domingo, 7 de outubro de 2018
Votar é incrível
Eliane Brum *
Acabei de votar. Eu fico muito emocionada quando voto. Vivi a ditadura e sei a dor que é não poder votar. A dor que é não pode falar, a dor que é não poder escolher, a dor que é saber que sua família é vigiada, o medo que é esperar o pai voltar do quartel onde foi chamado por ser “subversivo”, a dor que é o irmão não voltar de uma noite de movimento estudantil, a dor que é saber que a mãe foi delatada pelas suas colegas na escola onde dava aula 48 horas por semana. A dor que é ter livros escondidos, porque proibidos pelo regime, a dor que é ter medo de cada coleguinha que vai brincar na sua casa porque pode contar para os pais o que descobriu no esconde-esconde. E os pais podem contar àqueles que se autoproclamaram senhores da vida e da morte. E então é você que vai se sentir culpada pelo horror que vai acontecer aos seus pais e à sua família. Eu sei o que é o pavor dos gritos dos que são torturados, os gritos que quem não esconde a cabeça debaixo do travesseiro escuta mesmo que os ouvidos não consigam alcançar os porões. O horror dos mortos sem corpo, sumidos pelas mãos de agentes de Estado, os mortos que as mães e os pais não conseguem sequer sepultar.
Acho que muita gente se esquece do horror – ou nunca o viveu e não se importa com o que os outros viveram. Acho que muita gente só se importa consigo mesma e acredita que o horror nunca chegará à sua porta. Acho que muita gente não se importa porque acredita estar a salvo. Mas o horror chega. A história nos mostrou, inúmeras vezes, que de alguma maneira ele chega.
Acho que muita gente esquece o quanto é incrível votar. Respeito quem não vota. Mas lamento.
Votei feliz, apesar das sombras que nos ameaçam neste momento. Votei consciente, com meus votos anotados, com meus votos muito bem estudados. Votei orgulhosa por votar. Votei com o coração batendo forte porque estou viva e tenho dentro de mim essa alegria invencível. E votei vestida de branco.
* a autora é jornalista.
Texto publicado em seu Facebook
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Acabei de votar. Eu fico muito emocionada quando voto. Vivi a ditadura e sei a dor que é não poder votar. A dor que é não pode falar, a dor que é não poder escolher, a dor que é saber que sua família é vigiada, o medo que é esperar o pai voltar do quartel onde foi chamado por ser “subversivo”, a dor que é o irmão não voltar de uma noite de movimento estudantil, a dor que é saber que a mãe foi delatada pelas suas colegas na escola onde dava aula 48 horas por semana. A dor que é ter livros escondidos, porque proibidos pelo regime, a dor que é ter medo de cada coleguinha que vai brincar na sua casa porque pode contar para os pais o que descobriu no esconde-esconde. E os pais podem contar àqueles que se autoproclamaram senhores da vida e da morte. E então é você que vai se sentir culpada pelo horror que vai acontecer aos seus pais e à sua família. Eu sei o que é o pavor dos gritos dos que são torturados, os gritos que quem não esconde a cabeça debaixo do travesseiro escuta mesmo que os ouvidos não consigam alcançar os porões. O horror dos mortos sem corpo, sumidos pelas mãos de agentes de Estado, os mortos que as mães e os pais não conseguem sequer sepultar.
Acho que muita gente se esquece do horror – ou nunca o viveu e não se importa com o que os outros viveram. Acho que muita gente só se importa consigo mesma e acredita que o horror nunca chegará à sua porta. Acho que muita gente não se importa porque acredita estar a salvo. Mas o horror chega. A história nos mostrou, inúmeras vezes, que de alguma maneira ele chega.
Acho que muita gente esquece o quanto é incrível votar. Respeito quem não vota. Mas lamento.
Votei feliz, apesar das sombras que nos ameaçam neste momento. Votei consciente, com meus votos anotados, com meus votos muito bem estudados. Votei orgulhosa por votar. Votei com o coração batendo forte porque estou viva e tenho dentro de mim essa alegria invencível. E votei vestida de branco.
* a autora é jornalista.
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Um comentário:
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Richard,
ResponderExcluirconsidero que a unica democracia "menos imatura" atualmente e' a da Suica. Mas ha' muito o que melhorar, em todo o planeta. A comecar pelas tecnologias de impostos. Ha' formas muito simples de fazer o Estado superavitario em questao de meses, em paralelo com a desburocratizacao da relacao com o fisco (pessoa fisica e juridica paga 1.4% sem papelada com o governo - impostos sao arrecadados automaticamente pelos bancos e anonimamente), a exemplo das propostas da ADT nos EUA (ver The Automated Deposit Tax
-->http://www.autodeposittax.com/).
SDS Gerson
A System for the Complete Funding of the Federal Government
Using Certified data published by the Bank of International Settlements, provided by the US Federal Reserve and Treasury
1) The entire 2015 Federal Budget could have been funded with an excess;
2) ALL Federal taxes, regulatory and excise fees for individuals and business including income, could have been replaced;
3) Individual and business interactions with the IRS and all tax retuns could have been eliminated;
ADT Around the World Balancing budgets one Country at at time
United Kingdom 0.21%
Germany 0.38%
United States 1.0%
China 1.4%
Brazil 1.4%
France 1.6%
India 1.9%
Russia 3.6%
Mexico 4.0%
Italy 4.4%
Japan 7.8%
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Economics Everywhere, Politics Nowhere: Switzerland's Six Pointers Towards Hope For Western Civilization
-->https://www.zerohedge.com/news/2018-10-04/economics-everywhere-politics-nowhere-switzerlands-six-pointers-towards-hope
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Economics Everywhere, Politics Nowhere: Switzerland's Six Pointers Towards Hope For | Zerohedge
-->https://www.youtube.com/watch?v=VQTOLGNiysY Published on 5 Oct 2018
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A democracia direta
-->Economics Everywhere, Politics Nowhere: Switzerland's Six Pointers Towards Hope For Western Civilization
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Como a democracia direta se ampliou durante décadas
-->https://www.swissinfo.ch/por/explorar-600-vota%C3%A7%C3%B5es-nacionais_-como-a-democracia-direta-se-ampliou-durante-d%C3%A9cadas-/41477412
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