quinta-feira, 31 de maio de 2018

Flores, em "time lapse"


Richard Jakubaszko 
Belíssimas flores, filmadas em “time lapse”, abrindo ou fechando, em vídeo enviado por Odo Primavesi, lá de São Carlos (SP), mostram como a natureza sorri para o sol e para a vida:
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terça-feira, 29 de maio de 2018

Para onde querem levar o Brasil?

Richard Jakubaszko 
Pela leitura on line dos principais jornais, a situação anda de mal a pior. Caminhamos a passos acelerados para o caos total, de forma irresponsável.
Não há governo, não há liderança, não há nenhum sinal e nada visível de que o governo caminhe em direção de uma solução do problema da greve dos caminhoneiros, que já afeta a todos os brasileiros. O Estadão de hoje pergunta em sua principal manchete: "O que mais eles querem?"
Respondo: querem fora Temer, querem uma mídia honesta e verdadeira, ao lado do povo, querem eleições livres e democráticas.


O governo Temer age como uma barata tonta, com declarações estapafúrdias de que vai prender os líderes da greve dos caminhoneiros, de que vai colocar o exército nas estradas, e de que entre os caminhoneiros há acusações de infiltrações no movimento, gente radical que impede a dispersão dos caminhões, desde que tiveram atendidas as reivindicações pelo governo federal, mas a greve vai se estendendo, e completamos o 8º dia de paralisação. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ver nota abaixo), na tentativa de defender seus associados, informa a mortandade de animais, especialmente aves, por fome, já que a ração não chega aos avicultores. Lá se foram mais de 70 milhões de aves, e há o perigo de se atingir 1 bilhão de galinhas nesse processo de bloqueio das estradas, e que já atinge níveis insuportáveis. Prejuízo de produtores rurais, de todos os tamanhos, que não serão jamais ressarcidos. Vai faltar carne de frango e ovos.

Os caminhoneiros até hoje tinham o apoio da população, inclusive de entidades associativas de todas as áreas atingidas, mas o movimento de greve derivou para um viés político com pitadas de radicalização insana. Aparentemente essa radicalização impede o fim da greve. Quem sabe o que está acontecendo? Sem informações reais, pois a mídia sonega a realidade, estamos em guerra, e nesta, como sabemos, a primeira vítima é a verdade. Os desencontros de notícias geram desinformação, e até mesmo a Polícia Rodoviária Federal se omite, simplesmente parou de registrar informações para a mídia.


O governo federal mostra toda a sua incompetência para gerir a crise, desde o início isso ficou evidente. Agora, politicamente, o governo Temer está de joelhos, nem o exército atendeu a ordem presidencial de intervir e liberar as estradas. O caos vai crescendo.

Levaremos semanas, ou meses, em alguns segmentos, para recolocar a vida em ordem. Prejuízos imensos, de produtores, cooperativas agrícolas, atacadistas, comércio em geral, postos de gasolina, prenunciando uma apoteótica quebradeira de muita gente. Na sequência, depois que a poeira abaixar, continuaremos com o desabastecimento, inflação com recessão, e mais crise econômica. Tudo isso em um ano eleitoral que se pronunciava tumultuado, e que promete muito mais emoções em termos de malvadezas. Os radicais, grevistas e não grevistas, já pedem ensandecidos intervenção militar, como se isso fosse resolver qualquer dos problemas em andamento ou os que estão a caminho.

Aturdidos, vários segmentes urbanos (universidades, escolas, correios) e mesmo de propriedades rurais começam a paralisar atividades, pela impossibilidade de reunir os trabalhadores nos seus locais de trabalho, devido à falta de combustíveis que sufoca o transporte público. Vai ser um trabalho hercúleo recompor a normalidade do país. E falta pouco para começarem os assaltos famélicos, espero que nem comecem, pois meu otimismo deseja acreditar que as fofocas midiatizadas de que o movimento dos caminhoneiros começa a arrefecer. Não sei, tenho dúvidas, e o caos está chegando...

Espero que o bom senso volte a prevalecer. Não há condições mínimas de a sociedade voltar à normalidade diante dos radicalismos e omissões. Os aproveitadores e oportunistas, tanto do ponto de vista político como econômico, começam a mostrar suas garras. O mercadismo não pode prevalecer sobre o bom senso.

Alguém aí deseja ver o Brasil normal e com o povo em paz? Mas, para onde querem levar o Brasil desta vez? Fora Temer, parece ser um bom começo... Logo estaremos gritando "Fora Maia", mas o Temer, nesse caso, já terá ido embora, levando com ele o tucano Pedro Parente, rolabosta causador dessa merda que presenciamos.

COMUNICADO DA ABPA
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informa que os bloqueios dos caminhoneiros seguem impedindo o fluxo de produtos, aves e ração para a avicultura e a suinocultura do Brasil.

Segundo levantamento feito pela entidade junto a seus associados, caminhões com rações, insumos para a produção da alimentação animal (como milho e soja) e outros produtos são impedidos de circular em mais de 300 pontos de 22 estados pelo País.

Além dos bloqueios, há relatos de ameaças a motoristas que querem deixar a paralisação.

A mortandade continua crescendo nos polos de produção pelo país. Desde o início da greve, são quase 70 milhões de aves mortas. Volumes próximos de 120 mil toneladas de carne de frango e de carne suína deixaram de ser exportados desde o início da greve.

Os animais mortos são colocados em composteiras nas próprias propriedades, mas o sistema já está no limite. O risco ambiental e de saúde pública é crescente.

Cerca de 1 bilhão de aves e 20 milhões de suínos ainda estão em risco de morte como consequência direta dos bloqueios.

Todos os esforços estão sendo realizados por avicultores, técnicos do setor, colaboradores da cadeia produtiva (inclusive motoristas que não concordam com a continuidade da greve) para diminuir os graves impactos causados pela paralisação. A situação é alarmante para todo o setor. A continuação dos bloqueios para produtos alimentícios rações e animais são um grave risco ao País e exigem uma ação forte e imediata do governo. Não é mais possível esperar.

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segunda-feira, 28 de maio de 2018

E por ser será

Carlos Eduardo Florence *
O sol castigava de manso os passos calmos de Joca no aconchego do sozinho. Acomoda-se para enfiar isca para dourado sabido, que vinha driblando seus critérios de conhecedor das artimanhas dos matreiros. Nascera e fora criado naquelas bandas e margens de rio, acasalou com Rosinha, vizinha dos aconchegos, com os conformes todos dos flertes, das flores e das vergonhas pensadas e das apalpadas, enterrou pai e cuidava da mãe, educou filharada forte e sadia e sabia que seu destino e suas necessidades estavam arribando nas chegadas horas que as águas corridas contavam. Olhou o tempo manso dos temperamentos das corredeiras sabidas aonde se lê os futuros e as intenções dos porvires. Joca chegara da Venda do Cato e seguiu direto para a ceva gorda da curva brava, na esperança de arrematar as pendências com o peixe caprichoso, com quem se havia em teimas há mais dos esquecidos.

Por que pescava na mesma rotina branda e viciada, no mesmo lugar e por tantos janeiros? Antes de se saber gente, acompanhava o pai repondo o jacá de milho na mesma ceva. Ali era o ponto de encontro com seus consigos mais íntimos, das tratativas de conformar as realidades dos passados com esperanças dos futuros. As águas corridas são exatamente a vida, ruminava Joca. Aquelas já passadas, que seguiram destino acabado, deixaram marcas boas e más para preencher um presente no qual se pesca os desejos, as realidades, os valores, as posses, as ambições, os afetos, as raivas e, para não ir mais longe, as imaginações todas que crescem, querendo ou não, nestes pensamentos xucros que fantasiavam as manias. Pretendia criar os destinos, mas as águas encharcavam o futuro nas correntezas por onde restava deixar correr a canoa e remar da proa para não emborcar com as marolas.

Acorda Joca, ponha sentido no rio e na vara solta. Fisgou o dourado, dá linha para que o tranco não arruíne a estorva e arrebente. Ali se forma uma dupla singular, unívoca, em que o jogo é imaginar o próximo lance do adversário. Não é o que cada um quer que conta, mas intento do outro. O dourado, na folga dada à linha, apruma para a quiçassa de tronqueiras aonde Joca sabe o destino. Os desafios empacam num empatado sem volta a espera da iniciativa do desafeto. O sol começa a ficar cansado, boceja e se prepara para puxar as montanhas mais altas sobre si, com medo do sereno, e para dormir mais justo. A conversa entre o peixe e Joca corre pela linha tensa sem se chegar à conclusão dos arremates.

A boca da noite fechou-se e o fisgado, esperto, sabia-se mais manhoso, neste então, do que Joca, que não poderia mais ouvir os seus pensamentos no escuro, tarimbado, abandona-se manso na correnteza e deixa a linha ir se emaranhando pelas taboas despencadas ao acaso. Fincada, era só puxar a linha e arrebentar. Danou-se. Joca, conformado, desestica a luta para findar só no outro sábado. Cortou linha, recolheu tralha. Andar andeja, que a sorte se deu transversa. Tresanda as sanhas nas desavenças da beira do rio e, por último, em caminhando, resta remate de sonhar com os carinhos de Rosinha na prontidão do esperado, depois do abanhado e dos salpicos das águas de cheiro que, pelo menos aos sábados, o destino nunca deixou de provar e prover. Ah! Rosa. Rosinha; assanha que hoje é sábado.

* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos.
Publicado no https://carloseduardoflorence.blogspot.com.br/

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domingo, 27 de maio de 2018

Carta aberta ao Povo Brasileiro

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa 150 empresas e quase 100% do setor de aves e de suínos do Brasil, informa que não tem poupado esforços para garantir o bem-estar animal e minimizar as consequências da greve dos caminhoneiros.

Por falta de condições de transporte pelas rodovias brasileiras, milhares de toneladas de alimentos estão ameaçadas de perderem prazo de validade, enquanto o consumidor já enfrenta a escassez de produtos.

Neste domingo, 27, sétimo dia de paralisação, a associação lamenta anunciar que a mortandade animal já é uma realidade devido à falta de condições minimamente aceitáveis de espaço e quantidade de ração. Um bilhão de aves e 20 milhões de suínos estão recebendo alimentação insuficiente.

Com risco de canibalização e condições críticas para os animais, 64 milhões de aves adultas e pintinhos já morreram, e um número maior deverá ser sacrificado em cumprimento às recomendações da Organização Mundial de Saúde Animal e das normas sanitárias vigentes no Brasil. Milhões de suínos também estão ameaçados.

A mortandade cria uma grave barreira para a recuperação da produção do setor nas próximas semanas e meses. As carnes suína, de frango e os ovos, proteínas que antes eram abundantes e com preços acessíveis, poderão se tornar significativamente mais caras ao consumidor caso a greve se estenda ainda mais. O velho fantasma da inflação poderá assombrar o país, pelo menos até que ocorra o restabelecimento da produção. Os menos favorecidos serão os mais prejudicados.

Os reflexos sociais, ambientais e econômicos são incalculáveis. Hoje, a ABPA registrou 167 plantas frigoríficas de aves e suínos paradas. Mais de 234 mil trabalhadores estão com atividades suspensas.

O desabastecimento de alimentos para o consumidor também já é fato, uma vez que milhares de toneladas de carnes e outros produtos deixaram de ser transportados para os centros de distribuição desde o dia 21 de maio, data do início da greve. Outras milhares de toneladas não foram produzidas pelas fábricas, que foram obrigadas a paralisar a produção por não terem mais onde estocar produtos

A situação é caótica não só para o mercado nacional. Aproximadamente 100 mil toneladas de carne de aves e de suínos deixaram de ser exportadas na última semana. O impacto na balança comercial já é estimado em 350 milhões de dólares.

Diante desse quadro de calamidade no setor, apelamos para a sensibilidade das lideranças do movimento grevista dos caminhoneiros, da Polícia Federal, das polícias estaduais e municipais pela liberação da passagem dos caminhões carregados com ração, cargas vivas, carnes e outros alimentos em caminhões frigoríficos.

É importante que todos saibam: após o final da greve, a regularização do abastecimento de alimentos para a população poderá levar até dois meses!

Uma intervenção rápida do Governo brasileiro é urgente para evitar a continuidade da mortandade de milhões de animais, o desabastecimento dos brasileiros, problemas de saúde pública, danos ao meio ambiente e possível fechamento de agroindústrias e cooperativas, que empregam centenas de milhares de brasileiros e movimentam a economia nacional e o comércio internacional do país.

Associação Brasileira de Proteína Animal - ABPA

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A gasolina vai voltar, mas a crise não vai terminar

Fernando Brito *
Charge de Jota Camelo
Ainda secos, é possível que segunda ou terça-feira já comece a se normalizar a situação dos postos de combustíveis.

O que não quer dizer que, em alguma outra coisa que não sejam as bombas de gasolina algo possa ser descrito como “normal”.

Os remanescentes do PSDB, aquartelados nos órgãos de imprensa, levantarão barricadas pela permanência de Pedro Parente na direção da Petrobras, defendendo os valores absolutos da “liberdade de mercado” contra o “dragão dos impostos” dos quais, afinal, apesar de todos os desvios e encanamentos do rentismo, ainda pingam algumas gotas para os serviços à população.

A Globo, paradoxalmente, vai atacar os empresários de transporte, preocupada com a agressividade crescente da extrema-direita liderada na política por Jair Bolsonaro, numa tentativa de criar uma “mini Lava Jato” do bloqueio das estradas, com poucas chances de êxito. E atacando a anunciada greve dos petroleiros, prevista para quarta feira e que tem como pauta a redução do preço do gás, gasolina e diesel e a demissão de Pedro Parente.

No Congresso, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira vão pegar carona na insatisfação da classe média com o agonizante Michel Temer e com os preços dos combustíveis. Alckmin mantém um silêncio compatível com sua situação nas pesquisas: sepulcral. Até seu principal porta-voz na mídia, Merval Pereira, admite hoje que a situação do partido é de “falência“. Claro que ele atribui a mesma situação ao PT, embora não haja nenhuma palavra sobre como um partido falido pode ter seu líder, preso e difamado, disparado à frente das enquetes eleitorais.

Teresa Cruvinel, no JB, observa, com razão, que “o governo zerou a credibilidade e ficou completamente refém do Congresso. A conta alta vem ai, apontando para o fundo do poço”.

Com todos os desvios que a especulação pode sinalizar, é certo que haverá uma deterioração da já precária situação da economia. Virão aí rebaixamentos seguidos das previsões de crescimento do PIB, elevação – ainda que moderada pela recessão – dos índices de inflação e uma tendência de elevação de juros que pode, adiante, ser grave.

A crise política só vai arrefecer se o país retomar ao menos o rumo do aquecimento da economia.

Do contrário, viveremos o que é bem expresso num velho ditado popular: casa onde falta o pão todo mundo discute e ninguém tem razão.

* o autor é jornalista e editor do blog Tijolaço.
Publicado em http://www.tijolaco.com.br/blog/gasolina-vai-voltar-mas-crise-nao-vai-terminar/

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sábado, 26 de maio de 2018

De completamente imprevisível, o cenário passou a completamente inacreditável.


Gustavo Conde *
Essa greve dos caminhoneiros já entra para a história como a mais onerosa para o país. Nunca uma greve custou tanto em tão pouco tempo. E isso é fácil de explicar: um governo amador que mal consegue fazer a gestão básica dos modais públicos do país, não conseguiria mesmo administrar uma crise de verdade, com os agentes que escapam ao núcleo das chantagens comezinhas de Brasília.

As imagens de milhões de litros de leite sendo derramados por falta de transporte são muito fortes. Esse tipo de representação visual entra com muita força no imaginário popular. A primeira criatura a perceber isso atende pelo nome de Rede Globo. Ela sabe que a situação escapou ao controle e corre para obter o domínio simbólico deste princípio de catarse social.

Este é o negócio principal da Rede Globo. Não é novela, não é futebol, não é reality show: é a posse da narrativa simbólica que organiza a vida social do país. Imagens adicionais chocantes como filas quilométricas de carros para abastecimento, supermercados vazios e racionados, caos no trânsito, desabastecimento generalizado, são a matéria-prima de um jornalismo que produz muita receita pressionando e protegendo governos, num morde-e-assopra visceral e chantagista.

O problema é que esse volume de imagens não é mais exclusividade desta ‘senhora’ de 55 anos que domina a receita publicitária no país. Elas ganham as redes e seguem um curso no limite do imponderável. A Globo, no mínimo, tem que lutar mais por essa propriedade visual.

Noves fora, a greve de caminhoneiros é um produto sensacional. Fosse no governo Dilma, já teríamos um milhão de manifestoches invadindo a Avenida Paulista com suas selfies insuportáveis ao lado de policiais, caminhoneiros e frentistas de postos de gasolina.

‘Pena’ que o governo de agora é o governo Temer. Com Temer, a Globo não sabe muito bem como proceder. Criminosos, em geral, se respeitam. A rigor, a Globo está acumulando energia para as eleições. Sabe que o candidato ideal ainda não apareceu e teme que ele não apareça nunca.

Mas o mais interessante dessa história toda é que o mercado entendeu o nível de submundo intelectual que habita o governo que ele patrocina com docilidade e esmero. Sem meias palavras: investidores ficaram de queixo caído com a desorganização do governo na gestão da política de preços da Petrobras, estopim evidente da greve.

Quando o investidor fica desconfiado, parceiro, é melhor pegar o banquinho e cair fora. Ainda mais em um governo que depende do investidor como o cachorrinho feliz depende do rabo. Eles estão chocados com a incompetência do governo. O valor dos prejuízos que essa greve imporá ao sistema é de difícil precisão. Mas é da ordem de um dígito gordo do PIB e isso já é consenso.

A paralisação de produção de veículos é o termômetro da catástrofe. Não tenho memória de um anúncio desse tipo, nem no regime militar, nem no governo Sarney, nem no desastroso segundo mandato de FHC, a referência histórica mais recente de catástrofe gerencial.

Os investidores usaram uma palavra forte para a situação política do governo Temer: esfacelamento. Quando palavras assim aparecem de maneira espontânea, é porque realmente a realidade tomou um novo e desconhecido rumo.

A essa altura, o mercado, que pode ser tudo nesse mundo mas não é bobo, já deve estar fazendo contas. Deve estar lembrando-se de como Lula gerenciava crises desse tipo: com muita conversa e muita lábia – e relativa transparência.

Esse sentimento – do mercado – é muito perigoso para o golpe. E entendo que seja esse o cálculo que Lula faz e ninguém entende: mais cedo ou mais tarde, os investidores irão querer alguém com cérebro de volta ao poder.

Essa agenda de desinvestimento – que nome horrível –, de venda de ativos, de política suicida de preços é algo que corrói o próprio sistema por dentro. O mercado, por assim dizer e num espasmo de lucidez relativa, vai entendendo que sem um governo forte, a movimentação do capital não acontece.

É meio paradoxal, mas o mercado é como o inconsciente: não tem vínculos morais com absolutamente nada, muito menos com princípios teóricos do neoliberalismo. O mercado quer dinheiro em movimento, fenômeno sem o qual não existe o lucro nem o acúmulo desse lucro.

Uma greve de caminhoneiros no Brasil tem a representação perfeita para esse dilema: é o transporte de riquezas que ficou estancado e em meros cinco dias arrasou a economia do país, com prejuízos incalculáveis.

Afora as coincidências terríveis (o nome do líder dos caminhoneiros é Dilmar, um piloto de Fórmula Truck) e as improvisações grotescas, essa greve marca o momento mais dramático do governo Temer. Nem o escândalo da JBS gerou tanta tensão e tanta insegurança na cúpula golpista Temer-Padilha-Moreira.

A performance de Pedro Parente, Rodrigo Maia, Eduardo Guardia e demais agentes da subserviência confusa também mereceu o prêmio Framboesa de Ouro. Poucas vezes vi um governo bater tanta cabeça – nem nos ‘áureos’ tempos de FHC.

O desfecho desse capítulo do golpe ainda não está definido. O problema central é que o movimento grevista não tem um líder. A palavra dos negociadores do movimento vale tanto quanto a palavra do governo: nada. Isso deixa a conjuntura relegada a uma deriva inédita: de completamente imprevisível, o cenário passou a ser completamente inacreditável.

* o autor é linguista, colunista do 247 e apresentador do Programa Pocket Show da Resistência Democrática pela TV 247
Publicado no https://www.brasil247.com/pt/colunistas/gustavoconde/356130/De-completamente-imprevis%C3%ADvel-o-cen%C3%A1rio-passou-a-completamente-inacredit%C3%A1vel.htm

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