quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Ceteris paribus
Daniel Strutenskey de Macedo
Ceteris Paribus é uma expressão latina e é utilizada pela ciência econômica para definir uma condição. Imagine que ao medirmos o peso de uma pessoa constatamos que ela engordou 10% do seu peso. Ela tinha 60 quilos e passou a ter 66. De onde vieram estes seis quilos a mais? Será que foi por causa da gordura que ela ingeriu? Ou foi do açúcar? Nós então perguntamos a ela como eram suas refeições e, analisadas as porções ingeridas, chegamos à conclusão que metade foi do excesso de gorduras e a outra metade do excesso de doces, “ceteris paribus”. Se não completarmos o relatório com “ceteris paribus”, estaremos cometendo um erro, pois a pessoa pode ter aumentado de peso porque ficou de férias, não trabalhou, consumiu menos calorias por estar de folga. Pode ser que ela estivesse vivendo numa região fria do inverno, que obriga o corpo a consumir açúcares e gorduras para manter a temperatura, e foi tirar férias numa região quente. Por ter tido uma disfunção da tireoide, poder ter sido outras tantas coisas que não cogitamos ou não pudemos medir nem analisar. Então, para que a nossa conclusão não seja desmentida por outros fatores, acrescentamos o “ceteris paribus”.
Pensei no “ceteris paribus” ontem, quando precisei trocar uma calha e uns vidros da vidraça de casa. Fazia anos, muitos, que eu não precisava destes serviços. Lembrei-me de que na época havia no bairro o Zé das Calhas e o Seu Antônio Vidraceiro, assim como o seu Zé das Portas e do Azulejo entre outros profissionais que faziam pequenos bicos reformando ou consertando a casa da gente. Hoje precisei consultar a internet e ligar para algumas lojas. Por incrível que pareça achei a mesma lojinha de vidros de antigamente. Ao chegar lá, o prédio era o mesmo, o dono também.
Mas a loja, não! Tem agora uma recepção com amostras de produtos e uma vendedora de plantão pilotando um computador. O dono não pega mais no pesado. Contrata terceiros para fazer as instalações. Cobra 140,00 o m2 e paga 70,00 para o terceirizado. Uma visita para um orçamento precisa ser cobrada, há uma taxa mínima, pois quem pagará a despesa da hora gasta e do carro para a locomoção? Serviços pequenos como o meu, de trocar dois vidros quebrados de uma vidraça, nem pensar. Os custos fixos da atual loja envolvem: um aluguel de 3.000,00, uma recepcionista e vendedora de 2.500,00, um funcionário cortador de vidros de 2.500,00, um motorista de 2.500,00, uma despesa mensal com o veiculo da firma de 1.000,0, um contador frila de 1.000,00, taxas municipais de 400,00, informática e internet de 300,00, uma retirada de pro-labore (salário do dono) de 6.000,00, outras contribuições de 1.000,00. Total mensal: 20.200,00, que dividido por 22 dias de 8 horas cada, resulta em R$ 114,77 por hora, sem contar o vidro fornecido nem a margem de lucro. Aliás, o que menos conta hoje é o vidro. Quando tínhamos o seu Zé vidraceiro, a gente pagava 20,00 do vidro e 30,00 para o seu Zé e achávamos caro. O seu Zé vinha ver o serviço, ia até a loja comprar os vidros, trazia e colocava-os na vidraça e ainda limpava a vidraça toda.
Com a calha é a mesma coisa. E também com a pizza, o corte de cabelo e tantas outras coisas. Houve uma mudança de cultura de produção e prestação de serviços, assim como uma mudança de preferências de consumo. A meu ver, estas mudanças foram e continuam sendo mais efetivas do que as razões interpretadas pelos economistas à luz de alguns índices. Os fatores são muitos, são complexos, não são medidos.
Várias vezes por dia vemos e ouvimos jornalistas e comentaristas econômicos repetirem as mesmas coisas com veemência e ares de verdade. E nós, tontos, aturdidos, envolvidos por gráficos coloridos, achamos que eles sabem o que dizem, quando na verdade eles sequer sabem o que anda acontecendo com os produtos e com as empresas com as quais trabalham. Hoje de manhã chegou a revista Época em casa: fininha, debilitada pelas poucas páginas. Ontem, enquanto eu aguardava no caixa do supermercado, fiquei reparando na gôndola de revistas e me espantei como ficaram fininhas e empobrecidas de páginas as revistas que eu conheci gordas e bem recheadas. Refleti e comparei com a trajetória da minha calha e da minha vidraça e concluí que o problema das revistas não é de preço, nem de qualidade gráfica, mas de Cultura e Preferência. É muito complicado medir as mudanças culturais, os costumes, as preferências.
Por isto, toma “ceteris paribus” para explicar porra nenhuma. De tudo, o que mais chama a minha atenção é a medição do PIB. Não é inteligente admitirmos variações de 0,5% (meio por cento) numa conta tão complexa. Minha percepção é que a margem de erro não é inferior a 3%. Portanto, o modelo é perfumaria, interpretação pura! Um modelo razoável só para se medir o que foi produzido e ofertado teria que considerar e classificar cada produto e serviço considerando: quantidade, qualidade, embalagem, frete, impostos, juros, preços, validades, substitutivos, similares, preferências etc. Seria um modelo impossível, pois exigiria vinte vezes mais pesquisadores. Ficaria muito caro sem “ceteris paribus”.
Quando morei nos EUA a gente lavava a camisa na lavanderia e ela era Produto, constava do PIB americano, pois extraía-se uma nota de lavagem da camisa. Aqui no Brasil a gente ou a mãe da gente lavava a mesma camisa e ela não virava produto, não fazia parte do PIB. Isto ainda vale para uma infinidade de produtos e serviços que não são medidos. E se não são medidos, então são estimados, avaliados, interpretados. Cada um estima, avalia e interpreta segundo a sua conveniência.
Logo, toma “ceteris paribus” e acredite se quiser! .
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Ceteris Paribus é uma expressão latina e é utilizada pela ciência econômica para definir uma condição. Imagine que ao medirmos o peso de uma pessoa constatamos que ela engordou 10% do seu peso. Ela tinha 60 quilos e passou a ter 66. De onde vieram estes seis quilos a mais? Será que foi por causa da gordura que ela ingeriu? Ou foi do açúcar? Nós então perguntamos a ela como eram suas refeições e, analisadas as porções ingeridas, chegamos à conclusão que metade foi do excesso de gorduras e a outra metade do excesso de doces, “ceteris paribus”. Se não completarmos o relatório com “ceteris paribus”, estaremos cometendo um erro, pois a pessoa pode ter aumentado de peso porque ficou de férias, não trabalhou, consumiu menos calorias por estar de folga. Pode ser que ela estivesse vivendo numa região fria do inverno, que obriga o corpo a consumir açúcares e gorduras para manter a temperatura, e foi tirar férias numa região quente. Por ter tido uma disfunção da tireoide, poder ter sido outras tantas coisas que não cogitamos ou não pudemos medir nem analisar. Então, para que a nossa conclusão não seja desmentida por outros fatores, acrescentamos o “ceteris paribus”.
Pensei no “ceteris paribus” ontem, quando precisei trocar uma calha e uns vidros da vidraça de casa. Fazia anos, muitos, que eu não precisava destes serviços. Lembrei-me de que na época havia no bairro o Zé das Calhas e o Seu Antônio Vidraceiro, assim como o seu Zé das Portas e do Azulejo entre outros profissionais que faziam pequenos bicos reformando ou consertando a casa da gente. Hoje precisei consultar a internet e ligar para algumas lojas. Por incrível que pareça achei a mesma lojinha de vidros de antigamente. Ao chegar lá, o prédio era o mesmo, o dono também.
Mas a loja, não! Tem agora uma recepção com amostras de produtos e uma vendedora de plantão pilotando um computador. O dono não pega mais no pesado. Contrata terceiros para fazer as instalações. Cobra 140,00 o m2 e paga 70,00 para o terceirizado. Uma visita para um orçamento precisa ser cobrada, há uma taxa mínima, pois quem pagará a despesa da hora gasta e do carro para a locomoção? Serviços pequenos como o meu, de trocar dois vidros quebrados de uma vidraça, nem pensar. Os custos fixos da atual loja envolvem: um aluguel de 3.000,00, uma recepcionista e vendedora de 2.500,00, um funcionário cortador de vidros de 2.500,00, um motorista de 2.500,00, uma despesa mensal com o veiculo da firma de 1.000,0, um contador frila de 1.000,00, taxas municipais de 400,00, informática e internet de 300,00, uma retirada de pro-labore (salário do dono) de 6.000,00, outras contribuições de 1.000,00. Total mensal: 20.200,00, que dividido por 22 dias de 8 horas cada, resulta em R$ 114,77 por hora, sem contar o vidro fornecido nem a margem de lucro. Aliás, o que menos conta hoje é o vidro. Quando tínhamos o seu Zé vidraceiro, a gente pagava 20,00 do vidro e 30,00 para o seu Zé e achávamos caro. O seu Zé vinha ver o serviço, ia até a loja comprar os vidros, trazia e colocava-os na vidraça e ainda limpava a vidraça toda.
Com a calha é a mesma coisa. E também com a pizza, o corte de cabelo e tantas outras coisas. Houve uma mudança de cultura de produção e prestação de serviços, assim como uma mudança de preferências de consumo. A meu ver, estas mudanças foram e continuam sendo mais efetivas do que as razões interpretadas pelos economistas à luz de alguns índices. Os fatores são muitos, são complexos, não são medidos.
Várias vezes por dia vemos e ouvimos jornalistas e comentaristas econômicos repetirem as mesmas coisas com veemência e ares de verdade. E nós, tontos, aturdidos, envolvidos por gráficos coloridos, achamos que eles sabem o que dizem, quando na verdade eles sequer sabem o que anda acontecendo com os produtos e com as empresas com as quais trabalham. Hoje de manhã chegou a revista Época em casa: fininha, debilitada pelas poucas páginas. Ontem, enquanto eu aguardava no caixa do supermercado, fiquei reparando na gôndola de revistas e me espantei como ficaram fininhas e empobrecidas de páginas as revistas que eu conheci gordas e bem recheadas. Refleti e comparei com a trajetória da minha calha e da minha vidraça e concluí que o problema das revistas não é de preço, nem de qualidade gráfica, mas de Cultura e Preferência. É muito complicado medir as mudanças culturais, os costumes, as preferências.
Por isto, toma “ceteris paribus” para explicar porra nenhuma. De tudo, o que mais chama a minha atenção é a medição do PIB. Não é inteligente admitirmos variações de 0,5% (meio por cento) numa conta tão complexa. Minha percepção é que a margem de erro não é inferior a 3%. Portanto, o modelo é perfumaria, interpretação pura! Um modelo razoável só para se medir o que foi produzido e ofertado teria que considerar e classificar cada produto e serviço considerando: quantidade, qualidade, embalagem, frete, impostos, juros, preços, validades, substitutivos, similares, preferências etc. Seria um modelo impossível, pois exigiria vinte vezes mais pesquisadores. Ficaria muito caro sem “ceteris paribus”.
Quando morei nos EUA a gente lavava a camisa na lavanderia e ela era Produto, constava do PIB americano, pois extraía-se uma nota de lavagem da camisa. Aqui no Brasil a gente ou a mãe da gente lavava a mesma camisa e ela não virava produto, não fazia parte do PIB. Isto ainda vale para uma infinidade de produtos e serviços que não são medidos. E se não são medidos, então são estimados, avaliados, interpretados. Cada um estima, avalia e interpreta segundo a sua conveniência.
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Me lembro dessa expressão da faculdade de Economia. Ceteris paribus, isto é, as demais condições permanecendo constantes. Legal lembrar disso!
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