quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Jatropha curcas?

Richard Jakubaszko
O e-mail foi chegando na tela do meu computador e sua leitura revelou aos poucos o longo texto de um press release distribuído por assessoria de imprensa e relações públicas para jornais e revistas e TVs do mundo todo. 
Ao mesmo tempo me deixava intrigado e curiosíssimo. 
O texto, como todos os textos de todos os press releases, é de um otimismo avassalador. Trazia a solução definitiva para todas as problemáticas do mundo e mostrava a empresa que estava por trás de toda essa solucionática, a Bayer CropScience, da Alemanha. 
O Professor Friedrich Berschauer, Presidente do Comitê Diretivo da Bayer CropScience AG, na coletiva anual realizada em Monheim, em 6 de setembro último, revelou ao mundo a Jatropha curcas, miraculosa solução para o futuro dos biocombustíveis.  
Jatropha curcas – dizia o press release: “uma matéria prima alternativa para biodíesel. Em resposta à enorme demanda global por biocombustíveis, a Bayer CropScience está trabalhando formas de usar plantas que não tenham sido utilizadas na agricultura como matérias-primas economicamente eficientes. Uma dessas plantas é a Jatropha curcas, um arbusto oleaginoso com fruto não comestível que cresce predominantemente em regiões áridas. As sementes consistem em mais de 30% de óleo que pode ser usado para fazer um biodíesel pouco poluente que reduz as emissões de CO2. A vantagem é que este biodíesel pode ser usado em diversos motores no mundo inteiro sem a necessidade de modificação técnica extensiva. A Jatropha pode ser cultivada em áreas marginais nas regiões tropicais e subtropicais ou, em outras palavras, em áreas inadequadas para a produção de culturas para alimentos”. 
E concluía o Professor Berschauer: “esperamos que nossa pesquisa nessa área se torne uma contribuição fundamental para o desenvolvimento de uma indústria de biocombustível sustentável”. 
Fiquei ainda mais curioso, pois sei desde criancinha que, se é Bayer é bom! Mas que raios de planta é essa Jatropha curcas? Fui pesquisar, e descobri: para quem não sabe, a Jatropha curcas é o nosso já popular, mas ainda desconhecido pinhão manso, agora descoberto pelos alemães. 
Ora, a Bayer CropScience deve saber do que fala, e com certeza seu presidente mundial avaliou cuidadosamente o texto da mensagem, olhando a questão por diversos ângulos, seja no científico em geral e no agronômico em particular, além do financeiro, jurídico e mercadológico, sem esquecer do mais importante, o compromisso com os acionistas, que são os patrões da Bayer. 

A Bayer Ag não brinca em serviço, pensei comigo, é empresa centenária, já passou do faturamento de um bilhão de euros e caminha para os dois bilhões, conforme enfatizou seu chefe supremo na coletiva mencionada. Portanto, olha só a importância que eles dão para as nossas coisas, e que nós menosprezamos todos os dias. A informação transmitida no press release me levou a uma reflexão sobre a situação como um todo, e isso me proporcionou algumas conclusões, que vou dividir com os leitores: 

1 – conforme disse o Professor Berschauer, “A inovação e as novas tecnologias ajudarão a atender à crescente demanda por plantas produtoras de alimentos e de energia”. Portanto, concluí que a biotecnologia vai trazer inúmeras novidades no futuro próximo. Vai ser de assustar os ETs o que vem aí pela frente. Vai aparecer solução, na área da biotecnologia, que trará benefícios não apenas aos agricultores, ou à agroindústria, mas aos seres humanos. As vacinas são apenas uma avant premiére do que vem por aí. 

2 – a Bayer CropScience, nos revela o Professor Berschauer, iniciou um programa no ano 2000 com a finalidade de trazer para o mercado 26 novas substâncias ativas para proteção de culturas, previsto para até 2011. “Esperamos que estas substâncias tenham o potencial combinado de vendas para atingir o pico de aproximadamente 2 bilhões de euros”. 
Ou seja, é inegável que eles sabem ganhar dinheiro. Prova disso é de que com o café os alemães ganham muito mais dinheiro do que nós brasileiros, lá na Alemanha, sem plantar um único pé de café. 

Já falei disso no livro Marketing da terra (Editora UFV - 282 pg., 2005 – atenção: faça um autor feliz, adquira e leia esse livro, pelo amor ao seu negócio! ligue 11 3879.7099 ou mande e-mail para richardassociados@yahoo.com.br). 

3 – se a Bayer CropScience já reconhece o pinhão manso como uma das solucionáticas, a ponto de o presidente mundial da empresa colocar isso como fato relevante de seu discurso numa coletiva anual, o que devemos nós, os brasileiros, achar disso? 
Tenho ouvido e lido muita baboseira a respeito do futuro fracasso do biodíesel brasileiro, em paralelo sobre o etanol, de que é um ufanismo tupiniquim, e de que plantar biodíesel ou etanol vai tomar áreas de plantio de alimentos, e ainda de que no futuro só vai ter rapadura pra comer.
Sem contar o pessimismo da elite nacional, tucana ou não, de achar que “esse é o novo programa do presidente Lula para arrumar mais votos em 2010”. 

4 – até quando o brasileiro vai persistir com a mania de desvalorizar o que é nosso e só admirar e respeitar o que é dos gringos? Até quando vai vigorar a síndrome e o complexo de Macunaíma? Que herança maledeta! 

5 – olho vivo minha gente! Daqui a pouco, assim como já fizeram com a rapadura, algum gringo espertinho registra e patenteia o pinhão manso, ou melhor, a Jatropha curcas, e aí como vamos ficar? 

6 - já sei, com as curcas na mão!

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