terça-feira, 9 de outubro de 2018

Não acabo amizade por causa de política

Luís Fernando Veríssimo *
Se você concorda que os portugueses não pisaram na África e que os próprios negros enviaram seus irmãos para nos servir, acabo a amizade pelo desconhecimento da História.

Se você concorda que de 170 projetos, apenas 2 aprovados, é o mesmo que 500, acabo a amizade por causa da Matemática.

Se você concorda que o alto índice de mortalidade infantil tem a ver com o número de nascimentos prematuros, acabo a amizade por causa da Ciência.

Se você concorda que é só ter carta branca para que a PM e a Civil matem quem julgarem merecer, acabo a amizade por causa do Direito.

Se você concorda que não há evidências de uso indevido do dinheiro público, mas acha que é mito quem usa apartamento funcional “pra comer gente”, acabo a amizade pela Moral.

Se você concorda que Carlos Brilhante Ustra não foi torturador e que merece ter suas práticas exaltadas, acabo a amizade por falta de Caráter.

Se você concorda que o Bolsonaro participou, aos 16 anos, da perseguição ao Lamarca, acabo a amizade por falta de Verossimilhança.

Se você concorda que não temos dívida social com um povo que foi arrancado do seu mundo pra servir a outro e que diferenças de tratamento étnico-racial é historinha, acabo a amizade por Racismo.

Se você concorda que as mulheres devem ganhar menos por gerar vidas e que são frutos de fraquejadas, merecendo serem estupradas ou não, de acordo com a sua aparência, acabo a amizade por Misoginia.

Se você concorda que não há possibilidade das pessoas viverem sua sexualidade livremente, com direitos e deveres como qualquer cidadão ou cidadã, mas que devam apanhar para aprender o que é certo, acabo a amizade por Homofobia.

Como vocês podem ver, não acabo a amizade por causa de política.

Acabo pela ignorância, truculência e pelo desrespeito que acompanha quem diz que não se acaba amizade por causa de política.

O fascismo não se discute, se combate.

* o autor é escritor

NOTA DO BLOGUEIRO:
Publiquei o texto acima, creditando-o a Luiz Fernando Veríssimo, pois assim me foi encaminhado. Entretanto, não consegui confirmar a autoria. Como os textos de Veríssimo são publicados apenas em alguns jornais, especialmente O Globo, e restrito a assinantes, dificilmente são reproduzidos pelo Google, dificultando a confirmação da autoria.

Este blogueiro, por considerar o texto acima uma ideia brilhante, lúcida, acredito que até o próprio Veríssimo avalizaria seu conteúdo, é por isso que o publiquei aqui no blog. Se alguém souber se é do Veríssimo, ou de outrem, atualizo o comentário. O texto está sendo difundido pela qualidade de seu conteúdo, e não pelo nome famoso do pseudo autor.
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5 comentários:

  1. Concordo em gênero, número e grau. Parabéns e um abraço, Richard.
    Rogério Furtado

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  2. O Veríssimo de sempre. Salve Veríssimo!

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  3. É só entrar em contato com ele pedindo confirmação que ele confirma ou não. Para isso existe e-mail e outros meios virtuais.

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    Respostas
    1. Lia, eu não sei qual é o e-mail do Veríssimo, caso contrário perguntaria. De toda forma, conforme escrevi, o texto é bom, a ideia é ótima, por isso publiquei, independentemente de quem seja o autor.

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