quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Misturas de agroquímicos em tanque. Pode ou não pode?

Richard Jakubaszko 
Na edição da Agro DBO de fevereiro/18 colocamos os pingos nos "is" de mais uma hipocrisia comercial, um costume que é praticado no Brasil por 100% dos agricultores, mas quase todos negam. Na vida e no dia a dia as misturas são consideradas proibidas, apesar de não haver nada de ilegal.

Registrei no editorial da edição:
Enquanto permanecer o conservadorismo, avalizado pela hipocrisia dos interesses comerciais, não haverá consenso para liberação do uso de misturas em tanque de agroquímicos, como desejam os agricultores.
A prática de realizar misturas é colocada nua e crua na matéria de capa desta edição da revista Agro DBO, o “Fim do tabu”, empreitada de difícil realização por falta quase absoluta de agricultores que admitam de público serem praticantes dessa “ousadia”, apesar de ser uma prática de uso generalizado pelos produtores, mas que é equivocadamente rotulada de ilegal. O jornalista Ariosto Mesquita, autor da reportagem, teve dificuldades, mas descobriu raros produtores e pesquisadores dispostos a admitirem que praticam “algo errado”, ou melhor, que “cometem um crime”, ao fazer misturas.


Ou seja, todo mundo é politicamente correto, todos fazem as misturas em tanque, mas não admitem a prática, que, afinal, nem é ilegal, conforme se comprovou junto às autoridades.

Após a publicação por Agro DBO (edição nº 95), das Tabelas de Compatibilidades físicas e químicas de misturas em tanque de agroquímicos e fertilizantes foliares, os atores do mercado, governo, pesquisadores, empresas fabricantes de agroquímicos, entidades associativas, movimentaram-se no sentido de colocar ordem no baile. Ao pedido feito pelo Consórcio Antiferrugem, para que o governo autorize o uso de misturas em tanque, o próprio governo teve de admitir que a prática não é proibida. As indústrias de agroquímicos adotam a política da avestruz, e insistem no velho chavão de que recomendações em receituários devem limitar-se ao que consta nos rótulos.
 

Nestes, não há nenhuma menção sobre misturas, no máximo informam que a calda em tanque deve estar em um nível de pH compatível com o produto. Assim, misturas estão “proibidas” de serem feitas, dada a necessidade de o agricultor ter de apresentar receita agronômica para adquirir qualquer agrotóxico. Para superar o problema, com o clássico jeitinho brasileiro, agrônomos emitem múltiplas receitas agronômicas individuais, e as recomendações são sempre verbais.

Agro DBO, em vista das necessidades dos agricultores, em situação de visível desconforto, sugere enfaticamente que os interessados participem do debate diante da “Consulta pública” aberta pelo Ministério da Agricultura.

Alguns atores ainda agem de forma contrária ao objetivo de liberar a adoção da prática. A Anvisa, por exemplo, já antecipou que não concorda, nem com a consulta e tampouco com seus resultados, o que é lamentável. As entidades associativas, com exceção da Aenda – Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas permanecem em atitude platônica, não se comprometem agora, para tomarem outras decisões num futuro breve. Pura hipocrisia comercial.

No vídeo abaixo, outras matérias da edição:




.

2 comentários:

  1. Caro Richard
    Excelente iniciativa da Agro DBO. De fato todos os envolvidos no tema, sem exceção acabam tirando o corpo fora.
    Existem alguns aspectos técnicos que devemos considerar:
    A maioria das tabelas e aplicativos feitos para redução de riscos têm falhado um muito.
    Dois produtos que são normalmente compatíveis entre si, podem ter seus resultados alterados pela qualidade da água. temos também aquela incompatibilidade que não forma sólidos no tanque, mas produz inativação de um dos defensivos em questão.
    Nossos agricultores por medida de economia estão reduzindo brutalmente os volumes de solução por hectare, e nestas elevadas concentrações, o que era compatível o deixou de ser.
    Outro fator importante é o número de produtos colocados nos tanques e a quantidade de combinações geradas por esta prática, sendo quase impossível prever os resultados que virão, mesmo que com suporte de laboratórios e centros de pesquisas.
    Uma das formas de se reduzir riscos seriam equipamentos que teriam apenas água no tanque e reservatórios com produtos injetados e misturados pouco antes das pontas e o equipamento teria 2 ou 3 barras com fileiras de pontas para cada produto.
    Proibir por não saber o que fazer não é uma boa resposta. Nosso agricultor é muito bom e continuará buscando soluções por conta própria.
    As incompatibilidades tem sido usadas como bode espiatório para fracassos de alguns produtos também.
    Produtos podem ser incompatíveis entre si, e não existe um produto incompatível com outro. Parece a história do casal que não se entende e a mulher conclui com a frase. Você é incompatível comigo... Como se ela não fosse incompatível com ele.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quem enviou esse comentário (acima), em termos anônimos? Imagino que esqueceu de assinar, mas deve ter uma assinatura, pois é relevante, pertinente e inteligente, além de mostrar experiência. Por favor, identifique-se.

      Excluir

Obrigado por participar, aguarde publicação de seu comentário.
Não publico ofensas pessoais e termos pejorativos. Não publico comentários de anônimos.
Registre seu nome na mensagem. Depois de digitar seu comentário clique na flechinha da janela "Comentar como", no "Selecionar perfil' e escolha "nome/URL"; na janela que vai abrir digite seu nome.
Se vc possui blog digite o endereço (link) completo na linha do URL, caso contrário deixe em branco.
Depois, clique em "publicar".
Se tiver gmail escolha "Google", pois o Google vai pedir a sua senha e autenticar o envio.