Apesar de os brasileiros estarem entre os cinco maiores
usuários de internet do mundo, o comércio eletrônico ainda é relativamente
pequeno no país. As pessoas utilizam cada vez mais a internet, mas ainda
compram pouco.
O mundo digital é a nova fronteira do comércio no mundo.
Todos os canais de comercialização de produtos e serviços estão sendo
impactados por essa revolução, cujo epicentro de expansão é a China.
Basta dizer que o valor de vendas on-line da China (US$ 620
bilhões) já supera a soma dos valores dos Estados Unidos (US$ 380 bilhões) e da
Europa (US$ 228 bilhões). Quatro das dez maiores empresas de internet do mundo
são chinesas: Alibaba, Tencent, Baidu e JD.com, que estão em uma disputa
cerrada com as gigantes americanas (Google, Facebook, Amazon e Ebay).
Se mantiverem o crescimento dos últimos cinco anos, as
empresas chinesas em breve vão se tornar as maiores do mundo, seja pelo
potencial em termos de pessoas atingidas, seja pela oportunidade dos novos
segmentos que estão surgindo.
O fenômeno chinês aconteceu graças ao fabuloso mercado: hoje
são 525 milhões de usuários de internet via celular, principal veículo da
compra on-line. Ele também decorre das especificidades culturais e linguísticas
do País, além da reserva de mercado criada pela política pública, que
privilegiou as empresas nacionais.
Mas o principal fator foram as ferramentas inteligentes e de
fácil acesso que as empresas chinesas desenvolveram no comércio digital. A
China digital é extremamente avançada e os consumidores têm sede de inovações e
de novas experiências.
O setor da alimentação é um ótimo exemplo. Na China, mais de
50% dos compradores eletrônicos adquiriram alimentos on-line nos últimos três
meses, contra menos de 10% nos EUA. A preferência dos chineses pela compra
on-line de alimentos se explica pelas dificuldades de locomoção nas grandes
cidades e pela desconfiança em relação à qualidade dos produtos oferecidos nos
veículos tradicionais.
Os consumidores usam suas redes sociais para buscar ofertas
on-line, comprar, ranquear produtos e serviços e, acima de tudo, dividir as
suas ações e percepções com os amigos.
Comprar on-line virou uma forma de fazer novos amigos e
ganhar status. Trata-se de uma compra hiper-socializada, muito mais abrangente
que a tradicional visita ao shopping no final de semana. Gostemos ou não, é
assim que o mundo está evoluindo, pelo menos na região que concentra a maior
parte da população.
A grande disputa dos próximos anos não vai se dar entre as
grandes do mundo físico, mas sim pelo domínio do mundo digital. E essa
transformação vai atingir em cheio a área de propaganda e marketing. A China
hoje compra cada vez mais pela internet e redes sociais, e não mais através de
visitas a lojas, anúncios de televisão, mídia impressa ou telefone. A
recomendação dos amigos já é o principal fator de decisão na compra on-line,
que é amplamente difundida nas redes sociais. Em vez da artista da novela, quem
vai aconselhar sobre o que e onde comprar são os nossos amigos, sejam eles
reais ou virtuais.
* o autor é especialista em questões globais do agronegócio.
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