em vários sites, em resposta a críticas explícitas e irresponsáveis do médico Dráuzio Varella que, numa entrevista na revista Caros Amigos, chamara a Igreja Católica de "criminosa" por não recomendar o uso da camisinha.
    Ora, acho que a minha posição a respeito deixa bem clara a questão, sem defender e nem atacar a Igreja, que nada tem a ver com isso. Leia novamente o artigo, acho que sua leitura foi apressada e superficial, o debate proposto no artigo é sobre AIDS e de como acontecem as contaminações, e culpo muito mais a indústria do "entretenimento" do que a Igreja, e me diga se estou errado.
    Sobre a sua posição e opinião a respeito da Igreja Católica, em termos genéricos, há divergências históricas, meu caro leitor, apesar de conter algumas verdades sobre o mau uso da fé e do nome de Deus, e das ligações da Igreja com os poderosos, isso sempre foi assim, lamentavelmente.
    Quando vc diz que (sic) "pessoas com a opniões iguais as suas é quem mantem a pedofilia, os estupros, os desvios e todos os crimes da igreja católica impunes até hoje,,,ou vc conhece algum padre, bispo ou ligados que estam presos pelos seus crimes".
    Acho que vc se engana, Eduardo, redonda e quadradamente... Nos EUA há hoje pelo menos uma dúzia de padres presos por pedofilia, e outro tanto - ou mais - pelo mundo afora, informe-se que vc vai comprovar. São punidos, sim. E por vezes são também injustiçados como vc pode comprovar assistindo o filme "A dúvida", que concorreu a diversas categorias do Oscar neste ano de 2009. Isto porque padres são seres humanos, cometem erros, mas a instituição Igreja não pode ser responsabilizada pelos erros individuais de alguns de seus membros. Ficou claro?
    Lembro ainda que a Igreja Católica possui as melhores escolas de educação, em todos os níveis, inclusive faculdades como as Pontifícias Universidades Católicas, dessa forma, não se pode atribuir intenção da Igreja de manter seus fiéis na ignorância.
    Sua revolta, neste comentário, parece ter ligação com a excomungação da mãe-menina que foi estuprada pelo padrasto, não é? Realmente, uma fatalidade, e o desejo de alguns de aparecer sobre os holofotes da mídia. Bem, eu achava que essas coisas de excomunhão nem existiam mais... porém, como diz um amigo meu, antes a excomunhão do que uma boa fogueira, não é verdade? Sinal dos tempos, Eduardo.
    Apareça mais vezes no blog, mas debata, não venha batendo e dando pontapés, sim?
    De toda forma, obrigado por sua visita.

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