Nesta semana, Fernando Henrique Cardoso, falando no evento português do Instituto “Gilmar Mendes”, disse que só a legitimidade do voto dá “condições para o poder ser exercido com a estabilidade necessária para cuidar das coisas que contam para o povo”.
Sinal tanto para Michel Temer – o homem que acha que ser impopular é virtude reformadora – quanto para a conspiração judicial que tem seu centro na Procuradoria Geral da República e em altas sombras do Judiciário.
Aqui mesmo, porém, do outro lado do Atlântico, surgiu mais que um sinal, quase uma explicitude, que pode revelar outro movimento de parte da elite que percebe os perigos que a “galinha dos ovos de ouro” Brasil pode estar correndo.
Registrado pelo El País, as falas de despedidas do empresário Roberto Setúbal, que deixa a posição de presidente do Banco Itaú acertou na testa a movimentação de João Dória Júnior para ser a estrela da corte tucana.
Cito-as no contexto, muito bem narrado pelo jornal espanhol, no qual apenas “rearrumo” os momentos:
O presidente do Itaú, Roberto Setúbal, decidiu dar um pitaco sobre a política brasileira nesta terça, que reverbera na corrida eleitoral para 2018. No palco de um evento promovido pelo banco em um hotel em São Paulo, foi questionado pelo economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, sobre a onda dos empresários na política. Setúbal respondeu que há espaço na política para aqueles que gostam do assunto como uma nova carreira.
“Mas no fim do dia, política é para políticos”, disse ele, que ainda completou. “Não dá para imaginar que um gestor competente vai solucionar os problemas do Brasil”, concluiu.
O executivo não nomeou diretamente o prefeito João Doria Jr., mas chamou a atenção por ter usado a expressão “gestor”, que é a marca de Doria desde a campanha. “Não sou político, sou gestor”, repetiu ele seguidamente, num bordão que ajudou a elegê-lo prefeito da capital paulista em primeiro turno. Setúbal afirmou que empresários podem ter um olhar diferente para a política. “Nesse sentido, melhora a gestão pública”. Mas deixou clara a falta de entusiasmo com essa saída.
Como não se conhece casos de megaempresários que tenha feito escaladas de dinheiro e poder falando algo gratuitamente, fica evidente o “contravapor” dado ao “Collor” paulistano.
Luís Nassif, numa análise com a dose de otimismo que sempre devemos nos injetar ao olhar a política – sem o que seria melhor ir para casa, cuidar apenas da vida pessoal – diz em sua ótima análise no GGN que as cúpulas das elites politico empresariais pode estar “se dando conta de que a destituição de uma presidente legitimamente eleita – mesmo com todos seus erros – e a tentativa de destruição de um partido político, desequilibraram todo o sistema político-institucional do país, eliminaram os amortecedores para a Lava Jato, permitindo a maior destruição de riqueza da história. E abrem espaço para que um poder maior se apresente. Vestindo coturnos”.
Um país sem instituições políticas, ou ao menos com elas exibidas publicamente como se fosse o valhacouto apenas dos piores bandidos, está sujeito a toda sorte de aventureiros.
E aventureiros são, inevitavelmente, desgraças para nações.
* o autor é jornalista, editor do blog Tijolaço.
Publicado originalmente no: http://www.tijolaco.com.br/blog/direita-comeca-ver-fria-em-que-se-meteu/
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Quando usa-se milhões desviados de empresas públicas para se eleger, onde está a LEGITIMIDADE?
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