Carlos Eduardo Florence *
"Convidamos para a missa de sétimo dia da morte de José Abinegado das Flores (Zequito), a realizar-se na Capela do Colégio de Santo Eugenásio".
E lá se foi Zequito, sem adeus, sem aviso prévio e sem prazo de validade expirado, pelo pouco que eu sabia dele nestes últimos anos. Era o vivo, mais antigo, que eu conhecera. Conhecemo-nos no primeiro ano do grupo escolar, no recreio rolou uma bola e atrás dela não há moleque que não se arrebente aos dentes na captura e na luta. Zequito era desenvolto no traquejo da pelada. Sempre foi bem melhor do que eu, embora eu tenha demorado a admitir, principalmente para o meu próprio orgulho.
Houve pequena ruptura, na adolescência, causada pela Anita, minha paixão inesquecível naquela fase e que após três meses de profundo amor declarou-me estar apaixonada pelo Zequito por ser muito mais bonito, inteligente e, principalmente, carinhoso. Alguns pileques e o afastamento do Zequito durou só até ela o escambar, também, três meses depois, pelo Vazinho, beque central, pois era muito mais elegante, bem-humorado e romântico do que ele. De trimestre em trimestre a pobre Anita espatifou-se no derradeiro. Casou para sempre com o Rola, até que um último enfarte qualquer os separasse. Rola era crápula de carteira assinada, alérgico ao trabalho, estroina pós-graduado, jogador de baralho, aonde até não se dava mal, pois roubava com habilidade e sem parcimônia. A desgraça é que sempre tinha uma barbada no Jóquei Clube que levou tudo e mais algumas casas que Anita herdou.
Cheguei cedo ao evento. Divagava nestes antigos, quando, entra Carmelinho, que corria pela ponta esquerda no então, tirando sempre dois metros de vantagem de qualquer marcador, embodocara como anzol de corveta. Pela porta lateral, só de lado para ultrapassar, invade uma matrona desproporcional à imaginação. Era ela, Carlininha? Não era justo que aquele corpo e aquele rosto, nos quais eu viajara tanto nos bailes domingueiros, se transmudasse em maciças arrobas mal distribuídas.
Tragédias conhecidas ou não identificadas por mim. Em retirando passei, de soslaio, pela Doquinha, que fora linda, e portava artrose visível em uma plástica cubista Picassiana. Sonhara com ela tantas vezes. Sai do evento com a firmeza de propor às autoridades eclesiásticas que com os modernos meios de comunicação, as cerimônias de Sétimo Dia, a depender da idade do grupo social, sejam feitas só eletronicamente. Só.
* o autor é economista, blogueiro, escrevinhador, e diretor-executivo da AMA - Associação dos Misturadores de Adubos.
Reproduzido do blog: http://carloseduardoflorence.blogspot.com.br/
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