por Renato Arantes Villela *
Finitude
A morte não é exatamente um privilégio daqueles que já se foram. Por isso a finitude da vida se apresenta diante da gente como uma sentença da qual não é possível fugir, nem fingir que não existe. “A morte, angústia de quem vive”, escreveu uma vez Vinícius de Moraes. O engraçado é que quando se pensa nessa condição finita do ser humano, de si mesmo, a primeira idéia que vem à cabeça - hoje reforçada por centenas de mensagens virtuais - é de que é preciso viver, aproveitar a vida, desfrutar de todos os momentos. Afinal de contas, “a morte é certa”. Considero essa postura legítima e desejável, mas confesso que no dia em que essa entidade, “a morte”, bateu na minha porta, minha percepção mudou um pouco. Não sei se foi o meu desejo de viver e aproveitar a vida que perdeu um pouco da sua força ou se o que ficou pelo caminho foi um pouco da minha inocência.
“De repente a gente vê que perdeu ou está
perdendo alguma coisa, morna e ingênua
que vai ficando no caminho...”. (Cazuza)
Diante da relevância da finitude e do que ela encerra em si, não posso negar que esse olhar sobre a vida – que eu sempre me esforcei em ter – ganhou ares de leviandade. Se a proposta do carpe diem está hoje distante de mim, é também verdade que o desespero não me seduz, tão pouco a depressão me espreita. O que sinto é uma sensação de resignação, como se a existência fosse um caso (quase) perdido. Fisicamente ela é mesmo. Talvez essa reflexão seja prematura ou transitória, mas ela traduz com fidelidade um pouco da percepção de quem sempre acreditou – e quem não acredita? - que “tudo era pra sempre” e se vê diante do desafio de aceitar a vida na sua condição finita e dar a ela, em sua transitoriedade, algum sentido.
* zootecnista, da redação da revista DBO.
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