Marcos Sawaya Jank *
Quando falamos dos países emergentes da Ásia, quem vem de cara à nossa mente são a China e a Índia, países que somam mais de um terço da população do planeta e que crescem a taxas superiores a 6% ao ano.
Mas há uma região da Ásia que ainda é pouco conhecida no Brasil e da qual esses dois gigantes não fazem parte: o Sudeste Asiático. Com 625 milhões de habitantes vivendo numa superfície equivalente à metade do território brasileiro, a maioria dos países do Sudeste Asiático conquistou a sua independência apenas no fim da Segunda Guerra Mundial e logo iniciou um lento e efetivo processo de integração.
Em 1967, no auge da Guerra Fria, cinco países da região – Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia – fundaram a chamada Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático). O objetivo inicial era buscar a estabilidade geopolítica numa região marcada pelo vácuo da descolonização e a uma intensa disputa entre os Estados Unidos e a União Soviética. Com o tempo, outros cinco países aderiram ao bloco – Brunei, Camboja, Laos, Vietnã e Myanmar.
Os dez membros da Asean formam um grande caleidoscópio de países com tamanhos, línguas, religiões e culturas distintas. A Indonésia é o maior país muçulmano do planeta, as Filipinas são católicas, e a Tailândia, budista. A imensa diversidade é também flagrante na área econômica, com renda per capita variando de US$ 900 por ano em Myanmar a US$ 55.000 em Cingapura.
A partir de 2000, os dez países originais da Asean assinaram acordos de livre-comércio, de tipo Asean+1, com China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia e Austrália. No final deste ano, o bloco se transformará na chamada Comunidade Econômica da Asean, ou AEC em inglês.
Nesse contexto, pode-se dizer que a AEC será o segundo maior bloco econômico do planeta, atrás da União Europeia. E as oportunidades são imensas: tamanho do mercado, comércio, investimentos, inovação tecnológica, infraestrutura, serviços etc. O PIB (Produto Interno Bruto) da região triplicou desde 2000, atingindo US$ 2,4 trilhões, e no momento cresce regularmente à taxa de 5,5% ao ano. As exportações e as importações da Asean somam a impressionante cifra de US$ 2,5 trilhões por ano.
A presença do Brasil na região é insignificante. Representamos apenas 0,7% do volume total de comércio da Asean. No ano passado, exportamos modestos US$ 11 bilhões, sendo metade composta por produtos do agronegócio responsáveis pela situação superavitária que temos com o bloco. Países asiáticos e árabes, Estados Unidos, Europa, Austrália e Rússia exportam de 2 a 20 vezes mais que o Brasil.
Tenho andado por todo o Sudeste Asiático e vejo o comércio e os investimentos bombando, nossos concorrentes ampliando suas representações diplomáticas e comerciais, multinacionais expandindo suas atividades e expatriados de todo o mundo vivendo até mesmo nos locais mais ermos da região.
Se o século 19 foi da Europa e o 20 da América, o 21 voltará a ser da Ásia, como já o foi durante muitos séculos. Enquanto isso, o Brasil quer crer que faz parte do núcleo relevante e decisório do mundo. Um pouco mais de realidade, modéstia e pé no chão (e na estrada) faria bem.
* Marcos S. Jank é especialista em questões globais do agronegócio.
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