“O Brasil não está vulnerável da mesma forma que já esteve
no passado” e a “crise no país é gerenciável”. Quem diz isso é o insuspeito
ganhador do Nobel de Economia, o norte-americano Paul Krugman. Em entrevista à
revista Exame, o professor da City University of New York não minimiza a
gravidade da turbulência vivida pelo gigante sul-americano, mas afirma que as
condições para enfrentar os problemas são favoráveis.
“Não tenho dúvida de que a situação [no Brasil] é difícil.
No entanto, acho que descrevê-la como uma tempestade perfeita é muito forte. O
Brasil não está vulnerável da mesma forma que já esteve no passado. A situação
brasileira também não se compara à dos países europeus há poucos anos”, afirma
o economista.
Para ele, a situação do Brasil é difícil, mas “o
endividamento do país não é crítico, e o setor privado não parece tão exposto à
desvalorização do real”, o que torna a crise administrável.
Krugman destaca que o contexto internacional é adverso e
pode ficar ainda mais complexo. “É ruim que os Estados Unidos estejam falando
em aumentar os juros exatamente quando o preço das commodities está em colapso,
uma queda de uma magnitude que, por sinal, quase ninguém conseguiu prever”,
diz. Um aumento na taxa de juros norte-americana poderia desencadear saídas de
capital do Brasil.
De acordo com ele, o Brasil aproveitou o período do boom de
commodities e agora isso acabou. Mas, avalia, o país tem uma economia
diversificada e pode superar o momento. “Exportar commodities não é a única
coisa que [o país] consegue fazer. O Brasil precisa ganhar competitividade na
venda de produtos manufaturados. Uma maneira de fazer isso é com a
desvalorização do câmbio, o que já está acontecendo”, analisou.
O Nobel de Economia defendeu que, embora vários países
estejam enfrentando dificuldades, o risco de uma nova crise global é
relativamente baixo. “Em termos de gravidade, a situação atual não é comparável
ao que tivemos em 2008, quando veio tudo abaixo. Também não parece ser tão ruim
quanto o que vivemos em 2011 e 2012, quando parecia que a crise europeia sairia
de controle. A gente tende a esquecer de quanto o passado tem sido difícil. O
que estamos vivendo hoje também não é comparável à crise asiática de 1997.
Temos problemas nos países emergentes, mas provavelmente não uma crise global”,
opina.
Segundo ele, a crise que começou na Ásia, no fim dos anos
1990, teve dois componentes principais: baixo crescimento e alto endividamento
das empresas locais em moeda estrangeira. “Ainda que seja verdade que muitas
empresas chinesas tenham dívidas em dólares, não podemos esquecer que a China
tem enormes reservas internacionais. Por isso, não parece que estejamos prestes
a ter uma crise generalizada no balanço das companhias. Em resumo, a China não
parece tão vulnerável quanto estavam os países que deflagraram a crise asiática
no final da década de 1990”, defende.
Para o economista, contudo, a desaceleração dos países
emergentes e a crise na Europa são preocupantes. “O mundo não parece que vai
desabar. Mas, olhando o que acontece nos emergentes e na Europa, conclui-se que
falta força para a economia global. Esses sinais de fraqueza indicam que a
estagnação econômica mundial é persistente. Por algum tempo, os mercados
emergentes eram uma fonte de crescimento. Agora são fonte de más notícias. Ou
seja, devemos ver em câmera lenta a continuação dessa estagnação que temos
vivido nos últimos tempos”.
Krugman explicou que a Europa vive uma queda no número de
trabalhadores em relação aos idosos, o que dificulta a situação da região. “É
difícil pensar em algo que tire a Europa do torpor. Uma grande política fiscal
expansionista e a expectativa de elevação da inflação funcionariam.
Infelizmente, não vejo nenhuma dessas duas coisas acontecendo”.
Publicado originalmente no blog Limpinho & Cheiroso: http://limpinhoecheiroso.com/2015/09/19/paul-krugman-brasil-ja-nao-e-vulneravel-como-no-passado/
Comentários do blogueiro:
É importante enfatizar o que Paul Krugman não disse, mas apenas deixou implícito na frase “Exportar commodities não é a única
coisa que [o país] consegue fazer. O Brasil precisa ganhar competitividade na
venda de produtos manufaturados. Uma maneira de fazer isso é com a
desvalorização do câmbio, o que já está acontecendo”.
Lembro que, adicionalmente, temos o pré-sal produzindo hoje mais de 800 mil barris/dia de petróleo. E ainda temos um Fundo Soberano de quase US$ 400 bilhões de dólares. O que transforma "a crise" atual em crise política.
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