quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Na pesquisa, o grande desafio do século XXI: produzir mais alimentos.

Richard Jakubaszko


Na edição 32, da DBO Agrotecnologia,  set/out 2011, ouvimos cientistas de várias áreas da pesquisa brasileira para saber como a pesquisa dará respostas às necessidades de se aumentar a produção e a produtividade do agronegócio brasileiro.

No editorial, registrei o que pensa e o que deveria pensar a pesquisa:

A matéria de capa da edição é um convite à reflexão, e isto vale para produtores rurais, pesquisadores, empresários e governantes. Pois há algo errado com o pensamento humano, em termos individuais e mesmo no coletivo. Pelo crescimento ainda de forma descontrolada das populações, e esse é o erro coletivo, a FAO / ONU alertou sobre a necessidade de produzirmos mais alimentos, ao invés de sugerir planos de redução do crescimento demográfico.
Enquanto os produtores rurais, para produzir mais alimentos, enfrentam limitações impostas pela natureza – falta de água e de terras férteis – ou pela imprevidência governamental, na ausência de infraestrutura, os cientistas nos dizem quais serão as tecnologias prováveis. Informam que já existem tecnologias, e que elas estão disponíveis, mas falta difundir, e convencer os produtores a usarem essas ferramentas.
 
Ao mesmo tempo, é lamentável assistir-se ao quase desmonte de órgãos centenários de pesquisa – como os Institutos Agronômico de Campinas, Biológico, Zootecnia etc., em São Paulo – pela falta de estímulos aos missionários da ciência. Enquanto isso, alguns pesquisadores informam que trabalham com linhas de pesquisa ainda não referendadas pelos seus pares, e onde não há consenso, como a questão do aquecimento global, por exemplo, já que há divergências cruciais, e outros cientistas negam esse vaticínio. E esses são os erros individuais. 
Então, é lícito concluir, a pesquisa joga dinheiro público pelo ralo ao pesquisar plantas tolerantes ao estresse hídrico – seria útil a existência de plantas assim, mas não como salvadoras da pátria.
Sem tempo para refletir, pesquisadores e humanidade vão em frente, os produtores rurais aguardam soluções. As pessoas fingem que não terão problemas com alimentos no futuro, e os ambientalistas preferem proibir tudo no presente.

Marketing da Terra
Depois de esmiuçar as previsões dos cientistas na matéria de capa, que poderá ser lida na versão impressa ou no site da revista (no www.dboagrotecnologia.com.br ) apontamos no Marketing da Terra, nesta edição, uma proposta concreta de como viabilizar-se a difusão dos resultados das pesquisas, a qual transcrevo a seguir:

Como difundir as 
tecnologias geradas pela pesquisa
Debateram-se na presente edição, através da matéria de capa, as soluções previstas e recomendadas pelas ciências agronômicas para alavancar caminhos que aumentem a produtividade das lavouras brasileiras de modo a permitir que o Brasil consiga atender ao desafio proposto pela FAO / ONU de dobrarmos nossa produção agropecuária.
 
Um ponto em comum destacou-se entre os pesquisadores entrevistados: falta difusão de tecnologias, especialmente entre a chamada agricultura familiar (AF).
Nos dois últimos anos o segmento da AF tornou-se o salvador da pátria para a indústria de tratores e implementos agrícolas, adquirindo tratores a juros baixos.
Invariavelmente foi o primeiro trator, e ainda os primeiros implementos. Pois é chegada a hora de levar a esses mesmos produtores, já conhecidos, todos com nome e endereço fornecidos às indústrias, algumas pitadas de tecnologia, que garantam a eles aumentar produção e produtividade e para que possam pagar as dívidas contraídas.
 
A revista DBO Agrotecnologia propõe ao Governo Federal e aos membros do legislativo, Câmara dos Deputados e Senado, independentemente de se aprovar e ressuscitar a EMATER, ora em discussão no Congresso, que se implante um programa social aos moldes do Grupo 4 S (Saúde para Sentir, Saber para Servir), ou Projeto Rondon (os dois programas tiveram amplo sucesso nos anos 1960 a 1980), formado por universitários em final de curso das ciências rurais de todas as faculdades públicas do País, sejam de Agronomia, Veterinária, Zootecnia, Engenharia Florestal e até mesmo de Economia. Seriam os mensageiros das tecnologias básicas a serem transmitidas ao imenso contingente de produtores rurais pertencentes à Agricultura Familiar.

Esses estudantes, por 3 ou 4 ou 6 meses cada um, prestariam serviços à sociedade, sem remuneração, mas em pagamento ao curso recebido gratuitamente. Esse tempo, uma espécie de residência, como faz a Medicina, ajudaria os formandos a se preparar melhor para o futuro, como profissionais, mas permitiria também que se difundisse, nos mais longínquos rincões deste País, o conhecimento mais moderno, novas técnicas de plantar e criar, proporcionando uma melhoria excepcional da produção de alimentos básicos como milho, feijão, arroz, mandioca, e ainda hortifrutis em geral.
 
Como benefício adicional ter-se-ia o crescimento da renda média dos produtores rurais enquadrados na AF. E, óbvio, pela ascensão social e econômica, tornar-se-ão consumidores não apenas de mais insumos e de novas tecnologias, mas usuários de produtos tipicamente urbanos, como eletrodomésticos, automóveis, roupas, móveis etc., ampliando e fortalecendo o excepcional mercado brasileiro de consumidores. Como já vimos no passado recente, uma garantia contra as crises econômicas que se desenham no mundo além fronteira.
 
Inúmeros profissionais das ciências agrícolas, hoje em vias de se aposentar, ou já aposentados, passaram pelos programas do Clube 4 S ou do Projeto Rondon. Guardam com carinho na memória, ainda hoje, as gratificantes vitórias conquistadas, sem contar a alegria de participarem, como jovens, da primeira aventura pré-profissional de transmitir os ensinamentos recebidos.
Adicionalmente, um programa como este que propomos, poderá ser “administrado” até mesmo pela futura Emater que agora se pretende reativar, para levar assistência técnica a todos os produtores rurais.
 
Mas pode se tornar altamente produtivo se for feito de forma estrategicamente inteligente, e ainda reduzir o gigantismo de mais uma estatal que, por falta de salários condizentes, se torne apenas mais um cabide de empregos de eternos insatisfeitos. Os custos são quase zero: estudantes não remunerados viajam para outros estados pelos aviões da FAB, hospedam-se nas residências dos próprios produtores, em escolas agrícolas, ou em indicações da prefeitura.
Os benefícios seriam enormes!
Com a palavra os senhores legisladores e os nossos dignos governantes.
_

6 comentários:

  1. Richard, como sempre pegando na veia...
    Fantástica lembrança dos programas dos idos 60 embalados no ufanismo do "Brasil Grande", mas estrategicamente executados para fazer o interior crescer e acompanhar o ritmo da cidade. Sem dúvida promover a expansão do conhecimento é o melhor caminho, sempre! Todas as sociedades que aumentaram seu saber tiveram um salto de progresso, e não será diferente se sua sugestão for implementada. Parabéns!

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  2. Rodrigo Costa Meirelles10 de novembro de 2011 às 08:14

    Richard,
    parabéns por mais essa proposta de difusão das tecnologias geradas pelas pesquisas. Se o governo implementar essa proposta dá para dobrar a produção de alimentos no Brasil.
    Qual é o deputado federal que vai abraçar essa ideia?
    Rodrigo Costa Meirelles

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  3. Olá Richard,
    Suas postagens são sempre realistas e nos informa sobre assuntos de extrema relevância para o Brasil e o Mundo, que muitas das vezes são assuntos esquecidos pela "grande mídia".
    Sou estudante de Agronomia no Estado de Minas Gerais (UFV), digo com muito orgulho, porém com toda humildade, é umas das melhores da América Latina. Por ser uma universidade de peso na área da pesquisa, observo um certo esquecimento quando se fala em extensão rural, ou seja, difusão de tecnologias ao pequeno produtor, que na minha concepção, compõe um dos tripés de nossa agropecuária, contudo, nem sempre recebe seu devido mérito. Como estudante, sinto uma certa insegurança quando penso que um dia estarei gerenciando uma propriedade rural ou mesmo prestando algum trabalho de assistência técnica. Esse programa 4S, que muitos de meus professores, com certeza participaram na época de estudantes, seria uma excelente forma de minimizar essa insegurança, que não é só minha! Principalmente, seria uma porta de entrada para difundir aos pequenos produtores novas técnicas de produção mais rentáveis, conservativas (meio ambiente), produtivas, e, que diretamente os fortaleceriam, diminuindo o tão temido êxodo rural. Como você escreveu muito bem na matéria, nós estudantes temos que pagar por todos esse anos de estudo.
    Conhecimento não se guarda para si mesmo, é dever do profissional repassá-lo, nem sempre à troca de um bom salário.
    Richard, Deus lhe abençoe, que com as bençãos de Deus você possa continuar trabalhando de forma honrosa e a serviço do nosso País.

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  4. Helio Tollini, Brasília10 de novembro de 2011 às 10:39

    Caro Richard,
    esse é menos um dilema do que grande oportunidade, não só para países com excedentes, como o nosso, mas para todos aqueles que podem e até agora não exploraram seus potenciais agrícolas. Se não olharmos a coisa assim, EUA e UE vão continuar dizendo que precisam subsidiar para gerar excedentes para alimentar os pobres.
    Um abraço
    Eng. Agr. Helio Tollini

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  5. Prezado Richard,

    A Extensão Rural realmente é a base do processo de crescimento da produção agrícola brasileira, na difusão de tecnologias, quer no compartilhamento de experiências exitosas já existentes no campo.
    Infelizmente de 2004 até aqui com a edição do PNATER não evoluímos muito: falta técnicos, condições materiais, entre outros.
    É preciso que toda a sociedade se mobilize para que tenhamos refundado o SIBRATER.
    Parabéns pelo texto!
    Gustavo José

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  6. Richard
    este e' um tema muito importante, nao ha' muito mais espaco para debate e sim execucao. Quem esta' bem informado e quer ter mais saude, mais retorno no investimento (nao medido apenas em dinheiro mas tambem sustentabilidade, energia, meio ambiente, saude, etc) e mais clientes ja' esta' com a agroecologia e producao organica ha' anos... Veja artigo das Nacoes Unidas sobre como dobrar a producao de alimentos em 10 anos, neste relatorio descrevem brevemente experiencias com agroecologia em 57 paises com aumento medio do rendimento em 80% sem uso de pesticidas ou fertilizantes sinteticos. Mas ha' exemplos bem melhores no mundo afora, em escala COMERCIAL, basta pesquisar. Para economizar o tempo de leitores alguns links uteis estao abaixo.
    SDS
    Gerson Machado
    ===
    http://www.agroeco.org/socla/archivospdf/Agroecologia_-short-port.pdf
    Agroecologia A dinâmica produtiva da agricultura sustentável Miguel Altieri 5a.edição
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    http://redalyc.uaemex.mx/pdf/752/75240703.pdf
    Agricultura sustentável e a conversão agroecológica
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    http://www.ebda.ba.gov.br/upload/informe/Cartilha%20Rimada%20de%20Agroecologia.pdf
    Cartilha Rimada de Agroecologia
    ===
    http://www.unbcds.pro.br/publicacoes/ClaudioJacintho.pdf
    MSc: A AGROECOLOGIA, A PERMACULTURA E O PARADIGMA ECOLÓGICO NA EXTENSÃO RURAL: UMA EXPERIÊNCIA NO ASSENTAMENTO COLÔNIA I – PADRE BERNARDO – GOIÁS
    ===
    http://ddd.uab.cat/pub/revibec/13902776v5p13.pdf
    http://www.ecoeco.org.br/conteudo/publicacoes/encontros/vi_en/artigos/mesa1/analise_desempenho_indicadores.pdf
    Analise do desempenho econômico e ambiental de diferentes modelos de cafeicultura em São Paulo
    ===
    http://www.naturalnews.com/031917_eco-farming_crop_yields.html
    Eco-farming outperforms GMOs at improving crop yields and growing more food, says report
    ===
    http://www.srfood.org/images/stories/pdf/press_releases/20110308_agroecology-report-pr_en.pdf
    http://unscn.org/layout/modules/news/documents/Agroecology_press_release.pdf
    Eco-Farming Can Double Food Production in 10 Years, says new UN report
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    http://www.organiccenter.org/reportfiles/Nutrient_Content_SSR_Executive_Summary_FINAL.pdf
    State of Science Review: Nutritional Superiority of Organic Foods
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    http://www.srfood.org/index.php/en/calendar-/1754-1213-december-prerecorded-video-message-to-the-brazilian-congress-of-agroecology-fortaleza-brazil
    12/13 December: Prerecorded video message to the Brazilian Congress of Agroecology (Fortaleza, Brazil)
    On 12/13 December, Olivier De Schutter will address the Brazilian Congress of Agroecology by pre-recorded video message.
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    http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=37704&Cr=farming
    UN expert makes case for ecological farming practices to boost food production
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    http://www.rodaleinstitute.org/files/FSTbookletFINAL.pdf
    http://www.rodaleinstitute.org/fst30years
    Farming Systems Trial The hallmark of a truly sustainable system is its ability to regenerate itself
    Organic yields match conventional yields.
    Organic outperforms conventional in years of drought.
    Organic farming systems build rather than deplete soil organic matter, making it a more sustainable system.
    Organic farming uses 45% less energy and is more efficient.
    Conventional systems produce 40% more greenhouse gases.
    Organic farming systems are more profitable than conventional.
    ===
    http://www.acresusa.com/magazines/magazine.htm
    Acres U.S.A. is North America's oldest, largest magazine covering commercial-scale organic and sustainable farming.
    ===

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