Diretor e Editor Chefe
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
A hora da escolha
A hora da escolha
 A campanha eleitoral do PSDB e das elites  conservadoras neste ano traz características surpreendentes, porque consideradas  superadas há muito tempo. É um renascer conservador que usa de todos os métodos,  manipula, distorce, falseia, na tentativa de seduzir o eleitor sem dizer a que  veio sem apresentar sequer um programa de governo.
 Temas  como a crença em Deus, o aborto, a liberdade de imprensa, a corrupção, dominam a  agenda eleitoral e, em si, já demonstram que não é o futuro do Brasil que os  preocupa, mas desclassificar e derrotar seus adversários por quaisquer meios. E  é tal a manipulação que, neste momento eleitoral, apresentam estes temas como se  fossem da alçada de decisões da Presidência da República, o que não é  verdade.
 A  separação entre a Igreja e o Estado é um dos princípios que funda o Estado  moderno, que também é assegurada na Constituição de 1988 e em todos os países  ocidentais. Crer ou não em Deus, ter ou não uma religião, são temas da vida  privada, de foro pessoal, e assim devem continuar para garantir o respeito à  diversidade e pluralidade culturais, fundamentos da democracia e da paz, ou  voltaremos aos tempos das inquisições e da fogueira para sacrificar os  hereges. 
 A  descriminalização do aborto não é uma “política para matar criancinhas”, como  declara solertemente a oposição. É uma questão de saúde pública que se propõe  para evitar a morte de milhares de mulheres, condenadas a enormes riscos ao  realizarem seus abortos de forma precária e clandestina, sem qualquer apoio do  poder público. E é importante frisar que também aqui, neste caso, a decisão por  adotar estas políticas não é da Presidência da República, mas sim do Congresso  Nacional.    
 A  questão da corrupção, ela sempre esteve presente na política brasileira, na  democracia das elites, que se servem deste expediente na defesa de interesses  privados, afrontando a dimensão pública e o interesse coletivo. Se é verdade que  os expedientes do “dá lá, toma cá”, estão presentes também no atual governo, o  que é lamentável e demanda uma reforma política para instituir controles  democráticos efetivos sobre Executivo, Legislativo e Judiciário, não dá para o  PSDB posar de vestal, basta lembrar as denúncias da compra de votos que  permitiram a FHC modificar a Constituição e ter seu segundo  mandato.
 Esta  agenda eleitoral, fundamentalista e despolitizada, que não trata das questões  que importam para o futuro do país, só ganhou importância pelo destaque que a  mídia lhe deu – TVs e jornais – que atuaram de maneira articulada, impondo sua  versão dos fatos e tentando transformá-la em realidade. Nunca é demais lembrar  que uma das questões centrais da democratização de nosso país é retirar do  controle de apenas 9 famílias estes meios de comunicação. A tão propalada ameaça  à liberdade de imprensa nada mais é que a defesa deste oligopólio, que por sua  vez representa o conservadorismo, agora mais radical neste fim de campanha  eleitoral.
 Assistimos a um deslocamento ideológico onde o PSDB  passa a ocupar o lugar do DEM, e o PT o lugar do PSDB. Esta situação abriu um  espaço à esquerda no espectro político. Se Marina tivesse se aliado aos pequenos  partidos à esquerda, que nasceram como dissidências do PT, poderíamos ter tido  uma opção eleitoral à esquerda, mas este não foi o caso, como se pode ver com o  alinhamento informal do PV à candidatura do PSDB. Marina paga agora o preço de  sua ingenuidade.  
 A  expressiva votação de Tiririca para deputado federal combina com a  despolitização desta campanha e com um sentimento de rejeição pela política e  pelos políticos de importantes setores da população, que desconfiam da falsidade  das campanhas eleitorais e desta manipulação midiática. Afinal, como as  candidaturas à presidência prometem mais creches, escolas, saúde, se estes  equipamentos e serviços são responsabilidade dos governos municipais?  Por que  não falam de cambio, política externa, integração regional, projeto de  desenvolvimento?
 A  verdade é que as candidaturas se dobraram à lógica das pesquisas eleitorais e  das estratégias de marketing. Falam o que o eleitor quer ouvir. Prometem como  sempre prometeram, a cada eleição. O importante nas condições atuais é construir  critérios para avaliar as opções. E um deles pode ser o de comparar os governos  que estes dois partidos realizaram e avaliar não só o quanto cumprem de suas  promessas, mas o que fizeram pelo povo brasileiro.
 Embora  eles não estejam enunciados com clareza, existem dois projetos para o Brasil em  disputa. O do PT é a continuidade de um processo de crescer favorecendo as  grandes empresas nacionais e redistribuindo alguma (pouca) riqueza, permitindo a  inclusão dos mais pobres. É a isso que se chama social democracia, uma antiga  bandeira do PSDB. Já o projeto do PSDB é radical no sentido de favorecer o livre  mercado, como se estivéssemos nos anos 90...  E o livre mercado não tem nenhum  projeto de desenvolvimento autônomo para o Brasil e nem se preocupa com o  interesse público. Não é preciso dizer que esta opção só favorece as elites  tradicionais, que se transformam em sócias menores do capital internacional,  quando o fazem. Nesse caso, nossas riquezas irão beneficiar outros senhores e a  desigualdade aumentará.
 Mas,  mesmo com estas condições que deixam tanto a desejar, temos que fazer uma  escolha.  Para muitos não será uma escolha pela sua identidade pessoal com um  projeto político. Terá de ser uma avaliação em função das opções concretas. Falo  especialmente para os que votaram em Marina no primeiro turno, para os que  anularam o voto, para os que se abstiveram. 
Silvio Caccia Bava
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3 comentários:
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O Pt não ocupou lugar do PSDB coisa nenhuma..O PSDB se tornou direita não por deslocamento por opção. Por opção de suas lideranças..O PT é esquerda e sempre será...
ResponderExcluirCezar,
ResponderExcluirpois eu concordo com o Silvio Bava. Se vc ler o meu artigo "Você é de esquerda ou direita?", talvez vc mude de opinião e concorde com a gente. Vc encontra o artigo aí na aba lateral, nos "arquivos do blog", em janeiro 2008, onde vc vários comentários sobre a miscelânea que os brasileiros fizeram sobre esquerda e direita ao tropicalizar o assunto, pois avacalhamos tudo...
MAS ACHO QUE NÃO FOI SÓ DISTRIBUIR ALGUMA COISA.. TEVE AÇÕES AMPLAS EM VÁRIOS SETORES DA SOCIEDADE..E VAI TER MAIS COMO É O CASO DA CRIAÇÃO DO MINISTÉRIO DO EMPREENDEDORISMO PARA INCENTIVAR AS PEQUENAS INCIATIVAS AOS MOLDES DO QUE FOI FEITO COM A AGRICULTURA FAMILIAR
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