segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Desafios e demandas para o agronegócio: o engenheiro agrônomo do futuro

Antonio Roque Dechen *  
Qual seria o cenário politico e econômico do Brasil se não tivéssemos a produção de alimentos que temos hoje? A agricultura e a agroindústria formam um dos segmentos mais complexos e dinâmicos da nossa economia. A recente crise mundial e, principalmente a brasileira, evidenciam a importância do agronegócio em nossa sustentabilidade e estabilidade econômicas. Este ano a produção de grãos deverá superar a marca de 200 milhões de toneladas, colocando o Brasil no seleto grupo de países que produzem uma tonelada de grãos por habitante (segundo dados da Agrocunsult/2015).
 
Nos acostumamos tão rapidamente com o sucesso do agronegócio brasileiro que temos a impressão de que sempre foi assim. Não nos lembramos de como era a nossa agricultura nos anos 70, época em que 35% população era rural e 65% urbana. Hoje a população rural é de 13% e a urbana 87%, e a produção de alimentos aumentou consideravelmente. A que devemos o desenvolvimento, sucesso e eficiência da agricultura brasileira?


O ensino e pesquisa agrícola no Brasil tiveram inicio com a inauguração da Escola Imperial de Agronomia da Bahia em 1877 e da Estação Agronômica de Campinas em 1887 pelo Imperador D. Pedro II, instituições essas pioneiras em ensino e pesquisa e ainda jovens, 138 e 128 anos, respectivamente.


A revolução verde de Norman Borlaug nos anos 70, com o desenvolvimento de novas variedades de milho, com respostas a adubação, mudaram o cenário mundial de produção de alimentos. No Brasil, a conquista dos cerrados, uma das últimas fronteiras agrícolas, graças à transferência dos resultados de pesquisa, estabeleceu com sucesso a integração lavoura e pecuária. A adoção do sistema de plantio direto no Paraná mudou os paradigmas da agricultura brasileira. Hoje a agroenergia e os avanços da biotecnologia estão transformando e ampliando as oportunidades na agricultura e na bioindústria.


O Brasil, pela sua extensão territorial, disponibilidade de água, biomas diversos e condições climáticas favoráveis para a produção agrícola com grande diversidade de culturas, tem merecido atenção internacional, tornando-se referência na geopolítica da produção agrícola mundial.

Hoje o mundo exige a produção agrícola com sustentabilidade e rastreabilidade associadas à adequação ambiental. Portanto, para o Brasil se firmar nas posições de lideranças da produção agrícola será necessário também que seja líder na adoção de ações de sustentabilidade.


A Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG), em recente congresso, adotou o tema “Sustentar é integrar”. Na abertura do evento, o presidente da Embrapa, Maurício Antonio Lopes, fez uma brilhante abordagem do “Futuro sob a lente do agronegócio”. A sustentabilidade será uma ação imperativa, sem ela não teremos mercados.
 
Como as nossas universidades, escolas e instituições de pesquisas estão se posicionando para a expressiva demanda de profissionais capacitados para este cenário futuro de alta tecnologia que nos espera?


Estamos preparados ou nos preparando para os trabalhos em rede de pesquisas e inovação, para a integração das cadeias produtivas, preparados para um sistema agroindustrial moderno, atentos às mudanças de comportamento e de hábitos da população urbana, preparados para a agregação de valor nos produtos agrícolas?


Nossos governantes estão atentos ou são sensíveis a essa novas demandas: apoiam e estimulam os setores de ensino e pesquisa agrícolas?

A economia brasileira só conseguiu destaque internacional graças ao sucesso de nossa agricultura, sucesso alcançado graças às boas práticas de base tecnológica e adoção de manejo sustentável de boas práticas agrícolas. Cabe, portanto, às instituições de ensino e pesquisa, a missão de continuar formando técnicos qualificados, e desenvolver novas tecnologias para cumprirem a nobre missão de semeá-las e garantir a sustentabilidade nos campos deste imenso Brasil.


Estamos em uma era de mudanças aceleradas, são enormes os impactos da revolução tecnológica. O Google, por exemplo, já lançou o carro autônomo. Mas não conseguiremos a autonomia de comida: os drones não trarão automaticamente alimentos do campo para a mesa sem o labor diário do agricultor e sem a participação dos profissionais de ciências agrárias no acompanhamento contínuo da produção agrícola e desenvolvimento de novas tecnologias.


Neste 12 de outubro, quando comemoramos o Dia Nacional do Engenheiro Agrônomo, nossos cumprimentos aos Engenheiros Agrônomos pela nobre missão de produzir alimentos e construir a paz. Norman Borlaug, Nobel da Paz em 1970, dizia: “Não se constrói a paz em estômagos vazios”.

 
* o autor é Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Professor Titular do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP, Presidente da Fundação Agrisus e Membro do Conselho do Agronegócio (COSAG-FIESP).

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