Richard Jakubaszko
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A declaração de amor ao CO2 é do blogueiro. |
Coloco em debate, a relevante questão do gás de xisto, mostrando a visão de dois especialistas respeitados, Evaristo de Miranda, da Embrapa, e Geraldo Lino, geólogo e escritor, cético das apocalípticas e falaciosas questões ambientais, como o aquecimento e mudanças climáticas.
Um autor prenuncia mudanças, e o outro coloca em dúvida a possibilidade dessa mudança radical para dentro em breve, e ambos estão baseados em fatos e notícias.
Como vemos, há uma guerra permanente na economia. Nas guerras, a primeira vítima sempre foi a verdade. E isto deveria ser um axioma para todo jornalista que se preze.
Após a leitura dos dois artigos, que reproduzo abaixo, é vital uma profunda reflexão sobre o tema, além de continuar a acompanhar o assunto, pois não há dúvidas de que teremos desdobramentos profundos daqui para a frente na questão da energia.
Descréditos de carbono
Evaristo Eduardo de Miranda *
O planeta buscava um substituto para o petróleo. Parece ter
encontrado: o gás de xisto e o carvão mineral. O crescimento da produção
norte-americana do gás de xisto mudou o panorama da geração de energia. Esse
gás substitui a cada dia mais carvão, cujo excedente é exportado para a Europa
a baixo preço. Isso derrubou o preço do carvão em todo o mundo, principalmente
na Ásia. O mundo prepara-se para trocar um combustível fóssil por outro, mais
abundante e barato.
As termoelétricas europeias a carvão mineral aumentam seus
lucros. Sobra carvão e, com preços tão baixos, empresas como a norueguesa
Statkraft, a alemã E·ON, a checa CEZ e a britânica SSE fecham e hibernam
centrais a gás, incluindo plantas moderníssimas. Os lucros caíram mais de 90%
no primeiro semestre de 2013 em usinas com ciclo combinado de gás. A RWE, a
maior geradora da Alemanha, obtém 62% de sua produção do carvão mineral e
incrementou a produção em 16% em 2012.
A Xstrata, a maior empresa exportadora de carvão mineral,
baixou em 17,3% seus contratos para a geradora japonesa Tohoku. Depois de
Fukushima, o Japão substitui a energia elétrica atômica pelo carvão. O
adicional de emissões de dióxido de carbono (CO2), tanto no Japão como na
Alemanha, pelo fechamento das usinas atômicas, é enorme.
O uso do carvão aumentou as emissões de CO2 na União
Europeia (UE), tão engajada no discurso ambiental. Os países europeus não
cumpriram as metas de redução de CO2 previstas no Protocolo de Kyoto, apesar da
crise econômica e da substituição de sua produção industrial pela China. A
importação de carvão estadunidense pela Europa cresceu 23% e atingiu 66,4
milhões de toneladas em 2012. Nos 27 países da UE, a geração de energia a
partir de carvão ultrapassou o gás e atingiu seu nível máximo dos últimos 17
anos.
O chamado mercado de carbono, essencialmente europeu, veio
abaixo. Sobram cotas de carbono e ninguém se interessa. Em abril o Parlamento
Europeu votou uma sentença de morte para o mercado de carbono: rejeitou limitar
as autorizações de emissões de CO2 propostas pela Comissão Europeia. Uma
tonelada de CO2 valia 30 em 2008. Caiu para 2,75, seu nível histórico mais
baixo. Para completar, a European Union Emissions Trading Scheme envolveu-se em
escândalos, como roubo de licenças de emissão de CO2 e fraudes fiscais. O
descrédito do mercado de carbono freou investimentos em alternativas de geração
de energia. A UE aliviou as exigências ambientais para a indústria, em face da
crise econômica. Ocorre uma renacionalização da política climática e o abandono
da política de bloco.
No futuro os EUA exportarão gás em volume capaz de mudar o
panorama mundial. A reserva americana é suficiente para abastecer o mercado por
mais de cem anos, segundo cálculos da Administração de Informação de Energia. O
avanço tecnológico na extração do gás de xisto prossegue e deve reduzir
diversos problemas ambientais, como a contaminação hídrica e as emissões de
metano.
As 48 reservas de gás de xisto encontram-se em 28 Estados
americanos e 26 estão em exploração. Na Pensilvânia, em Nova York, Ohio e
Virgínia Ocidental há 6 mil poços em operação, só na formação geológica de
Marcellus. O gás de xisto, menos poluente, deslocará o carvão na geração de
energia elétrica nos EUA, onde metade da eletricidade ainda é gerada em
térmicas a carvão.
O gás de xisto já substitui o diesel em ônibus e caminhões.
São poucos postos com o combustível nos EUA, mas a rede de gasodutos tem 38 mil
quilômetros. O gás será um combustível cada vez mais competitivo e, ao levar ao
túmulo o mercado de carbono, talvez carregue junto o sonho do etanol como
commodity internacional, destinando-o a ser, basicamente, um produto de consumo
interno nos países produtores. Se tanto.
Como essa nova realidade interfere na política brasileira de
produção de biocombustíveis? E no mercado internacional de etanol? Uma equipe
da Embrapa Gestão Territorial estuda seus impactos na agroenergia, mas o
alcance da mudança pode ser muito maior. Por causa da produção crescente de gás
de xisto nos EUA e de seu baixo preço, companhias brasileiras já suspenderam
projetos de construção de hidrelétricas na América Central. Em outras
situações, a energia hidrelétrica poderá perder competitividade com a
termoelétrica.
O gás de xisto pode afetar o futuro do pré-sal. Já é real a
fuga de investimentos produtivos no setor petroquímico do Brasil para os EUA,
onde o preço da matéria-prima é menor. Apesar de a Agência Nacional do Petróleo
ter marcado o primeiro leilão de blocos de gás de xisto para o fim de outubro,
ainda falta o País conhecer e dominar a tecnologia envolvida nessa exploração.
Muitos no agronegócio brasileiro discutem combustíveis
renováveis, redução das emissões de CO2, pegadas de carbono, agricultura de
baixo carbono e propõem programas ambientais em cenários ultrapassados. A era
da energia fóssil está longe de acabar. Esses cenários viraram carvão. O Brasil
está destinado a compensar e fixar o carbono emitido pela China e países
desenvolvidos? Deve renunciar ao pré-sal e à exploração de suas reservas de gás
de xisto? Os carbonários do carbono ignoram os impactos desse gás e das novas
tecnologias e mudanças associadas a ele.
A surpreendente emergência do gás de xisto ilustra o quanto
é fundamental a inovação tecnológica e desafia o planejamento nacional. Ao ser
alertado sobre o possível esgotamento das reservas de petróleo pela intensidade
de sua exploração, uma autoridade saudita declarou: "A prioridade é vender
as reservas antes da emergência de novas tecnologias". A Idade da Pedra
não acabou por falta de pedra.
* engenheiro agrônomo, doutor
em Ecologia, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA), e membro do Conselho Editorial da revista Agro DBO.
Artigo originalmente publicado na Agro DBO / nº 49 / outubro
2013: www.agrodbo.com.br
Gigantes petroleiras desistem do gás de folhelhos nos EUA
Geraldo Lino *
Em iniciativas que devem servir para arrefecer o entusiasmo
com as perspectivas do setor, as empresas petrolíferas Royal Dutch Shell e BP
estão encerrando as suas atividades de exploração do gás de folhelhos (shale gas)
nos EUA. Os motivos são reservas superestimadas e um rápido esgotamento de
muitos poços, devido a problemas da tecnologia de exploração – para não
mencionar os graves problemas ambientais (Alerta Científico e Ambiental,
18/07/2013 e 25/07/2013). As consequências foram prejuízos superiores a 3
bilhões de dólares, apenas para as duas gigantes.
Em entrevista ao jornal Financial Times, o executivo-chefe
da Shell, Peter Voser, afirmou que a aposta maciça da empresa nos folhelhos
estadunidenses será um dos maiores arrependimentos do seu mandato, que se
encerra ao final do ano. Segundo ele, a Shell investiu mais de 24 bilhões de
dólares no chamado gás não-convencional na América do Norte, empreitada que, em
suas palavras, “não saiu exatamente como planejado”. Em agosto, depois de
perfurar quase 200 poços cuja produção não atingiu os níveis esperados, a
empresa anunciou uma depreciação de 2,1 bilhões de dólares nos seus ativos de
folhelhos. Com isto, a intenção é livrar-se deles o mais rapidamente possível
(Financial Times, 6/10/2013).
Por sua vez, a BP e a BP Group anunciaram prejuízos
conjuntos de 2,3 bilhões de dólares, enquanto a canadense EcCana Company perdeu
2 bilhões de dólares (The Voice of Russia, 2/10/2013).
O analista-chefe da consultora UNIVER Capital Company,
Dmitry Alexandrov, é categórico:
O surto de interesse
no gás de folhelhos está claramente encerrado. Devido aos problemas do
orçamento nos EUA, as companhias de produção de gás de folhelhos não devem
esperar conseguir mais financiamento. Portanto, os depósitos de gás de
folhelhos não são mais financeiramente atrativos. E, finalmente, os sítios que
tinham custos favoráveis têm sido esgotados. Então, para levar adiante a
produção de gás, ou eles têm que recorrer a um monte de perfurações adicionais
ou questionar a produção de gás existente.
Se a implementação do
orçamento for suave, muito provavelmente, a produção de gás começará a crescer
novamente, mas não tão rapidamente que garanta exportações de gás, apenas para
abastecer o mercado interno. Eu estou confiante de que os EUA não irão procurar
reduzir os preços mundiais do gás nos próximos anos, devido à política
estadunidense de reindustrialização. Não há como vender o seu próprio gás de
folhelhos barato, seja para a Europa ou a Ásia.
Segundo Alexandrov, a maioria dos especialistas acredita
que, na melhor das hipóteses, a produção de gás de folhelhos manterá os níveis
do pico atingido em 2011.
Outro especialista, o diretor-geral da Fundação Nacional de
Segurança Energética russa, Konstantin Simonov, adverte que países que têm
apostado nos folhelhos, como a Polônia e a Ucrânia, deveriam prestar atenção à
experiência estadunidense:
A Polônia perfurou um
poço de gás de folhelhos no ano passado e o batizou como “Chama de esperança”.
Mas a situação do projeto está piorando, em termos comerciais. O projeto não é
econômico e as empresas estrangeiras, como a ExxonMobil, já começaram a se
retirar dele. A situação é bastante parecida na Ucrânia, que pode, certamente,
esperar alguns progressos técnicos, mas o seu projeto de gás de folhelhos,
dificilmente, será um sucesso comercial, pelo menos não nos próximos dez anos.
A Ucrânia pretende iniciar a produção de gás de folhelhos em
2015, mas o Ministério de Energia e da Indústria de Carvão do país já anunciou
que os custos de produção não serão conhecidos antes de dois anos, o que coloca
ainda mais dúvidas sobre as perspectivas de que a produção não-convencional
possa vir a contribuir significativamente para a redução da grande dependência
das importações de gás da Rússia (expectativa compartilhada pela Polônia).
Curiosamente, o governo ucraniano acaba de anunciar um
acordo para a exploração de gás natural convencional na costa do Mar Negro, com
um consórcio internacional encabeçado pela Shell e a ExxonMobil (AFP,
26/09/2013).
No início de 2012, outra gigante petrolífera, a Chevron, já
havia abandonado a exploração dos folhelhos nos EUA, por motivos semelhantes
aos agora alegados pelas suas “irmãs”.
Nesse contexto, é no mínimo curioso que, enquanto as
gigantes anglo-americanas (cuja ausência quase total no leilão do campo de
Libra do pré-sal brasileiro foi tão lamentada) se retiram do setor, a Agência
Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) já fale em licitar a
exploração dos folhelhos brasileiros. Em face das circunstâncias, é no mínimo
medida de prudência aguardar um pouco mais pelo amadurecimento e a consolidação
– ou não – da exploração dos hidrocarbonetos de folhelhos, para se decidir a
liberá-la no País.
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Assustadores e ao mesmo tempo interessantíssimos os 2 artigos. Realmente temos guerra de informação e contra-informação na economia.
ResponderExcluirJosé Carlos Arruda, de BH