Ciro Antonio Rosolem *.
Você sabe
o que é custo de compliance? Belo nome! Deve ser assim uma coisa
como um carrão, caro, vistoso, potente. Ou um novo modelo de
colhedeira. Talvez um primo do GPS. Só que é um pouco pior:
trata-se dos custos incorridos para cumprir a legislação, seja
tributária, trabalhista, ambiental, ou seja, custo “embutido”.
Nem sempre levado em conta pelos produtores rurais.
Mas estão lá! A
Scott Consultoria estima que pode variar de R$ 150,00 a pouco mais de
R$ 500,00 por hectare em produção. Não é pouco. Por exemplo, o
custo médio de produção de um hectare de soja para a próxima
safra está estimado de R$ 2.700,00 a R$ 3.000,00 pelo Instituto
Matogrossense de Economia Agrícola. Ou seja, o custo de compliance
representa mais de 5% do custo da soja. Só para lembrar, o custo de
consultoria não costuma passar de 3%. Pagamos mais pelos custos
embutidos que pelo conhecimento.
Muito bem.
Estamos terminando uma safra que foi, no mínimo, emocionante. Os
custos de implantação foram em dólares do ano passado, o valor de
venda no dólar atual. Os custos estavam muito apertados. Apertados
mesmo. Salvos pelo gongo da desvalorização cambial e das
produtividades generosas (viva São Pedro!). Mas, e a próxima safra?
Com dólar novo, espera-se uma rentabilidade muito baixa. Talvez não
suficiente para pagar o arrendamento! Na verdade, a perspectiva não
é boa para as duas próximas safras. Como fazer? O preço, por se
tratar de commodities, não dá pra mudar. Como cortar
custos? Usar menos tecnologia? Isso leva a menor produtividade, e
maior custo por unidade produzida, maior prejuízo. Diminuir a área?
E como pagar as dívidas que ficaram para trás?
Vejo dois
caminhos principais que não são e não devem ser excludentes. É
chegada a hora da verdade. Um deles depende só do agricultor. Sabe
aquele talhão que sempre produz pouco? Aquele mais arenoso? Está na
hora de acabar a brincadeira de produzir em solo sem aptidão para
culturas anuais. É melhor não produzir em áreas que resultam em
prejuízo. Sempre há uma Reserva Legal ou APP a compensar. Agora é
a hora! É hora de jogar na retranca. Empate é bom!
O outro
caminho depende de nossos governantes. É passado o tempo de diminuir
os custos de compliance. É fundamental adequar a legislação
trabalhista à realidade das fazendas. É preciso reestudar a
política tarifária. É fundamental que se comece a pagar o
agricultor pelos serviços ambientais, de modo a assegurar a
implantação da legislação ambiental sem onerar inocentes. É hora
de se tomar providências para diminuir drasticamente estes custos
“embutidos”, que corroem, como cupim, o interior das finanças do
agricultor.
* O autor é Vice-Presidente de Estudos do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e Professor Titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCA/Unesp Botucatu (SP).
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por participar, aguarde publicação de seu comentário.
Não publico ofensas pessoais e termos pejorativos. Não publico comentários de anônimos.
Registre seu nome na mensagem. Depois de digitar seu comentário clique na flechinha da janela "Comentar como", no "Selecionar perfil' e escolha "nome/URL"; na janela que vai abrir digite seu nome.
Se vc possui blog digite o endereço (link) completo na linha do URL, caso contrário deixe em branco.
Depois, clique em "publicar".
Se tiver gmail escolha "Google", pois o Google vai pedir a sua senha e autenticar o envio.