domingo, 13 de setembro de 2015

Papa Francisco: “Dói na minha alma quando vejo desmatamento”.

Richard Jakubaszko
Durante entrevista a uma emissora de rádio, a rádio Paroquial Virgem del Carmen, em Campo Gallo, da província de Santiago del Estero, ao norte da Argentina, dia 8 de agosto último, o Papa Francisco falou como um cidadão comum. Não falou como Papa. Até porque, se falou como Papa, como diz meu amigo Evaristo de Miranda, está muito mal assessorado. Francisco acentuou que “a preservação do meio ambiente deve prevalecer sobre os ganhos financeiros”. Por isso, “dói na alma do Papa ver desmatamento para a plantação de soja”, afirma. Francisco prognosticou que “Demoraremos milhares de anos para recuperar as florestas”. E pediu: “Cuidem das árvores e da água”.

Data vênia Papa Francisco, devo informar Vossa Santidade alguns equívocos relevantes que se repetiram na citada entrevista. Esses equívocos também se encontravam em vossa encíclica, a Laudato Si. Com o exercício de 50 anos de jornalismo especializado na agropecuária, exaspera-me encontrar na mídia essas críticas infundadas e recorrentes, que levam ao senso comum recorrente.

A questão é um paradoxo, Papa Francisco. Ou se planta, ou muita gente vai morrer de fome, pois os cidadãos urbanos empilhados em prédios nas grandes cidades ainda não encontraram alternativa para essa necessidade humana. A população mundial, como se sabe, cresce a olhos vistos, confirmação feita pelas estatísticas de entidades como a ONU. Lamentavelmente, apenas 1,2 bilhões de humanos no planeta são católicos, e estão localizados majoritariamente no Ocidente, como nas Américas e na Europa. Nos países da Ásia e África, onde a fé cristã não é majoritária, o crescimento demográfico é ainda maior do que nos países de fé católica. Os católicos, especialmente europeus, parecem não obedecer ao dogma milenar de “crescei e multiplicai-vos”, e andam reduzindo a velocidade do crescimento demográfico em seus países. Mas só isso não impede a necessidade de aumentar as áreas de plantio para se produzir mais alimentos.

Posto isto, Papa Francisco, permita-me comentar:
1 – antes de faltar água, faltará comida para os 7,3 bilhões de pessoas que povoam hoje o planeta. O crescimento demográfico ainda é elevado, porque a expectativa média de vida cresceu substancialmente nas últimas décadas. Se, um século atrás, grosso modo, 2,0% de taxa de crescimento sobre 2 bilhões de pessoas era suportável, hoje com 7,3 bilhões e uma taxa demográfica de 1,7% é suicídio coletivo. No primeiro caso, tínhamos 40 milhões de novas almas/ano. Na taxa atual são 124,7 milhões de pessoas/ano. Insuportável, Papa Francisco, reconheçamos, os percentuais não nos revelam a realidade.

2 – Vai faltar terra agricultável para plantar alimentos, Papa Francisco. Onde há terra disponível, como na África ou China, falta água, porque Deus e a natureza não abençoaram essas regiões de forma igual, como no Brasil e na sua Argentina. Para se fazer agricultura precisa-se de terra, sol e água. Na falta de um desses três elementos não se produz alimentos, nem por milagre.

3 – Agricultores no mundo inteiro estão envelhecendo, e seus filhos não querem seguir a carreira paterna. Cada vez há menos agricultores no mundo, porque o trabalho rural é estafante, mesmo com as modernas tecnologias, e isolado, sendo que as pessoas querem ser gregárias nas urbes.

4 – Agricultores também podem e devem ganhar dinheiro como sustento de seu trabalho, e eles fazem isso. Mas é uma atividade incerta, Papa Francisco, pelas manipulações dos compradores, ou pelos malfeitos do clima, ora amigo, ora inimigo. E isso é milenar, acontecia no antigo Egito, como já sabemos. Agricultores não fazem o preço daquilo que produzem, o mercado faz isso, e esse mercado tem incentivado com bons preços a remuneração dos agricultores em todo o mundo. Mas os insumos, Papa Francisco, os fertilizantes, sementes, agroquímicos, máquinas, que trazem novas tecnologias, para produzir mais, na mesma área, tratam de socializar esse lucro justo que seria dos produtores rurais.

5 – O paradoxo maior está em se limitar as áreas novas de plantio. O Brasil fez isso, Papa Francisco, criou o Código Florestal, mas o mundo inteiro não copiou essa nossa jabuticaba. A gente fez essa lei agora, Papa Francisco, mas o Brasil nem precisava, pois mais de 60% do território brasileiro ainda é de floresta original, de quando os lusitanos aqui chegaram em 1500. Na Europa as reservas florestais são inferiores a 1% do território, portanto, vosso aviso chegou tarde para eles.

6 – As áreas florestadas jamais serão recompostas, Papa Francisco. Isso é um desiderato utópico de Vossa Santidade e de todos os ambientalistas. A humanidade, tal e qual um formigueiro, irá depredar tudo à sua volta, como Vossa Santidade criticou na encíclica, pelo consumismo perdulário,

7 – As áreas brasileiras desmatadas não foram para plantar soja, Papa Francisco, porque uma árvore quando derrubada deixa um toco na superfície, mas cheio de raízes. Estas devem apodrecer por um mínimo de 5 a 10 anos antes que se possa arrancar as raízes do solo profundo. E soja, Papa Francisco é uma lavoura onde 100% do que se faz é mecanizado. São máquinas caras e sofisticas, Papa Francisco, custam fortunas, mas são “enjoadas”, elas não conseguem trabalhar em solos onde há tocos de árvores decepadas pelos madeireiros, porque agricultores não derrubam árvores, pelo contrário, até plantam muitas árvores, como macieiras, laranjeiras, pessegueiros e cafeeiros e até mesmo eucaliptos.

8 – Os preços de terras estão pela hora da morte Papa Francisco, fruto da especulação financeira. Agricultores, para sobreviver na atividade, precisam plantar com alta produtividade, usando os tais insumos caríssimos, e se tentarem ludibriar a natureza, usando menos tecnologias, terão baixa produtividade, e com isso abrem falência, perdem a terra para os bancos que emprestaram dinheiro para a compra dos insumos, e a quem deram sua terra como garantia. Até recentemente, Papa Francisco, os agricultores buscavam terras mais baratas em áreas novas, e toda década tinha uma fronteira agrícola nova no Brasil, mas isso agora acabou. Acabou por dois motivos, Papa Francisco, primeiro, porque todas as áreas novas já estão praticamente ocupadas, no Brasil e no planeta inteiro. Segundo, que nas áreas ainda disponíveis no Brasil e na Argentina, além de caríssimas, são terras ruins de pastagens degradadas. E no Brasil ainda tem as limitações do Código Florestal, como a Reserva Legal para mata natural, de no mínimo 20% no Sul e Sudeste, de 50% em regiões como o Pantanal e algumas do Brasil Central, e de até 80% na Amazônia.

9 – Vossa Santidade ficará com dó na alma quando mais pessoas, além de 1 bilhão de pessoas, como ocorre hoje, vierem a passar fome, enquanto nós brasileiros estaremos admirando nossas verdes e intocáveis florestas tropicais? Ou Vossa Santidade dará apoio aos países desenvolvidos que iniciarão movimento de confiscar a Amazônia dos brasileiros, porque eles não a exploram convenientemente? Esse movimento já existe Santidade, apesar de tímido.

10 – Desculpe-me pela ironia acima, Papa Francisco, mas essa é a realidade, é que escrevi todas essas coisas acima, e outras mais, em meu novo livro, título “CO2 - aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?”, onde denuncio a ação de grupos econômicos pseudo "ambientalistas" que estão provocando essas suas dores na alma. O problema maior do planeta chama-se superpopulação, esta é a causa principal de todos os males que afligem a humanidade, seja de ordem econômica, social, política e de bem estar, por causa da poluição e de doenças endêmicas, e também pela falta de alimento e água potável.

Em resumo, Papa Francisco, lotação planetária esgotada. Nem revendo o dogma da Santa Madre Igreja sobre a proibição de as famílias católicas estabelecerem programas de controle familiar, ou de os governos criarem políticas públicas de incentivo para reduzir a velocidade do crescimento demográfico, haverá salvação para toda a humanidade. Lamentavelmente, os mais pobres sofrerão mais, como sempre foi.

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