Richard Jakubaszko
Reproduzo abaixo um interessante e-mail que recebi hoje de Ralph Wehrle, diretor do Axial Participações, a propósito da matéria de capa da revista DBO Agrotecnologia de set/out/2011: http://richardjakubaszko.blogspot.com/2011/11/na-pesquisa-o-grande-desafio-do-seculo.html que discorre sobre alguns temas insistentemente debatidos aqui no blog, entre eles a produção de alimentos para 7 bilhões de bocas (e em breve para 9 bilhões), aliado à questão ambiental., onde estão embutidas as questões do aquecimento, ou mudanças climáticas. No embalo, Ralph anexou artigo do jornalista Washington Novaes, publicado em O Estado de São Paulo (18/11/2011), e que coloquei como título deste post, na verdade uma frase do filósofo Paulo Valéry: "Começa a era do mundo finito", conforme esclareceu Novaes.
Ao final do comentário de Ralph Werhle reproduzo o artigo de Washington Novaes, e, mais adiante, faço rápidos comentários sobre o tema, e espero que seja um debate produtivo.
Diz Ralph Wehrle:
Richard:
o problema não é a discussão em torno do efeito específico do CO2 e
outros gases de (potencial) efeito estufa (sem sombra de dúvida gerados
pelas atividades industrial e mesmo biológica do homem) sobre o
aquecimento global, mas sim dos efeitos de uma necessidade cada vez
maior de alimentar uma populacão que vai acabar dinamitando o planeta:
ou por fome e invasões e migrações, como já as estamos presenciando, ou
por causa da utilizacão puramente agrícola de qualquer canto que puder
alimentar-nos! Até quando?
O mais curto dos dias não vai ser um apocalipse, vai ser uma morte
lenta, inexorável, como as civilizacões Maias e Aztecas sofreram, quando
super-exploraram os seus ecossistemas imediatos.
Nos dias de hoje começamos a falar de uma ecossistema globalizado,
interligado, intrincado, que ainda nem entendemos e, portanto, em bases
históricas curtas ou premissas inadequadas, pretendemos extrapolar e
procuramos tomar ou justificar decisões políticas ou econômicas ou
ambientais a respeito desse ecossistema, com toda a arrogância que como
seres humaos nos caracterizam: somos não somente donos da verdade, mas
sobretudo, podemos controlar tudo! Até quando?
A defasagem entre efeitos produzidos potencialmente pelo homem, a partir
da industrialização, revolução que sem duvida permitiu uma vida mais
digna à humanidade como um todo, e os reflexos a nível mundial nos dias
de hoje, estes na sua maior parte sem medições confiáveis quanto aos
seus impactos ambientais, ninguém pode determinar. Não há registros
históricos confiáveis e com a devida periocidade de registros sob os
mesmos critérios, para estabelecer uma série histórica, que possa
refletir ou contrapor uma influência antropogênica dos efeitos
observados ultimamente: os extremos têm-se tornado mais extremos e
sobretudo mais frequentes e fora de época.
O princípio da precaução impõe que adotemos princípios não de
maximização de produção de alimentos, mas sim de eficientização: qual o
verdadeiro balanço energético (energia vai ser a cruz, na qual o mundo
vai ser sacrificado) para produzir, distribuir e consumir um kg de
determinado alimento??? Vamos fazer a conta de A-Z, com suas derivadas:
não se trata de produzir mais com supostos ganhos de produtividade, mas
na conta da eficiência têm de entrar, além da produtividade por ha, os
custos dos serviços chamados ambientais, que mal entendemos e muito
menos sabemos como custear. Portanto, precaução, o seguro morreu de
velho é o primeiro remédio a ser adotado.
O segundo, para mim, sem dúvida, é investir mundialmente em educação. Em
vez de gastar com remediação ambiental e guerras por interesses
geopoliticos = energia “barata” enquanto der, e contabilizar isto na
Conta do “PIB” que pretende quantificar o “crescimento” de um país,
deveremos ter pessoas mais qualificadas, que por esta razão se sentirão
mais valorizadas, com maior possibilidade de um dinheirinho bem
merecido, e, portanto, com maior poder de decisão pessoal.
Resumir a questão à produção de alimentos para os bilhões que vêm além
dos 7 bilhões atuais, é um equação que não tem mínimo divisor comum!
Um forte abraço,
Ralph Wehrle
Começou a era do mundo finito
Washington Novaes (jornalista)
Mesmo as mudanças inevitáveis só começam a acontecer, realmente, quando a dor por não mudar (resistir à ideia de que o mundo é limitado, finito) se torna muito maior do que a dor da mudança (dobrar-se ao fato de que o mundo não é infinito, como se pensava que fosse ou - melhor dizendo - nem se perdia tempo pensando nisso!).
A grande questão é saber quando isso vai acontecer!
Mesmo porque, os responsáveis pelos governos e organizações de maior poder econômico vão passar todo o tempo que puderem à base de analgésicos e anestésicos (já deve ter gente cogitando apelar até para coisas do tipo morfina) cada vez mais fortes para tentar aplacar a dor, retardando a caída de ficha de que não adianta tratar o efeito (dor) e - sim - a sua causa!
Alguns analgésicos e anestésicos imaginados lembram mais é parasitas, que para continuarem viçosos, começam a roubar a seiva de outros parasitas da mesma árvore. Árvore essa que já está totalmente debilitada pelo excesso de parasitas em relação aos nutrientes disponíveis no solo. Como não dá para aumentar os nutrientes (posto que o mundo é finito), a única solução é reduzir os parasitas ou amenizar o seu voraz e insaciável apetite!
A perplexidade é geral, depois da queda do sétimo governo na Europa (Islândia, Reino Unido, Irlanda, Portugal, Eslováquia, Grécia e Itália) e já com a Espanha na alça de mira, com uma dívida pública insustentável e uma taxa de desemprego de 21,5% (48% entre os jovens). E tudo acontece simultaneamente com a crise política que se alastra nos países árabes e a expansão do movimento "Ocupem o mundo", dos jovens norte-americanos que protestam sentados nas ruas, diante da casa dos poderosos. Para onde vamos?
"Quem não estiver confuso está mal informado", já diagnosticou o ex-ministro Delfim Netto (Conjuntura Econômica - FGV, setembro de 2011). (Nota do blogueiro: a entrevista aludida, com Delfim Netto, foi publicada aqui no blog, em outubro/2011: http://richardjakubaszko.blogspot.com/2011/10/quem-nao-estiver-confuso-esta-mal.html De fato, quando Brasil, Índia e China se dizem dispostos a ajudar - via Fundo Monetário Internacional (FMI) - a Europa a sair da crise, chega-se a um ponto inconcebível há menos de uma década. Pois ao mesmo tempo se torna claro que "a Europa se prepara para uma década perdida" (Agência Estado, 16/10) e se chega ao "fim do sonho americano" (Celso Ming, Estado, 19/10).
"Vai sair um mundo diferente", prevê Delfim. A seu ver, "a crise que está aí resulta de governos incompetentes, míopes, e de uma disfunção do sistema financeiro, que em vez de servir ao setor real acaba servindo-se dele. Os derivativos podem estimular uma melhoria de funcionamento do sistema, mas também podem tornar-se armas de destruição em massa, porque os bancos centrais - na verdade, os governos - não conseguiram entender aonde eles deveriam nos levar". Certamente é uma visão que tem que ver com números pouco citados, de um giro financeiro de US$ 600 trilhões anuais, para um produto bruto mundial de US$ 62 trilhões por ano, dez vezes menos. Isto é, especulação cada vez mais afastada do real, das coisas concretas.
Agora, parece inescapável. A Comissão Europeia prevê recessão para o continente em 2012, que, segundo o FMI, é um alerta para todos os países desenvolvidos (Folha de S.Paulo, 12/11). Mesmo no Brasil a Confederação Nacional da Indústria revê sua previsão para o crescimento do PIB interno, de 3,8% para 3,4% este ano (Agência Estado, 12/11). E até a China parece retrair seu ritmo, enquanto os Estados Unidos chegam a um déficit anual do governo de US$ 1,299 trilhão, quase tanto quanto todo o PIB anual brasileiro. Mas quase todos os países continuam a recusar o que os relatórios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) vêm propondo desde o início da década de 1990: uma taxa de 0,5% sobre as transações cambiais e financeiras no mundo - para conter a especulação e ajudar a diminuir a pobreza -, uma ideia que surgiu do economista James Tobin.
Estranho que pareça, num quadro como esse pouco se discute na área econômica o que já é óbvio no diagnóstico de organismo da ONU e outros: a questão do impasse na área dos recursos naturais e sua tendência ao agravamento. Mais uma vez, o ex-ministro Delfim Netto, que em outras épocas parecia fechado à questão: "Estamos caminhando para instituições em que a cooperação, o altruísmo e as preocupações com o meio ambiente são maiores, enquanto a restrição ao crescimento é um pouco mais aguda, porque pela primeira vez se tem consciência de que não cabem na Terra 10 bilhões de pessoas com renda per capita de US$ 20 mil". Ou seja, o consumo atual já é insustentável e será cada vez mais com o crescimento inevitável da população.
Os diagnósticos da ONU já nos mostram consumindo mais de 30% além da capacidade de reposição da biosfera terrestre; se tivermos de aumentar a produção de alimentos em 70% nas próximas décadas para atender à população crescente e à redução da pobreza, agravaremos a situação, pois a "pegada ecológica" (área necessária para atender às necessidades de um ser humano) também já está mais de 30% além da disponibilidade - e seu crescimento significará mais degradação do solo, mais desertificação, mais crise da água, mais perda da biodiversidade, etc., etc. Sem falar em agravamento das mudanças climáticas. Mas como se fará se 1,44 bilhão de pessoas no mundo ainda não dispõem de energia elétrica e em sua maior parte terão de ser abastecidas com mais queima de carvão e petróleo, principalmente na China e na Índia, como adverte a Agência Internacional de Energia? E como tirar do âmbito da fome crônica quase 1 bilhão de pessoas?
Outros padrões de consumo terão de ser observados. Nossos modos de viver terão de ser repensados. Até porque em muitos setores a crise aguda já bate à porta. Como observa o professor Maurício Waldman, pós-doutorando em Geografia pelo Instituto de Geociências da Unicamp, a situação já é insustentável em muitos setores. No século 20 a população multiplicou-se por 4; o consumo de carvão, por 6; o de cobre, por 25; o de metais em geral chegou, em 2008, a 1,4 bilhão de toneladas, o dobro dos anos 70, sete vezes mais que em 1950; o consumo de alumínio passou de 2 milhões de toneladas em 1950 para 40 milhões em 2008; o de plásticos multiplicou-se por 18 em 34 anos. Como já se comentou neste espaço em outros artigos, a disponibilidade de muitos dos metais usados nas tecnologias mais abrangentes de hoje (telefones, computadores, etc.) está gravemente ameaçada. Por tudo isso, lembra o professor Waldman a frase do filósofo Paulo Valéry: "Começa a era do mundo finito".
E como começa, ainda uma vez é preciso insistir: o Brasil tem de pensar uma estratégia fundada nessas visões, já que tem posição privilegiada no mundo em matéria de território, água, biodiversidade, possibilidade de plantios, matriz energética limpa e renovável - tudo o que é fator escasso no mundo e já foi dito e repetido neste espaço. A essa estratégia - em substituição à ideia de crescimento econômico puro e simples, desatento ao quadro mais amplo - é que se poderá chamar de uma verdadeira modernidade. Não precisamos esperar que a crise de recursos e consumo insustentáveis nos atinja mais a fundo.
COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO:
Caros leitores, e meu caro amigo Ralph Werhle, vou ser breve, para não cansar, pois a leitura do texto anterior é pesada, reconheço.
1 - o CO2 só entra nesse debate porque os seus "inventores" o colocaram como culpado e responsável pelo "aquecimento", que anda esquecido, é chamado agora de mudanças climáticas. Estou escrevendo um livro, com título provisório de "CO2: a grande mentira do século XXI", onde terei a companhia de gente como o climatologista e professor Dr. Luiz Carlos Baldicero Molion, da Universidade Federal de Alagoas, para tentar desmascarar essa enorme fraude. Enquanto o livro não sai, previsto para 2012, recomendo a leitura do livro "A fraude do aquecimento global", CAPAX DEI Editora, de 2010, do geólogo Geraldo Luís Lino, cuja obra está nas minhas leituras atuais. O livro tem prefácio do Molion.
2 - Quem desejar conhecer minha opinião a esse respeito, encontrará nos textos publicados aqui no blog, como "CO2: a unanimidade da mídia é burra", de out/2009: http://richardjakubaszko.blogspot.com/2009/10/co2-unanimidade-da-midia-e-burra.html - escrito com o agrônomo Odo Primavesi, um dos signatários do malfadado relatório do IPCC, de fev/2007, em que ele denuncia a "forçada de barra" do IPCC para apontar os gases de efeito estufa - GEE, como responsáveis. Ou ainda, o "CO2, discussão de bêbados", também publicado no blog, em que aponto os responsáveis pela criação desse monstro chamado de "mudanças climáticas": http://richardjakubaszko.blogspot.com/2010/03/discussao-de-bebados.html
Tenho ainda, aqui no blog, o artigo "A mídia e os biodesagradáveis só gostam de má notícia": http://richardjakubaszko.blogspot.com/2010/11/midia-e-os-biodesagradaveis-so-gostam.html e todos esses textos mostram minha visão sobre os entraves que os ambientalistas causam à produção de alimentos, especialmente no Brasil, com as limitações que o Código Florestal trará ao setor rural para a produção de alimentos.
3 - Compactuo com Ralph Werhle na questão sobre a superpolução planetária. Entretanto, acho a posição dos defensores do catastrofismo como pró malthusiana, para dizer o mínimo, pois nunca colocam em debate a redução de crescimento demográfico, este, na verdade, o grande problema do planeta. Malthus recomendava aos governantes, em sua época, que deixassem os pobres à mercê de sua sorte, pois se aniquilariam como fazem as formigas, quando em excesso populacional nos formigueiros.
4 - Inclusive em petróleo, e especialmente em fertilizantes, acredito que são "argumentos comerciais" de seus produtores a projeção de finitude, simplesmente para poder cobrar hoje mais caro, e agregar valor. Nunca se descobriram tantos novos poços de petróleo planeta afora, inclusive o pré-sal no Brasil, e não existem poços secos. Alguém já viu um? Petróleo não é feito de matéria orgânica em decomposição, mas do calor do magma que temos no centro do planeta. A ciência nos deve essa comprovação, ou no mínimo um debate honesto.
5 - O problema planetário já é de energia, sem ela tudo vai para trás, e o planeta regride. Os "criadores" das mudanças climáticas, os produtores de usinas nucleares, sabem disso, por isso espalharam esse terror ambiental. Eles apenas pensaram com ótica nortista, onde não há rios para hidrelétricas.
6 -Água não acaba, não é finita, temos a mesma quantidade hoje do que tínhamos há 4 ou 5 milhões de anos atrás. A água vive seus estágios, seja líquido, sólido ou gasoso, e ela é o GEE verdadeiro, não o CO2. E o problema de água, a potável, é de poluição, assim, é problema das concessionárias, de captar água à longas distâncias, tratar e distribuir às populações urbanas altamente concentradas. Água não vai faltar, mas vai custar mais cara ainda.
7 - Entendam: são emitidos 200 bilhões de toneladas/ano de CO2 equivalente, estimativa que tem um viés de 20% para mais ou para menos. A natureza (mares, vulcões, matéria orgânica em decomposição, solos degradados etc.) é responsável por 97% das emissões e o homem por 3%, mesmo considerando queimadas, indústrias/automóveis urbanos, flatulências bovinas, lixões urbanos e arrozais orientais. Não há o que economizar nessa contabilidade catastrofista.
8 - Sou otimista, paradoxalmente. Acho que, ou a humanidade acorda para o problema populacional, e trata de reduzir o crescimento, como já faz a China, ou haverá uma catástrofe sem proporções, seja natural (gripe suína, ou equina, ou canina), seja provocada (guerras?), em que pelo menos 2 a 2,5 bilhões de pessoas perecerão. Seria a única salvação.
9 - Os cientistas nos devem explicações. Raros deles são exceções como Luiz Carlos Molion, Geraldo Lino, e ainda Evaristo Eduardo de Miranda ou Odo Primavesi, estes da Embrapa, que se apresentam ao debate e criticam a culpabilidade do CO2, um mero instrumento comercial de interesses difusos. Mesmo em pleno século XXI a maioria dos cientistas preserva certas posições de zona de conforto ao aderir à opinião da maioria (IPCC), isolam os cientistas de opiniões contrárias, pois em outros tempos estes seriam atirados às fogueiras da inquisição.
10 - Tão difícil como provar a existência de um Criador, é provar sua inexistência. Da mesma forma parece ser esse debate sobre o futuro planetário, se será de aquecimento e com mudanças climáticas, como querem os catastrofistas, se será de continuidade como sempre foi, como querem os céticos, entre os quais me incluo.
_