O texto abaixo é cópia da divulgação feita pelo Correio Popular de Campinas, na edição de domingo 13/setembro!
Referência na área de pesquisa no Brasil e um dos ícones da cidade, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) acaba de perder o seu acervo entomológico com mais de 8,5 mil amostras de insetos e pragas, coletadas ao longo de 80 anos. O material foi transferido para a Capital, mesma cidade para onde também será levado o Herbário nos próximos dias. A coleção de plantas conta com mais de 56 mil amostras e 11 mil espécies catalogadas. Algumas delas são anteriores à própria fundação do IAC, há 128 anos. Segundo a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo, a instituição vem enfrentando um processo de desmonte, que passa pela defasagem no quadro de pesquisadores e encerramento de linhas de pesquisas, que pode trazer consequências sérias para a área da agricultura no Estado.
Referência na área de pesquisa no Brasil e um dos ícones da cidade, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) acaba de perder o seu acervo entomológico com mais de 8,5 mil amostras de insetos e pragas, coletadas ao longo de 80 anos. O material foi transferido para a Capital, mesma cidade para onde também será levado o Herbário nos próximos dias. A coleção de plantas conta com mais de 56 mil amostras e 11 mil espécies catalogadas. Algumas delas são anteriores à própria fundação do IAC, há 128 anos. Segundo a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo, a instituição vem enfrentando um processo de desmonte, que passa pela defasagem no quadro de pesquisadores e encerramento de linhas de pesquisas, que pode trazer consequências sérias para a área da agricultura no Estado.
O acervo entomológico do IAC era composto por uma coleção
exclusiva no País, totalmente voltada para o benefício da agricultura, por meio
de informações acerca das variadas pragas que atacam as lavouras no Estado de
São Paulo. O vice-presidente da Associação dos Pesquisadores do Estado de São
Paulo (APqC), Carlos Jorge Rosseto, que trabalhou na unidade de Entomologia do
IAC de 1961 a 1987, diz que são pesquisas de muitos anos que custaram caro ao
Estado e de enorme valor para os agricultores. Mas o valor histórico,
científico e monetário não impediram que a coleção fosse transferida quase que
na “calada da noite”, na semana da Independência. O material foi alocado dentro
do Instituto Biológico. Os próprios pesquisadores foram surpreendidos com a
transferência.
A coleção, segundo Rosseto, é um verdadeiro catálogo sobre a
ocorrência de insetos relacionados com plantas no Estado de São Paulo, que
permitia saber quais insetos já foram observados causando dano a determinada
planta nos últimos 80 anos no Estado, bem como que plantas hospedeiras ele foi
observado atacando, qual o tipo de dano causado, época e região de ocorrência e
seus inimigos naturais. “A coleção do IAC tem um valor maior que outras
coleções de insetos do ponto de vista agronômico. A Constituição exige
eficiência e, em nome disto, a coleção deveria ser mantida no IAC, pelo menos
até a aposentadoria de seu curador.”
A próxima coleção a ser transferida é a do Herbário. “São 56
mil amostras de plantas desidratadas e todo esse acervo vai ser transferido”,
afirmou um pesquisador. De acordo com a associação, os pesquisadores do
Herbário também ficaram sabendo da notícia por intermédio de colegas do
Instituto de Botânica de São Paulo. Além das pesquisas realizadas por
cientistas, o acervo é usado por estudantes e pela própria Prefeitura de
Campinas, que faz consultas, por meio da Secretaria do Verde. A tentativa de
argumentação de que se trata de uma coleção valiosa foi ignorada. “O IAC tem
128 anos de história, de atividade. O Herbário tem 80 anos, mas há amostras
anteriores à criação do Próprio IAC”, afirmou um pesquisador. Projetos de
pesquisa estão em andamento no herbário.
Joaquim Adelino de Azevedo Filho, presidente da Associação
dos Pesquisadores Científicos de São Paulo, afirma que o processo de desmonte
do IAC vem ocorrendo há cerca de 20 anos, com a defasagem do quadro de
servidores. Um estudo feito em 2012 apontava que o instituto funcionava com 171
pesquisadores, quando deveria ter 311. Na década de 90, o IAC tinha mais de 400
pesquisadores. A defasagem nos quadros técnicos e administrativos ultrapassam
70%. “Já tínhamos esses cargos em vacância desde 2012. Desde lá a situação se
agravou porque servidores se aposentaram ou foram trabalhar em outros órgãos e
não houve concurso.” O último concurso foi realizado há cerca de dez anos.
Sobre a transferência dos acervos, Azevedo acredita que a
medida foi adotada pela diretoria com diretrizes da Secretaria de Agricultura
para redução de gastos. “Estão desocupando o prédio para ficar sem uso ou
reduzir custos. Acham que esses acervos não são uma missão do IAC. Isso é o que
a diretoria está alegando para fazer o desmonte. Mas o material pertence ao IAC
e faz parte da história de Campinas. Estão passando por cima de tudo isso.
Acham que é um objeto qualquer que pode ser mudado sem nenhum dano”, disse.
Segundo Azevedo, o Instituto de Botânica já teria se manifestado que o material
do herbário não tem interesse porque não tem relação com a linha de trabalho deles.
Preocupação
O encerramento de linhas de pesquisas com determinadas
culturas também preocupa os pesquisadores. O IAC trabalhava com mais de 100
culturas, mas segundo Azevedo esse número deve ser reduzido para oito. “A
proposta da diretoria é que se escolha em torno de oito culturas. Aquelas que
os pesquisadores já se aposentaram estão sendo encerradas.” Segundo Joaquim, já
foram encerradas as pesquisas com trigo, girassol, mamona e arroz, entre
outras. A pesquisa com algodão era feita por oito pesquisadores. Hoje conta com
apenas três, sendo que dois deles são aposentados e trabalham como voluntários.
A falta de pesquisas pode significar pouca diversidade, insegurança alimentar e
até desabastecimento alimentar. “No Estado de São Paulo não tem outros institutos
que fazem pesquisa com esse material. Exceto a universidade, mas nenhuma delas
tem programa forte de melhoramento que é o caso do IAC. Trabalham com pesquisas
pontuais. O melhoramento exige uma sequência. Essas culturas anuais gastam no
mínimo dez anos para você começar fazer seleção e começar cultivar no ponto do
agricultor utilizar”, explicou.
* o autor é engenheiro agrônomo e presidente-executivo da Andav - Associação Nacional dos Distribuidores
de Insumos Agrícolas e Veterinários
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