sábado, 8 de setembro de 2012

Carta resposta do MMA aos 18 cientistas brasileiros

Richard Jakubaszko
Registro abaixo a retórica e inconsequente carta-resposta do Ministério do Meio Ambiente ao "Carta aberta à presidente Dilma", esta publicada por este blog em maio último e que poderá ser lida no link: http://richardjakubaszko.blogspot.com.br/2012/05/carta-aberta-presidente-dilma-rousseff.html
Não há conteúdo, nem no discurso tradicional dos ambientalistas, e muito menos na defesa dos chavões dos discursos.
 "KLUTE OU KLINK, O PASSADO CONDENA"
Criação - Maurício Porto

Por Editoria do Alerta em Rede
24 de agosto de 2012

O secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Carlos Augusto Klink, enviou ao climatologista Ricardo Felício, professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), uma réplica à carta aberta enviada à presidente Dilma Rousseff por 18 cientistas brasileiros, alertando-a sobre a desorientada política seguida pelo País no tocante às questões climáticas. Na resposta, Klink, um dos graduados representantes do aparato ambientalista internacional inseridos no governo brasileiro, desqualifica e repudia o documento dos cientistas, ao mesmo tempo em que denota a orientação internacionalista que tem influenciado a política nacional para os assuntos climáticos, em um tom que destoa da reorientação que o Governo Dilma tem conferido à sua política ambiental.

Encaminhada por Felício à presidente e divulgada publicamente, antes da conferência Rio+20, a carta aberta teve ampla repercussão, sendo comentada pela mídia que cobria o evento e postada nos sítios de entidades científicas, como a Sociedade Brasileira de Geofísica e a Associação Brasileira de Estudos do Quaternário. Entre os signatários, destacavam-se o geólogo Kenitiro Suguio, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), os climatologistas Luiz Carlos Molion, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o geólogo João Wagner Alencar Castro, chefe do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional, e outros. O geólogo Geraldo Luís Lino, do conselho editorial deste sítio, também integrou a lista.

Na réplica, o secretário Klink faz o que chama uma “refutação veemente” do argumento principal da carta aberta, o de que as discussões sobre as mudanças climáticas não estão sendo pautadas por motivações científicas, mas ideológicas, políticas, econômicas e acadêmicas restritas. Em 29 parágrafos, ele produz um verdadeiro monumento ao pensamento burocrático, com argumentos redundantes e circulares e um texto abstruso, que, em sua maior parte, não apenas não oferece qualquer contestação séria à argumentação dos cientistas, como se limita a repetir chavões e lugares comuns retirados de textos padrões da literatura ambientalista.

Um exemplo é o parágrafo 22, que afirma:

Deve-se ter em conta que a base científica sobre mudança do clima está relacionada ao entendimento mais abrangente e profundo da variabilidade climática natural. Nesse sentido, a variabilidade climática natural deve ser entendida no contexto das variações naturais relacionadas a causas naturais. Por outro lado, a Mudança do Clima é influenciada pelo elemento antrópico, o qual constitui o foco da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. O IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas] leva em consideração elementos antrópicos e naturais conjuntamente.

De fato, é difícil entender o que autor quis dizer ao afirmar que “a variabilidade climática natural deve ser entendida no contexto das variações naturais relacionadas a causas naturais”. Este simples trecho sugere que a missiva deve ter sido composta com o clássico recurso “ctrl-c + ctrl-v”, e de forma algo descuidada, pois é pouco crível que um cientista que detém um Ph.D. em Biologia não tenha percebido a falta de sentido da frase.

Entretanto, apesar da “veemente” refutação de Klink à carta aberta, uma leitura atenta da sua réplica permite demonstrar que, como afirma o texto dos cientistas, a política climática nacional tem, mesmo, motivações alheias aos fatos científicos. Ele próprio admite, no parágrafo 24:

(…) Com o atual nível de conhecimento científico não é possível separar de maneira categórica o que pode ser atribuído à mudança do clima e o que advém de fenômeno natural. Ainda não é possível associar categoricamente os fenômenos atmosféricos severos ao aquecimento global. E reconhece-se também que os avanços científicos constatados pelo IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas], como aqueles utilizados nos exemplos citados anteriormente, por vezes são utilizados de maneira equivocada ou deturpada por aqueles que desejam tornar o fenômeno do aquecimento global como um guarda-chuva para todos os tipos de problemas ambientais. O Governo Brasileiro não se associa a esse tipo de conduta baseada em visão alarmista. Pelo contrário, se pauta na análise serena e embasada dos fatos políticos e científicos associados ao fenômeno.

A despeito das incertezas, o secretário justifica a linha de ação adotada pelo governo com base no famigerado “Princípio da Precaução”, um dos dogmas centrais da ideologia ambientalista, que assume a existência de riscos e a necessidade de ações preventivas, mesmo sem evidências concretas que fundamentem as restrições tecnológicas e econômicas associadas à aplicação do princípio. Como afirma o parágrafo 5:

De acordo com o Princípio da Precaução constante na Convenção [Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, da qual o autor se jacta de o Brasil ter sido o primeiro signatário - n.e.], as Partes devem adotar medidas de precaução para prever, evitar ou minimizar as causas da mudança do clima e mitigar seus efeitos negativos. Quando surgirem ameaças de danos sérios ou irreversíveis, a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar essas medidas, levando em conta que as políticas e medidas adotadas para enfrentar a mudança do clima devem ser eficazes em função dos custos, de modo a assegurar benefícios mundiais ao menor custo possível.

Considerando-se que as fontes energéticas favorecidas pelos ambientalistas para substituir os combustíveis fósseis, especialmente, a energia solar e a eólica, têm custos bem superiores às fontes tradicionais, tal argumento demonstra, de forma inequívoca, as contradições da argumentação ambientalista, na qual Klink se baseia.

No parágrafo 8, o secretário deixa antever uma das principais motivações do governo brasileiro para a adesão incondicional à agenda da “descarbonização” da economia, ao afirmar:

O Brasil apresenta um enorme potencial para se firmar como uma economia de baixo carbono, pois as iniciativas com maior potencial de redução de emissões estão nos setores de mudança do uso da terra e florestas e na agropecuária, que são setores responsáveis pela maior parte das emissões nacionais, diferentemente dos países industrializados e grandes emissores como China e Índia, que terão que diminuir a dependência dos combustíveis fósseis em sua matriz energética.

Ou seja, parece evidente uma intenção de se aproveitar uma “vantagem comparativa” do País, para atrair interesses e recursos financeiros para uma “economia de baixo carbono” baseada na extração de recursos naturais – estratégia que, se for plenamente implementada, poderá agravar ainda mais a já crítica tendência de desindustrialização precoce que acomete a economia nacional.

No parágrafo seguinte, Klink reforça tal impressão, ao mencionar dos recentes relatórios elaborados para estimar tais potenciais da economia brasileira: Caminhos para uma Economia de Baixa Emissão de Carbono no Brasil, realizado pela Consultoria McKinsey & Company, e Estudo de Baixo Carbono para o Brasil, pelo Banco Mundial. A origem dos estudos denota que as autoridades nacionais estão engajando firmemente o País nessa agenda internacional ditada pelos centros de comando do aparato ambientalista, em grande medida, motivadas por uma visão financeira de curto alcance, que desconsidera os sérios impactos negativos de tal orientação.

Embora não seja possível fazer um prognóstico sobre os rumos da política climática nacional, a presença de Klink na secretaria do MMA responsável por ela sugere que a ênfase “aquecimentista” ainda se fará sentir por algum tempo.

Por seu lado, o secretário tem um vasto currículo de atuação internacional no setor, junto a ONGs importantes e órgãos como o Banco Mundial, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e outros. Ele é cofundador e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), filial do Woods Hole Research Center (WHRC) estadunidense, uma das ONGs mais ativas na divulgação de notícias sensacionalistas sobre a “devastação” da Amazônia. O WHRC foi fundado pelo biólogo George M. Woodwell, um dos principais mentores das campanhas ambientalistas mais visíveis e bem-sucedidas, desde o banimento do DDT, nas décadas de 1960-1970, passando pelo banimento dos clorofluorcarbonos (CFCs), na década seguinte, e pela campanha de promoção do aquecimento global como emergência global, que resultou na criação do IPCC e do estabelecimento do Protocolo de Kyoto.

Além disso, Klink foi coordenador de programas na The Nature Conservancy do Brasil, filial de uma das ONGs ambientalistas mais poderosas do mundo, e é membro do comitê científico do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). Este último, criado em 1998, se dedica à “capacitação e formação de pessoas ligadas à conservação ambiental”, sendo uma organização típica do aparato ambientalista, tendo em sua diretoria atual representantes de ONGs estreitamente vinculadas ao ambientalismo internacional, como o Instituto Socioambiental (ISA) e o Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC). Entre os seus financiadores, destacam-se a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Fundação Ford, a União Europeia e a Gordon and Betty Moore Foundation.

Em 2006, o IEB foi uma das ONGs com as quais a USAID articulou o programa Iniciativa para Conservação da Bacia Amazônica (ABCI, na sigla em inglês), elaborado para coordenar ações de ONGs ambientalistas e indigenistas nacionais e internacionais, provendo-os de recursos de “governança ambiental”, dentro de uma estratégia geral para “esterilizar” o desenvolvimento socioeconômico da região. Em meados de 2007, uma denúncia do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa) levou o governo brasileiro a exigir explicações da agência estadunidense, que foi obrigada a suspender o programa por algum tempo, enquanto o reformulava e o reiniciava de outra forma.


Fonte: Alerta em Rede
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Um comentário:

  1. Parabéns pela contínua luta pela verdade dos fatos. Sua resposta à prolixa explicação do Sr. Klink precisa ser comentada, como V. acaba de fazer com a objetividade de sempre. Além da discussão dos fundamentos científicos, urge discutir a viabilidade prática de exigências arbitrárias que todos sabem inexequíveis e que virão colocar os produtores nas garras da fiscalização eventualmente pressionada por interesses políticos.
    Submeto trecho de entrevista recente:
    Entrevista ao Canal Rural em 31.08.2012 – Jornal da Pecuária

    Sérgio Braga- Dr. Fernando: nós temos aí esse Código Florestal discutido, rediscutido e uma vez mais colocando em dúvida aquilo que o pecuarista deve fazer. O Senhor acha que realmente essa exigência de plantar árvores, reflorestar a beira de rios, isso vai pegar realmente, é possível ou não?

    F. F. Cardoso- É praticamente impossível e nunca vai ser realizado em grande escala. Poderá ser realizado por alguns produtores, porque a pecuária é uma atividade de muito pouca mão de obra e essa mão de obra nunca será suficiente para construir cercas na beirada do rio, matar formiga na beirada do rio, comprar mudas, plantar as mudas, capinar para não haver concorrência das invasoras, fazer o replantio. Isso tudo é muito acadêmico. É uma discussão entre um grupo de ruralistas e um grupo de ambientalistas, os dois grupos mais num ambiente de ar condicionado. O pecuarista mesmo não está lá na discussão, porque está trabalhando nas suas fazendas.
    Fernando Penteado Cardoso
    Eng.Agr.Sênior-ESALQ-USP 1936




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