Paulo
Nogueira *
Seu
avô ganhou tanto dinheiro no país para o qual emigrou que você
mesmo nunca precisou trabalhar a sério.
Que
relação você teria com este país?
De
gratidão, com certeza.
Mas
não é este o caso de Giancarlo Civita, dono da Editora Abril, que
publica a infame Veja.
Gianca,
pela Veja e seus colunistas digitais e impressos, publica diariamente
insultos ao Brasil.
Somos
a Banânia, diz um deles, triunfal. Outro se gaba de ter mudado para
Miami. Este é tom geral: cusparadas no Brasil.
E
mais uma vez recordo o avô de Gianca, Victor Civita, fundador da
Abril.
Victor
tinha uma frase que gostava de repetir: “É mais fácil fazer
diferença no Hemisfério Sul que no Hemisfério Norte.”
Ele
pensava nele próprio.
Era
um italoamericano que, nos Estados Unidos, trabalhara como mecânico
e vendedor.
Teria
chances zero, ou abaixo de zero, de fazer qualquer coisa de sucesso
na área editorial ali, nos Estados Unidos. Não tinha talento para
isso, e sua educação era escassa.
E
então veio para o Brasil nos anos 1950. Aqui, as coisas são mais
fáceis. Montou um império, e não apenas editorial.
No
apogeu, fora as revistas, a Abril tinha uma rede de hotéis, editora
de livros, frigoríficos.
Ainda
em vida, VC, como era chamado, dividiu o patrimônio entre os filhos
Roberto e Richard. Temia que os dois destruíssem a Abril numa
eventual briga pela herança.
Roberto
ficou com as revistas, e Richard com as outras coisas. Richard,
atrapalhado, confuso, logo transformaria em nada a bandeja de pratas
que recebeu.
Roberto
demorou um pouco mais para fazer o mesmo que Richard. Editorialmente,
Roberto começou a matar a Veja quando Lula ganhou a eleição.
Uma
revista respeitada e guiada por conceitos universais de bom
jornalismo bruscamente se transformou num panfleto ignominioso de
direita tosca.
A
credibilidade foi destruída, e os leitores mais qualificados
intelectualmente abandonaram a revista.
A
Veja já estava de joelhos quando a internet transformou revista em
objeto em extinção.
Roberto
jamais esqueceu a frase do pai.
Numa
palestra para formandos em administração na USP, em meados da
década de 2 000, ele repetiu-a.
“É
mais fácil fazer diferença no Hemisfério Sul que no Hemisfério
Norte, como meu pai gostava de dizer.”
(Eu
estava presente naquele dia.)
Tudo
isso posto, como explicar o ódio do Brasil que emana da principal
revista de Giancarlo Civita?
Não
fosse o Brasil, ele talvez estivesse agora batalhando como vendedor
ou mecânico nos Estados Unidos, como o avô antes de se mudar para
São Paulo.
Pioramos
nós, ou foram os Civitas que pioraram?
Pensei
nisso ao ler um texto que repercutiu ontem no DCM. Um jovem blogueiro
britânico, depois de seis meses de Brasil, disse não entender a
rejeição dos brasileiros pelo próprio país, “de invejável
reputação no exterior”.
Dá
para ver em seu relato que o blogueiro circulou no país em ambientes
fortemente influenciados pela Veja.
Não
é o todo, naturalmente, mas uma parte que, sob a inspiração da
Veja, despreza o Brasil e idolatra os Estados Unidos.
Depois
de ler o blogueiro, me perguntei: por que, então, Giancarlo Civita
não faz o caminho inverso do seu avô e volta para os Estados
Unidos?
Graças
ao Brasil e aos brasileiros, ele e a família poderiam levar uma vida
mansa e luxuosa em Miami.
Sem
os Civitas, a Veja – no resto de tempo que a internet lhe permitir
— talvez pare de cuspir no Brasil e de jogar para o abismo a
autoestima dos brasileiros que a leem.
Os
Civitas fazem mal ao Brasil hoje. Uma vez que gratidão não têm
mesmo, que, pelo menos, poupem o país de sua pregação tão nociva,
tão injusta e tão desonesta.
*
o autor é jornalista
.
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