segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Modernizando os hortifrútis

Marcos Sawaya Jank *
Altivo Andrade de Almeida Cunha **
Supermercado em Israel
Frutas, legumes e verduras: a última fronteira de organização do agro
A mudança do entreposto da Ceagesp na capital paulistana vem ocupando espaço crescente na mídia. Discussões sobre o tráfego de caminhões na cidade, o valor da venda, o custo de uma nova estrutura e a especulação imobiliária têm deixado em segundo plano a questão essencial: qual é a real função dos grandes entrepostos de comercialização – as chamadas Ceasas, ou centrais de abastecimento – nos dias de hoje?


Supermercado em Israel
As Ceasas brasileiras comercializam 15 milhões de toneladas de FLV (Frutas, Legumes e Verduras) por ano, mas vêm perdendo espaço como canal de distribuição no Brasil e em boa parte do mundo. No embalo da busca por conveniência (praticidade), qualidade e alimentos naturais e saudáveis, 80% das compras de FLV no Brasil são hoje feitas em supermercados, que vêm roubando o espaço das feiras livres, das quitandas e mesmo das Ceasas.

Enquanto as Ceasas oferecem mais de 400 tipos de produtos e variedades, os supermercados médios trabalham com cerca de 30 itens e são bem mais seletivos em termos de produtos ofertados e principalmente de fornecedores.


Diferentemente do pequeno varejo, os supermercados forçam uma intensa concorrência de preços em um sistema que opera com volumes altos e margens apertadas, vitaminado por altas doses de propaganda focada e bem posicionada. Além disso, o canal mostra uma capacidade crescente de coordenação da cadeia produtiva tanto a montante (padrão, seleção, qualidade, transporte e embalagens) como a jusante (entrega em domicilio, por exemplo).

Para sobreviver, mais do que mudar de endereço, como vai acontecer em São Paulo, as Ceasas precisam urgentemente se adaptar aos novos tempos. Infelizmente a valorização da informação e da qualidade tem passado à margem das Ceasas brasileiras. Quase todos os grandes entrepostos brasileiros tornaram-se precários, antiquados e inseguros. Seu modelo baseado em gestão estatal pesada e ineficiente não tem assegurado a geração de bens públicos como o estabelecimento de padrões claros (pesos, medidas e classificação), a difusão de informação transparente sobre preços e origem de produtos e, principalmente, a geração de novas oportunidades que ofereçam um futuro mais promissor para os milhares de produtores, comerciantes e compradores que utilizam o canal.


É hora de pensar seriamente num modelo mais moderno e eficiente de gestão das Ceasas brasileiras e de melhor organização do sistema produtivo de FLVs. Privatização ou concessão privada (como no caso dos aeroportos) são caminhos óbvios a serem trilhados, desde que o sistema resultante assegure a geração dos bens públicos acima citados.

Na Europa, na Ásia e mesmo na América Latina, algumas centrais de abastecimento souberam se reinventar sob o conceito de "polos agroalimentares", focadas na preparação de alimentos frescos para serviços de alimentação, hotéis, restaurantes, cadeias de fast food e até mesmo para os supermercados. Mercados atacadistas ultramodernos em Lima (Peru), Santo Domingo (República Dominicana), Shenzhen e Tianjin (China) conseguiram conectar a oferta nas propriedades rurais com as novas tendências de consumo por meio de infraestruturas modernas e sistemas sofisticados de informação de preços, qualidade e rastreabilidade dos produtos ofertados. O grande entreposto de alimentos de Paris abriga hoje uma incrível incubadora de empresas de agronegócios voltadas para a oferta de alimentos frescos e pré-processados para a cidade.


O amplo acesso à informação e as redes sociais criaram novos canais e possibilidades de escolha. Os consumidores querem saber o valor de cada alimento para a saúde e como, onde e por quem foram produzidos.

Por isso, mais importante que saber para onde irá a Ceagesp paulistana é saber o que ela pretende ser quando se tornar jovem.


* o autor é especialista em questões globais do agronegócio.
** o autor é especialista em abastecimento e consultor do escritório regional da FAO para a América Latina e Caribe.



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domingo, 30 de outubro de 2016

Higuita, um goleiro que todos deveriam conhecer.

Richard Jakubaszko



Colombiano, hoje com 50 anos de idade, Higuita jogou na seleção colombiana como titular nos anos 1980/1990, e marcou época com jogadas exóticas, seja como excepcional goleiro que era, seja como goleiro-zagueiro, lateral, meio campo, e até mesmo atacante, pois arriscava sair do santuário da área de defesa e ia ao ataque. Ou defendia seu gol antecipando-se aos atacantes dos times adversários, sempre de forma surpreendente.

Genial, Higuita neste filme faz uma defesa com os pés, aliás, com os calcanhares, quem sabe com a sola dos pés, e que ficou famosa na época.

Atualmente, Higuita anda pelo mundo árabe, imagino que como treinador ou preparador de goleiros.
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sábado, 29 de outubro de 2016

Fantástica essa analogia!

Odo Primavesi
"No ventre de uma mãe havia dois bebês. Um perguntou ao outro: "Vc acredita em vida após o parto?" O outro respondeu: "É claro. Tem que haver algo após o parto. Talvez nós estejamos aqui para nos preparar para o que virá mais tarde."

"Bobagem", disse o primeiro. "Que tipo de vida seria esta?"
O segundo disse: "Eu não sei, mas haverá mais luz do que aqui. Talvez nós poderemos andar com as nossas próprias pernas e comer com nossas bocas. Talvez teremos outros sentidos que não podemos entender agora." O primeiro retrucou: "Isto é um absurdo. O cordão umbilical nos fornece nutrição e tudo o mais de que precisamos. O cordão umbilical é muito curto. A vida após o parto está fora de cogitação." 
O segundo insistiu: "Bem, eu acho que há alguma coisa e talvez seja diferente do que é aqui. Talvez a gente não vá mais precisar deste tubo físico." O primeiro contestou: "Bobagem, e além disso, se há realmente vida após o parto, então, por que ninguém jamais voltou de lá?" 
"Bem, eu não sei", disse o segundo, "mas certamente vamos encontrar a Mamãe e ela vai cuidar de nós." O primeiro respondeu: "Mamãe, vc realmente acredita em Mamãe? Isto é ridículo. Se a Mamãe existe, então, onde ela está agora?" O segundo disse: "Ela está ao nosso redor. Estamos cercados por ela. Nós somos dela. É nela que vivemos. Sem ela este mundo não seria e não poderia existir." 
Disse o primeiro: "Bem, eu não posso vê-la, então, é lógico que ela não existe." Ao que o segundo respondeu: "Às vezes, quando vc está em silêncio, se vc se concentrar e realmente ouvir, vc poderá perceber a presença dela e ouvir sua voz amorosa".

Este foi o modo pelo qual um escritor húngaro explicou a existência de Deus.

ET. O blogueiro procurou fotos na internet e nos arquivos do blog, uma foto que fosse, para representar Deus. Ao contrário do escritor húngaro, que prefere palavras, acredito que imagens representariam melhor ao que chamamos Deus. Então, escolhi as fotos (acima e abaixo), pois está em cada pedacinho do que vemos, sentimos, falamos ou escrevemos. Deleite-se com Deus...












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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

João de barro: geminado ou empilhado?

Richard Jakubaszko
A arquitetura da natureza, em fotos enviadas pelo amigo e engenheiro agrônomo, pesquisador do IAC, José Alberto Caram de Souza-Dias, um batateiro irrecuperável, mostra, conforme ele mesmo diz, que "por força da profissão, aprecio as construções de ninhos. Tenho visto que até o João de Barro tem estado preocupado com segurança na residência. Preferência de construções de ninhos tem sido maior para postes com mais fiação elétrica. Anexo duas fotos que tirei ao longo dos últimos meses, em área residencial, na cidade de Campinas, SP".

A dúvida do blogueiro permanece, se os ninhos, que parecem casas geminadas, ou um edifício, contemplam atendimento da passarada na questão da provável "urbanização da natureza", ou se é por necessidade de segurança...
Estará a natureza plagiando a humanidade?
 


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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O oligopólio da água

Richard Jakubaszko
Recebo de Portugal e-mail de Luís Amorim, cidadão luso e humanista preocupado com privatizações públicas na terrinha de além-mar. Reproduzo abaixo a denúncia publicada no jornal "O Avante". Parece o Brasil, como poderemos observar no texto da autora, que denuncia as privatizações da água dos portugueses, como exatamente já se fez no Brasil com a Sabesp e outras estatais estaduais que deveriam cuidar da água consumida por todos os brasileiros. Lamentavelmente, a denúncia se restringe à água, mas se trocarmos a palavra água por telefonia, ou ainda energia elétrica, celular, TV a cabo, petróleo (petróleo do pré-sal para breve, mas já iniciou-se a privatização, e logo a seguir das nossas sucateadas empreiteiras...), e ainda estradas, portos, aeroportos, é fácil perceber o quanto o Brasil está privatizado e entregue ao capital internacional, com a cumplicidade dos políticos e dos poderes públicos.

O oligopólio da água
Do jornal “O Avante” por Luisa Tovar
 

A luta pela água de todos e para todos é uma luta de classe
Refletir sobre política da água em Portugal (e no mundo).
O Dia Nacional da Água comemora-se a 1 de Outubro, o início do ano hidrológico em Portugal; foi criado em 1983, com o objetivo de promover, a cada ano, a reflexão sobre a água. Reflitamos, pois, sobre a política da água, que bem preciso é. Reflitamos da maneira certa, compreendendo para transformar, para mudar. Tão criticamente urgente e tão vitalmente necessária que é essa mudança.

O assunto que vos trago parece fantástico e é certamente aberrante. Mas é muito real e gravíssimo. O intuito destes poucos tópicos é despertar a vontade de maior esclarecimento e aprofundamento, porque desfazer as sombras é o primeiro passo na estratégia de defesa necessária.

O oligopólio da água
O grande capital transnacional está a construir monopólios (ou, mais rigorosamente, um oligopólio) da água – Toda a água.
O objetivo é que ninguém possa ter acesso a uma gota de água sem pagar o preço que o oligopólio quiser pedir por ela.
No próprio facto desse intuito ser uma aberração tão fantástica está a sua melhor camuflagem – têm vindo a construir esse mesmo oligopólio a passos de gigante, sem que quase ninguém acredite no que está à vista de todos.
Opera globalmente. E em Portugal está bastante instalado.

A estratégia geral é obter concessões exclusivas de todo e qualquer fornecimento de água e, idealmente, de todo e qualquer acesso de alguém à água; de forma a receber um pagamento por cada vez que alguém usa água.
Não se trata de «possuir» ou «vender» muita ou pouca água. A questão fundamental é cortar totalmente outras alternativas de acesso. O interesse é no monopólio.

Seja a degradação e indisponibilização de outras origens e possibilidades de acesso à água, sejam proibições e penalizações pesadas para a fruição gratuita ou menos dispendiosa da água, têm o exclusivo objetivo (oculto) de garantir o monopólio. Nessa linha enquadram-se regulamentações cada vez mais restritivas e inúmeras medidas mascaradas com pretextos de saúde pública ou alegada escassez.
No caso da água é possível ir instalando monopólios locais ou regionais. Quem reside ou faz agricultura num determinado local não pode ir buscar água muito longe, mesmo gratuita... pagará ao monopólio de proximidade.

As peças básicas são monopólios setoriais regionais – dos quais o mais evidente e no qual mais avançaram em Portugal é o do abastecimento de água urbano.
Estão já instalados muitos outros monopólios setoriais regionais, desde praias marítimas e fluviais exclusivas a pagantes até as barragens concessionadas que controlam o regime de escoamento de rios inteiros.
Outros estão prontos, ou quase prontos, para entrega ao oligopólio.
A legislação está em vigor, talhada à conveniência do capital.
 
Prontos para entrega
Sociedades Anônimas são detectoras de concessões fundamentais, algumas delas com delegação das funções do Estado na Administração do Domínio Público Hídrico (o que passou a ser permitido pela Lei nº58/2005, designada por «Lei da Água»). Essas S.A. são entidades de direito privado, ou seja, já foi feita uma «privatização formal». Têm estado a ser «engordadas» com poderes, infraestruturas e fundos públicos, além de medidas legislativas visando a sua rentabilidade numa óptica de interesse privado e em atropelo do interesse público. 
 
Dos exemplos mais graves, estão prontas para a alienação, ou já são total ou parcialmente privadas:
EDIA S.A. – Concessionária, em termos muito vastos, do Aproveitamento de fins múltiplos do Alqueva (muito mais amplo ainda do que a barragem e a albufeira), com delegação de funções do Estado na administração e gestão do Domínio Público Hídrico (Exerce na prática muitas funções de Autoridade da água numa vasta zona do Alentejo).
APL, Administração do Porto de Lisboa SA e APDL, Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, S.A. – Extensíssima área de jurisdição além dos portos propriamente ditos, estuários dos rios a montante do porto, vasta zona marítima e costeira. Vasta delegação de funções do Estado.

Empresas S.A. do Grupo Águas de Portugal, incluindo EPAL – Concessionárias de Sistemas Multimunicipais de abastecimento de água e/ou de águas residuais afetando a maioria dos conselhos do Continente. Tem de facto o monopólio de «fornecimento» e/ou «recepção» das águas de todos os municípios abrangidos, sejam públicos ou privados o abastecimento e saneamento direto à população. É-lhe paga a água no depósito de chegada e é pago o volume de esgoto (e as águas pluviais) que chegam à ETAR.
EDP SA – Tem concessões muito latas da maioria dos grandes aproveitamentos hidroelétricos, controlando totalmente os rios Lima, Cávado e Mondego, parcialmente o Douro e o Tejo. É quase totalmente privada.
IBERDOLA – Empresa privada transnacional com sede em Espanha, obteve concessão da cascata de 3 grandes aproveitamentos hidroelétricos no Tâmega.
EDESA – Empresa privada transnacional com sede em Espanha, obteve concessão do grande aproveitamento hidroelétrico de Girabolhos, no Mondego. 
 
Concessões leoninas
O cartel das transnacionais da água é liderado por um pequeno número de enormíssimos grupos financeiros, destacando-se, porque «abriram o caminho», protagonizaram e protagonizam algumas posições públicas mais evidentes, as duas «francesas» Veolia (Compagnie Generale des Eaux, CGE, ex-Vivendi) e Suez (Lyonnaise des eaux), com inúmeras subsidiárias de nomes diferentes. São todas tão interligadas, mutantes e intercambiantes que é difícil saber quem é quem e deixou de ser relevante. O modus operandi é comum. 
 
A carteira de monopólios em nenhuma das grandes se cinge às águas – resíduos sólidos, eletricidade, gás, telecomunicações, saúde, transportes, portos, aeroportos, prisões, são áreas de ação que frequentemente aparecem associadas, também na perspectiva de oligopólio. 
 
São sempre contratos leoninos, em que o Estado se compromete a garantir lucro certo sobre volumes de negócio grosseiramente superestimados. São-lhes entregues investimentos, infraestruturas e bens públicos, recebendo ainda verbas públicas a pretexto de se tratar de serviços de interesse público; compram a si próprios, com preços e lucros que estabelecem e direitos de patentes em seu favor, caríssimos equipamentos, materiais e produtos utilizados na atividade que debitam paulatinamente nas despesas do serviço a repor. E cabe ao Estado extorquir ao povo as fabulosas verbas requeridas pelo concessionário.

Recentemente, os grupos mais poderosos do cartel, têm vindo a largar as concessões de abastecimento de água e saneamento «em baixa» (distribuição de água e recolha de águas residuais) em grande parte porque têm vindo a ser escorraçados pelas populações e por alterações políticas nos municípios ou nos estados e muitos contratos não são renovados. Mas correm vertiginosamente para os monopólios a montante e jusante, muito mais opacos e rentáveis, com o intuito de se interpor entre a água da natureza e os prestadores do serviço público. 
 
No caso dos serviços de abastecimento de água e saneamento, as concessões dos sistemas multimunicipais (privatização das empresas das Águas de Portugal) proporcionam diretamente os monopólios cobiçados. Mas não só esses. A concessão de um aproveitamento com albufeira onde haja uma captação para abastecimento público também lhe dá controlo sobre esse abastecimento.

E a EDIA? E as administrações portuárias? E a EDP?
Esta é só uma pequenina ponta do iceberg tão imenso, e do qual tão pouco se fala ...

Política da água e a lei de bases da água do PCP
A gravíssima situação que acima se apontou sumariamente é apenas uma das muitas facetas da política da água que tem vindo a ser imposta a Portugal, na obediência servil ao capital monopolista, pelos sucessivos governos e maiorias parlamentares.
Não tem havido espaço público nem debate alargado sobre a política da água e somos inundados da propaganda dos que nos assaltam desenvergonhadamente... é muito fácil ser iludido.

O PCP tem feito numerosíssimas intervenções institucionais de oposição a esta política da água, propostas concretas alternativas; e põe em prática uma política bem diferente nos municípios CDU. Mas dados os contextos, demasiado sumárias ou específicas.
A mais completa exposição da política da água que o PCP defende encontra-se no «Projeto de Lei 119/X – que aprova a Lei de Bases da Água», apresentado à Assembleia da República em 2005.

Começa assim: «A água, elemento contínuo no ciclo hidrológico, é parte integrante e fundamental do constante movimento e evolução da natureza, determinante da composição atmosférica, do clima, da morfologia, das transformações químicas e biológicas, das condições de toda a vida na Terra, sendo insubstituível e essencial nas suas funções de suporte à vida e ao bem-estar humano, bem como à maioria dos processos produtivos. A vida e as atividades humanas dependem dessa circulação comum que liga todos os seres vivos, passados, presentes e futuros. (...)»

O artigo 6.º define a política da água: «É dever do Estado assegurar uma política da água com base na solidariedade, na unidade do ciclo hidrológico, na harmonia com a dinâmica dos processos naturais e norteada pela defesa do primado do seu caráter público».
No artigo 10 e seguintes define 9 tipos de direitos associados à água, entre os quais o direito à segurança – em relação às cheias, secas, poluição e outros riscos...
Tem 90 artigos; não é a lei que temos, mas ajuda muito a descobrir a lei que queremos – por isso é uma arma imprescindível. 
 
Luta de massas
Já há mais de uma década que cresce em Portugal uma oposição pública mais ou menos organizada à privatização da água e nas ações de rua nota-se o crescimento da sensibilidade à defesa da água pública, mas lentamente. E esse crescimento associa-se a fatos, iniciativas, debates e ações concretas.

A luta pela água de todos e para todos é uma luta de classe e insere-se na luta geral, porque não há água pública enquanto o poder político estiver subordinado ao poder econômico. Mas é uma luta específica, cujo potencial mobilizador está longe de ser alcançado. 
 
Creio que em simultâneo com as ações concretas, é preciso mais estudo, reflexão e debate, conhecer melhor para transformar... e uma enorme capacidade de contágio dessa vontade de transformação.
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terça-feira, 25 de outubro de 2016

Menten: entrevista-aula sobre fitopatologia

Richard Jakubaszko
O professor Dr. José Otávio Menten (Esalq/USP) foi o entrevistado da semana no Portal DBO, conforme se pode assistir no vídeo abaixo.
Ele é o mais novo membro do Conselho Editorial da revista Agro DBO e fará companhia a partir de agora a Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra (Tostão) e este blogueiro.
Na entrevista Menten dá sintéticas opiniões sobre resistência de insetos, sementes transgênicas, as fusões das empresas de agroquímicos, e sobre os principais problemas dos agricultores na fitossanidade das lavouras.
Seja bem-vindo Menten!


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domingo, 23 de outubro de 2016

Como e por que o mundo foi (e é) enganado sobre o aquecimento global e as mudanças climáticas (Parte 4)

José Carlos Parente de Oliveira *

Temperatura entre 1880 e 1987
O gráfico da temperatura global baseado em artigo publicado em 2006 de James Hansen e colaboradores (Proceedings of the National Academy of Sciences, PNAS, 103 (39), 14288-14293, 2006, Global Temperature Change, www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.0606291103 ), é mostrado abaixo na Figura 12 e comparado com os dois gráficos já mostrados obtidos de artigos de Hansen e colaboradores em 1980 e 1987.
 
Figura 12

Na figura nota-se claramente mudanças na base de dados de temperatura do GISS, ao longo dos anos: as baixas temperaturas dos anos 1880-1905 foram “aquecidas”; o aquecimento nos anos 1930 - 1945 foi “esfriado” e, principalmente, o resfriamento na década de 1970 foi “esquentado”.

Um aluno que cometesse tais peripécias em seu trabalho escolar seria chamado à “responsabilidade” e teria que ter uma belíssima justificativa para o que estava modificando!

A resposta da temperatura NÃO é Linear
O próprio James Hansen publicou artigo em 2005 (Hansen, J.E., 2005: A slippery slope: How much global warming constitutes "dangerous anthropogenic interference"? An editorial essay. Climatic Change, 68, 269-279), baseando-se em artigo de Petit e colaboradores publicado em 1999 (Petit, J. R., et al.: 1999, Climate and atmospheric history of the past 420,000 years from Vostok ice core by an inverse method, Antarctica. Nature 399, 429–436), reconhece e mostra de forma clara que a temperatura não responde de forma linear às variações dos dois principais gases de efeito estufa, a saber, CO2 e CH4.

Contudo, não é assim que a grande mídia propala o hipotético Aquecimento Antropogênico, para ela a temperatura da atmosfera eleva-se com o aumento da concentração de gases. E essa propagandeada “iminência de perigo” recebe o apoio e o aval de Hansen, em particular, e de todo o pessoal ligado ao IPCC.

E esse processo de enganação ainda é mais dramático quando se sabe que a influência de gases na temperatura se dá em uma escala exponencial decrescente, ou seja, a cada aumento na concentração de gases a influência desse aumento na temperatura diminui!

A seguir a Figura 13 mostra o gráfico do artigo de Hansen de 2005 referido logo acima.

O círculo na parte final do gráfico de temperatura é para advertir que as escalas temporais de Petit e colaboradores e Hansen são diferentes: cada divisão no gráfico da temperatura de Vostok representa 10.000 anos e toda a parte com a legenda Date representa apenas 200 anos. No gráfico de Petit e colaboradores esses 200 anos seriam APENAS metade do traço em azul, que está no interior do círculo.
 
Figura 13

Área de gelo no Hemisfério Norte
É muito comum a exibição de reportagens e documentários, em canais de TV, revistas e jornais mostrando uma quantidade muito grande de gelo derretendo e escorrendo feito um verdadeiro dilúvio ou mostrando enormes paredões de gelo caindo no oceano. Esses fenômenos são muito comuns nos verões do Ártico e da Antártica e são reais e naturais.

Entretanto, a mídia os noticia como se isso fosse algo fora do comum, ou anormal, ou não natural, e afirmam que esse derretimento contribui para aumentar o nível do mar e invadir as cidades litorâneas. Tais notícias são, de fato, grandes mentiras, pois é elementar que esse derretimento, além de natural, não eleva um único milímetro o nível do mar.

Mas, o que, de fato, ocorre? No verão no Hemisfério Norte, por exemplo, é comum que uma área de cerca de 40.000.000 km² de gelo desapareça entre o inverno e o verão! Ou seja, durante o verão, uma área de gelo de cerca de 40.000.000 km² desaparece, por derretimento, no Hemisfério Norte. Entretanto, essa área de gelo volta a se recompor no próximo inverno. Esse fenômeno é cíclico, como mostra a Figura 14.

As áreas de gelo nos invernos estão assinaladas pela linha azul escuro na Figura 14, e os verões são assinalados pela linha vermelha. Esse gráfico foi obtido a partir dos dados de satélite entre os anos de 1966 e 2016, analisados na Universidade de Rutgers, Nova Jersei, USA, ( http://climate.rutgers.edu/snowcover/files/moncov.nhland.txt ).

Nessa figura tem-se a variação da área de gelo no Hemisfério Norte, ao longo dos anos. Durante o inverno a área de cobertura de gelo nesse hemisfério é cerca de 50.000.000 km² maior que a sua área no verão. Por exemplo, em 2015 a área de cobertura de gelo no Hemisfério Norte variou de 47,1 milhões de km² em janeiro para 3,0 milhões de km² em agosto – assinalado pelo retângulo verde na figura. O comportamento da área de cobertura de gelo do Ártico é semelhante a esse descrito para o Hemisfério Norte.
 
Figura 14

Apesar do fenômeno do derretimento do gelo no Ártico ser absolutamente normal e natural, a mídia mostra-o como algo completamente absurdo, atípico, e uma das principais “PROVAS” de que “O MUNDO ESTÁ SE ACABANDO POR CAUSA DAS ATIVIDADES ANTROPOGÊNICAS”.

Tempestades severas
As tempestades severas são um dos ”pratos” preferidos da grande mídia e dos aquecimentistas quando querem demonstrar o perigoso aumento das atividades antropogênicas, pois elas são, para eles, o motor de todas as desgraças.

A Figura 15 mostra o gráfico, entre 1954 e 2014, do número anual de tempestades severas até tempestades violentas ocorridas nos Estados Unidos. Como se pode observar o número anual de tempestades perigosas nos últimos 25 anos, ao contrário do que afirmam as bombásticas reportagens, diminuiu relativamente aos 25 anos anteriores. É digno que se diga que nos primeiros 25 anos de registro de tempestades – entre 1954 e 1975 – a temperatura da atmosfera da Terra estava mais fria que nos anos que se seguiram.
 
Figura 15

Ao contrário do que ocorreu com o número de tempestades, houve um estrondoso crescimento na indústria de seguros: os custos médios por perdas catastróficas em 1950 foi de US$ 4 bilhões; em 1990 foi de US$ 40 bilhões e em 2005 foi de US$ 62 bilhões ( https://www.nrdc.org/sites/default/files/insurance.pdf ).

Os motivos de tais crescimentos se devem mais ao desenvolvimento das atividades econômicas que às alarmantes notícias sobre os riscos do hipotético aquecimento. As primeiras manifestações econômicas do hipotético aquecimento se fazem sentir na indústria do seguro, pois eles lidam com riscos que podem causar perdas rapidamente.

Contudo, as companhias de forma geral estão iniciando um movimento para embutir em seus custos um “planejamento, adequação, adaptação ou defesa,” aos efeitos do hipotético aquecimento global, e esses custos, é claro, serão pagos pela população. Ou seja, o grande propósito da INDÚSTRIA DO AQUECIMENTO GLOBAL ESTÁ SE MATERIALIZANDO PELA VIA DO PAGAMENTO PELA HUMANIDADE DE MAIS UMA CONTA INVENTADA PELO GRANDE CAPITAL E REPERCUTIDA POR ONG´S AMBIENTALISTAS E CONGÊNERES.

Em particular, a indústria das energias alternativas está, literalmente, surfando em busca de mais e mais dinheiro!

Atualmente, as energias solar e eólica respondem por 0,4% da energia consumida pelo mundo e os planos mais promissores é que elas representarão 2,2% em 2040, e isso ao custo de US$ 240 bilhões∕ano em subsídios até 2040 (alguns “poucos” US$ trilhões de pobres para ricos, como já é muito comum ocorrer com o auxílio prestimoso de “intelectuais” de vanguarda) ( https://www.iea.org/statistics/ ).

Ou seja, está ocorrendo uma brutal e desumana transferência de dinheiro da população para as indústrias ligadas às energias alternativas.

Toda essa dinheirama é canalizada para os países desenvolvidos, pois as energias alternativas – solar e eólica – utilizam insumos altamente sofisticados e caros: a indústria de energia solar utiliza materiais como o silício puríssimo e o dióxido de titânio, enquanto a indústria eólica utiliza compostos de alto desempenho, metais raros como o neodímio, além de aço especial e concreto.

Agora, o mais contraditório é que para o desenvolvimento dessa sofisticação, as indústrias do vento e do Sol utilizam a energia “suja” proveniente dos combustíveis fósseis: na mineração, nos processos intermediários e na purificação!

A Alemanha cantada e decantada como a campeã da energia limpa tem 10% de seu consumo originado do Sol e ventos e 50% desse consumo suprido por carvão altamente poluidor. Assim, a indústria alemã, a exemplo de indústrias de outros países desenvolvidos, polui para obter os insumos sofisticados das energias alternativas e toda a humanidade deve pagar a conta.

* o autor é físico, professor da Universidade Federal do Ceará, e é coautor do livroCO2 aquecimento e mudanças climáticas: estão nos enganando?
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