terça-feira, 21 de agosto de 2018

Desfeitando

Carlos Eduardo Florence *
Assim foi como procedeu conversa entre os desencontrados dos desatinos e dos proseados nas rodas de espreitas às socapas, daqueles que bebericavam café requentado e cachaça desaforada de ruim em boca. E nestes plausíveis do nascer do dia, não muito claros para o seu desconforme, foi que Joca tentou criar artimanha de por sentido nos redemoinhos dos solitários do consigo, cabisbaixado, remoendo desditas engravidadas pelos desatinos calhordas, jogadas nos tropeços dos seus caminhos para abusar de não dar formosura de ciência nas querências do futuro. “Se aroeira brava sofresse solidão, não se aprestava para moirão de porteira velha”, assunta, no resfolego do repente, Joca, sem rastro ou métrica de definição ajustada. O porvir que vagueava tal bando de maritacas agitadas e gritadeiras, em roça de milho verde, se pôs nas consoantes das ideias, igualados das embiras trançadas, como bornal de mantimentos onde se joga tudo nos distúrbios e nunca se encontra nada nas carências das precisões.

O beija-flor agitou suas intemperanças no caminho de destravar os encontros das tristezas com a solidão e pairou no ar para enfeitar a brisa. O riacho se fez de brioso, aprumou pelas cascatas se escondendo entre as pedras mais salientes e Joca se pôs a levantar os pensamentos para os lados das sinas melindrosas.


E não adiantava este viajar pelos nadas dos destinos, se o cavalo, único parceiro de prosa séria naqueles espigões isolados de serras bravas, não se arvorasse no rumo certo, em marcha estradeira, no intento do caboclo poder, nos entremeios, salpicar fantasias espicaçadas no arremedo de solução. Naquele toadão mal tinha arremedo de tempo de por reparo bem adornado na natureza das beiradas enriachadas que cortavam o caminhando, misturando os internos do seu eu com as quebradas abonitadas até aonde a vista cegueiva as vistas turvas. E era nestes perdidos que ele bolinava as farturas das dúvidas. O moço só arremediava nas tramuras de se empertigar por desaforo, amor embuchado e cavalo redomão, como despalpitava Sobroncio das Remeleras, que apaziguou de morrer beirando os cem.

No meio destes transviados, Joca sonhava com um dia, ninguém sabe dos quantos, em que com a mesma destreza de armar vara de pescar magote, naquelas corredeiras frias, sem tempo medido de se soltar livre em alegria, como se linha de pescar fosse para buscar fundo nas locas das pedras batidas, nos propósitos de acabar de vez com aquele medo amamentador de acanhamento vergonhoso e se arrematar só na coragem atiçada como pinga de curandeiro usada nas artimanhas. E o alazão, que lia pensamento no perfume dos ventos que carregavam os cantos da seriema do cerrado, virou nos pés arribando atalho na direção da Toca Grande, aonde a sorte derramou Rosinha desde os tempos esquecidos. Joca poderia, assim, até que enfim, gargalhar coragem de amor declarado, na barra da candura da Rosinha, pois o alazão definiu rumo e prosa. Joca não contradisse nem esmoreceu de definhar no porvir.

Mas, pois, como se falou, o resto só eles deram conta e fica para outro dia para os demais proseados com tempo de ser então tragado com cachaça, serventia e pé na estrada. Assim foi.

* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA – Associação dos Misturadores de Adubos.
Publicado no https://carloseduardoflorence.blogspot.com.br/

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