A ILPf, Integração Lavoura, Pecuária e Floresta, poderá criar a nova revolução agrícola, e foi debatida em Maringá, durante o XXIII Fórum Nacional da Abag, dia 18 de maio último, ante os olhares de mais de duas centenas de produtores rurais e também dos técnicos da extensão rural e assistência técnica da Cocamar - Cooperativa Agroindustrial, sob a liderança de seu presidente, Luiz Lourenço.
Estive por lá, a convite da Abag, junto com algumas dezenas de jornalistas, ciceroneados por Enio Campoi, da Mecânica de Comunicações. Posso antecipar, sem medo de errar, que foi o melhor, senão um dos melhores fóruns de todos os 23 já organizados pela Abag, e dos quais participei da maioria, desde o início.
Luiz Lourenço, enfatizou a todos para que “se unam em grande esforço” para difundir a ILPf – sistema que, apesar de preconizado pela Embrapa há quase duas décadas, e já praticado em algumas regiões, é ainda quase desconhecido da grande maioria dos produtores do Sul e Sudeste do País.
Conforme Lourenço, a região noroeste do Paraná (conhecida como Arenito) possui pelo menos 2,7 milhões de hectares de pastagens degradadas, de baixo retorno econômico, mas com potencial para sediar projetos de ILPf– o que significa cultivar soja no verão e, na mesma área, manter pecuária durante o inverno, usando como pasto o capim braquiária. É a braquiária que, ao ser dessecada semanas antes do cultivo da soja, proporciona palha e cobertura ao solo para o plantio direto, melhorando a qualidade do solo, não apenas nessa região do Noroeste do Paraná.
No Paraná, baseada em pesquisas do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), segundo o pesquisador Sérgio José Alves, há pelo menos 300 mil ha onde essa técnica regeneradora já é desenvolvida, mas que ele considera uma área ainda pequena. De acordo com o pesquisador, a tecnologia específica para a integração já está consolidada. “Mesmo em ano de clima ruim se ganha dinheiro com a ILPf”, incentiva Alves. A média de produtividade de soja, nos últimos anos, tem sido de 46 sacas por ha, com aumento do número de unidades animal (UA) de 1 para 2,5 no verão e de até 8 no inverno.
Na verdade, a única coisa que discordo é chamar de ILPf, pois deveria chamar-se o sistema de ILPs, com "s" de silvicultura, pois não se cultiva "floresta", na verdadeira acepção do termo. Fora a semântica, assino embaixo de tudo o que se falou por lá. Adicionalmente, acho que deveria haver créditos para investimentos específicos (máquinas, em especial) para se implementar a ILPf. O que se deveria ter em mente é que são os agricultores quem mais estão aderindo à ILPf, enquanto os pecuaristas são minoria na adesão, e estes não possuem as máquinas (tratores, arados, grades e plantadeiras-adubadeiras) para a ILPf.
O produtor rural César Formighieri, da cidade de Maria Helena, foi um dos palestrantes do fórum. Considerado produtor modelo em integração no Paraná, possui 500 hectares onde cultiva soja há 10 anos, e mantém pecuária de corte, investe no leite e no plantio de eucalipto. De acordo com ele, as pastagens eram totalmente degradadas e hoje estão recuperadas, com a produção rentável. “O solo recuperado é garantia de sucesso na agricultura e pecuária”, disse ele, pois "a soja recupera o solo melhor que a gramínea".
No Brasil, conforme o pesquisador João Kluthcouski, da Embrapa, há 2 milhões de ha onde é feita alguma forma de integração. Ele apresentou, no evento, um estudo sobre a Fazenda Santa Brígida, de Ipameri (GO), onde a própria Embrapa vem acompanhando, desde 2006, um amplo programa de ILPf. Hoje, essa área é considerada referência no país, com produção de soja, carne e eucalipto onde, além da madeira, se aproveita o sombreamento para o bem-estar animal. “Nosso grande negócio é fazer pecuária verde. Nós somos um país quase continental e ainda com pelo menos 100 milhões de ha de pastagens ruins, que são vistos como uma oportunidade”.
O XXIII Fórum da Abag contou também com a participação de duas personalidades que são a própria história do plantio direto no Brasil: os mitos Herbert Bartz, de Rolândia, e Frank Dijkstra, de Carambeí, PR. Eles falaram sobre o desenvolvimento do PD, que hoje contabiliza mais de 25 milhões de ha no Brasil, preservando os solos. Fazia algum tempo que eu não me encontrava com esta dupla de pioneiros. Além das evidências do tempo, que passa para todos, constatei que o português do holandês Dijkstra está cada vez melhor, enquanto que o sotaque holando-caboclo do brasileiro Bartz se acentuou.
Já o vice-presidente de agronegócios do Banco do Brasil, Osmar Dias, abordou a perspectiva de crescimento da demanda internacional por alimentos nos próximos anos para justificar a oportunidade que os produtores brasileiros têm de investir em novas técnicas. Nos próximos dez anos, segundo ele, vai haver necessidade de 20% a mais de alimentos, por causa do crescimento da população, e 40% desse volume terá que sair do Brasil, segundo a FAO. Dias informou que o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) do governo federal está disponível a juros de 6,75% ao ano, com 8 a 12 anos para quitação. “O agricultor que não fizer integração terá dificuldades para sobreviver, pois ele precisa investir na eficácia produtiva”, disse.
Osmar Dias revelou à plateia ter encaminhado para a Presidência da República uma sugestão sobre as APPs em beiras de rios, mas a sugestão, pelo jeito, não pegou. É tão simples e cabocla, quanto inteligente. A questão da metragem seria assim, sempre pela largura do rio: se o rio tiver 10 metros de largura, teria 5 metros de APP em cada margem, é meio a meio. Se tiver 50 metros, 25 de APP para cada lado, até atingir 100 m de APP, para rios com 200 ou mais metros de largura. Não vingou, como vimos, pois o emocional predominou, fosse na votação no Congresso como nos vetos da Presidência.
No XXIII Fórum da Abag a plateia esteve recheada de empresários e líderes do agronegócio, a destacar-se a presença de Paulo Herrmann, diretor de Vendas América Latina da John Deere, e Laércio Giampani, presidente da Syngenta CropScience, que são líderes hoje, em parceria com a Embrapa, da Rede de Fomento, uma ideia-conceito que ainda vai dar o que falar. Anotei, ainda, a presença no fórum, de José Cassiano Gomes dos Reis Jr, superintendente da SRB, Fabrício Morais, presidente da Jumil, de Marize Porto Costa, proprietária da Fazenda Santa Brígida, de Maria Iraclézia de Araújo, presidente da Sociedade Rural de Maringá, Francisco Matturro, José Roberto R. Peres, chefe geral da Embrapa Cerrados, entre muitos outros.
O presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), Luiz Carlos Corrêa de Carvalho, mais conhecido como Caio, ressaltou a importância da realização de fóruns como esse para difundir informação e conhecimento aos produtores. “Este é o modelo sustentável que o Brasil vai apresentar na Rio+20 (a conferência mundial sobre o clima, a realizar-se neste mês de junho no Rio de Janeiro). O protagonismo do país é a grande discussão da sociedade brasileira este ano. Mas a integração é muito mais que isto: ela tem o poder de transformar economicamente uma região”, finalizou.
DEBATE:
COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO:
Dr. Fernando Penteado Cardoso, muito obrigado por seus comentários, sempre relevantes, diretos e objetivos. Sua presença neste blog, em forma de comentários, muito me honra.
Especificamente no caso da ILPf tenho a colocar algumas premissas, talvez diferentes de sua ótica e objetividade prática, para incentivar um debate positivo nessa questão.
Tenho a ILPf como regeneradora de solos (e pastagens) degradados. A ILPf é um conceito, mas de uso prático, que permite recuperar esses pastos, com investimentos moderados, melhorando a produtividade desses solos degradados e compactados. Não vejo a ILPf como solução prática para áreas de plantio de lavouras já produtivas, e nem tampouco para substituir pastos bem conduzidos. A região do Arenito, no Noroeste do PR, é um bom exemplo, onde pastos mal manejados diante das condições edafo-climáticas aceleraram a degradação. As tentativas de se plantar mandioca naqueles solos arenosos levaram a uma degradação ainda maior, provocando vossorocas quase impossíveis de serem recuperadas, pelo menos quanto à realidade econômica, no sentido de proporcionar lucros aos investimentos necessários, em curto ou médio prazos.
Nesse sentido a ILPf é, em minha modesta opinião, a salvação da lavoura, e dos pastos, para pelo menos 100 milhões de ha calculados pelos estatísticos, e que estão espalhados Brasil adentro. E estes têm sido ocupados por agricultores, em sua maioria, e não por pecuaristas, a quem falta a cultura e tradição de trabalhar a terra preservando-a para as gerações futuras.
Tratar a ILPf com um sentido prático e objetivo de lucros a curto prazo poderia, sem dúvida, colocar essa técnica como duvidosa.
Confesso que tinha dúvidas, em relação à ILPf, conforme seus argumentos, sobre o sombreamento. Seria, de acordo com suas palavras, em texto que já publiquei na DBO Agrotecnologia, "a descoberta da agricultura sem fotossíntese". Mudei de ideia ao analisar o argumento apresentado pelos especialistas, em especial dos agrônomos José Luís Coelho, da John Deere, e João Kluthcouski, da Embrapa, de que as árvores sejam plantadas em duas ou três linhas no sentido Leste-Oeste, o que reduz o sombreamento sobre pastos e lavouras, e traz conforto aos animais.
Tenho ainda uma questão em relação à "perenidade" do sistema ILPf, e que não me convenceu. Ou seja, depois de implantada, é difícil o retorno aos sistemas tradicionais de manejo do solo, seja em lavouras ou em pastos, pois os tocos remanescentes por lá (após os cortes de madeira) permaneceriam irretiráveis, no mínimo por 10 ou 15 anos. Nesse sentido a ILPf pode até recuperar solos degradados, mas obriga a sua continuidade e permanência. Daí a minha pergunta: o que é melhor? Recuperar os solos degradados ou continuar como está?
Este blog permenece com espaço em aberto para a continuidade do debate, pois não entendo como definitivas as colocações do Dr. Fernando Penteado Cardoso, muito menos as minhas.
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Prezado Richard:
ResponderExcluirMuito obrigado por divulgar minha análise. Não discordei ao confessar que desconhecia aferições. A agronomia pertence à classe das ciências exatas. Por isso sou como São Tomé: ver (=medir) para crer. Queria ver também um vaqueiro em disparada, volteando um laço, se embrenhar pelo renque arbóreo. Não queria ser o patrão para suportar a praga que lhe seria lançada.
Abraço
Fernando Cardoso
o link da Agrisus saiu incorretamente grafado, o correto é www.agrisus.org.br
ResponderExcluirRichard,
ResponderExcluirparabéns pelo blog, vejo que aqui há debate, como você colocou, construtivo. Realmente, é informativo, a gente aprende, a gente cresce quando visita este pedaço da blogosfera.
Continue assim.
José Carlos de Arruda Corazza
Caro amigo Richard,
ResponderExcluirEventos de divulgação sobre a ILPF, como este realizado pela ABAG são fundamentais para que a tecnologia seja adotada pelos produtores rurais. Alertei a Embrapa, a John Deere e a Cocamar em evento realizado em Calda Novas-GO, em março passado. Fazendo um paralelo com a tecnologia do Plantio Direto, em especial, na região do Cerrado, ele teve seu crecimento significativo após a realização dos encontros nacionais organizados pela FEBRAPDP, pelos regionais realizados pela APDC e pelos locais realizados pelos CATs, então porque as instituições não seguem este exemplo bem sucedido?
Abraços,
Ronaldo Trecenti