quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Agricultura é poluição

Richard Jakubaszko
Agricultura comercial embute, por definição, impacto ambiental, incluindo a redução da biodiversidade.

Assim, de certa forma, agricultura é poluição, mas os seres humanos precisam comer, e é por isso que se faz agricultura. 

Uma coisa é ecossistema e outra é agrossistema. No ecossistema, a natureza equilibra-se com a interação de todos seus agentes: flora, fauna e microorganismos. Os ecologistas sabem que, nas visitas a santuários ecológicos, podem deixar, no máximo, como sinal de sua passagem por lá, as próprias pegadas. Qualquer resíduo, toco de cigarro ou lata de cerveja, é poluição.

No ecossistema puro os seres humanos não conseguiriam sobreviver, a vida nesse meio ambiente é opção de raros seres humanos, e a personagem Tarzan, mostrada nos cinemas, era apenas uma mensagem idílica. 
Já no agrossistema não existe “ecossistema”. Quanto maior for a plantação, ou a pastagem, maior o desequilíbrio do “ecossistema”. Se a lavoura for invadida por qualquer inimigo natural concorrente, erva daninha, inseto ou fungo, será imediatamente combatido, para manter o agrossistema produtivo e rentável. 

Nesse sentido tem sido fantástica a contribuição dos produtos fitossanitários para se manter a produção de alimentos de forma a atender às necessidades das populações. Porque há hoje no planeta 6 bilhões de bocas para alimentar. Éramos 2 bilhões e pouco no início do Século XX, e seremos 9 bilhões em 2.050. O que significa dizer que a situação vai piorar, considerando a ótica dos ambientalistas. 

Agricultura moderna não é compatível com biodiversidade na forma idealizada pelos ecologistas. Há biodiversidade no solo, em plantio direto, mas não de agentes naturais que se alimentam daquilo que se plantou. Os invasores e as pragas aparecem sempre, encontram fartura de alimentos e nenhum agente predador. Reproduzem-se de forma explosiva. São mantidos sob controle pelos produtos fitossanitários. 

Para usar menos produtos fitossanitários, a ciência agrícola criou a alternativa das plantas OGMs, mas há gente que é contra, sem nem saber o que é fazer agricultura e quais seus problemas e necessidades. Pedem, criticam e exigem, naquilo que consideram uma atitude de sabedoria, numa cautela previdente, os “estudos de impacto ambiental”. Há necessidade de se informar a esses exigentes ecologistas, minoria composta de barulhentos, que se outorgam de soberba, inclusive políticos oportunistas, e também jornalistas mal informados, que os OGMs já estão incluídos entre os assuntos mais estudados por todas as ciências e, pelo que se sabe, nada de ruim foi provado dentro daquilo que os ecologistas prevêem ou nos “ameaçam”. 

Não se conhece nenhuma mutação humana ou animal, ou alterações diretas da natureza, que tenha ocorrido nesses quinze anos desde que os OGMs foram lançados e estão sendo usados e consumidos. Comparativamente às plantas nativas tradicionais sabe-se, hoje em dia, muito mais sobre as plantas OGMs.
No entanto, o politicamente correto prevalece entre políticos ambiciosos, demagogos e populistas, e nisto alguns governos são exemplos gritantes. Medidas judiciais têm sido aplicadas, algumas ortodoxas, com objetivo de proibir pesquisa, plantio, transporte ou embarque de plantas OGMs. 

Ambientalistas brigam pela rotulagem dos alimentos. Será que a luta deles é ecológica? Ou apenas oportunismo? Solicita-se que os ecologistas tenham bom senso, que entendam de gente e do excesso de contingentes famélicos: que instalem ONGs para reduzir os índices de natalidade no planeta, na África, América Latina, Ásia e Índia. Isto já ajudaria bastante. Ou então, que sigam as recomendações de Malthus. Estas eram passadas aos responsáveis pelas políticas públicas de então, de que deveriam deixar os pobres e famintos entregues à própria sorte, pois se exterminariam. 

Aos agricultores, ecologistas natos, resta a opção entre plantar transgênicos ou não. No Brasil, hoje um dos celeiros do mundo, encontra-se em curso uma corrente ampla de hipocrisias. As leis federais autorizam a pesquisa e o plantio de OGMs, mas a burocracia apoiada na hipocrisia emperra. 
Na CTNBio, Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, órgão federal que controla a questão, os ecologistas parecem ganhar todas as batalhas, a instituição virou um palco político, e não há um debate sério da ciência como se deveria proceder nesse órgão, instituído justamente para a discussão científica. A ciência não tem mais voz dentro da entidade. 

Os ambientalistas foram democraticamente convidados a participar dos debates, porém extrapolam suas funções. Algumas solicitações de autorização para realizar experimentos aguardam na pauta há dois anos. Existem, todavia, solicitações para realização de pesquisas e liberação comercial de sementes OGMs que aguardam há 10 anos uma autorização. Não há definição por conta da burocracia e da hipocrisia. Impedidos de brigar na justiça, diante da aprovação da lei dos transgênicos pelo Congresso Federal, os ecologistas adotam o “jeitinho brasileiro”, e protelam toda e qualquer decisão da CTNBio.

Os ecologistas, aliados a procuradores federais, travam experimentos e impedem a ciência de provar justamente o que apregoam, de avaliar os impactos ambientais e estudar a biotecnologia. Enquanto isso o Brasil se atrasa em termos de uso de novas tecnologias. 

Apesar da intensa disputa, tanto nas esferas do judiciário e legislativo, e mesmo através da mídia, a agricultura brasileira tem dado sua contribuição – a preços competitivos - para atender às necessidades de alimentos no planeta. O Brasil se tornou nos últimos 15 anos um dos maiores exportadores de alimentos. Nesse período aumentou-se em 120% a produção de grãos – soja, milho, arroz, feijão, trigo – pois saímos de uma produção de 57 milhões de toneladas anuais para mais de 130 milhões de toneladas de grãos na safra 2006/07, produzidos numa área de cultivo que aumentou apenas 20%, de 52 para 62 milhões de ha. 

Este significativo aumento de produção foi possível pelo aumento da produtividade. Já o aumento da produtividade foi viabilizado pelo uso adequado de tecnologias modernas das ciências agronômicas, entre elas sementes desenvolvidas e apropriadas para regiões tropicais, uso de produtos fitossanitários mais eficientes, e técnicas de plantio e conservação de solo, como o plantio direto. 

No Brasil tornamos o cerrado brasileiro, área improdutiva que caminhava para ser uma autêntica savana africana, em imensa área produtora de alimentos. Esta conquista foi chamada pelo engenheiro agrônomo Norman Borlaug, prêmio Nobel da Paz, como a Revolução Verde do Século XX.  

O futuro breve  
Com a perspectiva do aquecimento do planeta, anunciada pelos cientistas, e causada pela emissão de CO2, teremos gigantescas mudanças na agricultura nas próximas décadas. O Brasil representa a provável última fronteira agrícola do planeta. Temos ainda mais de 200 milhões de ha de pastagens, das quais 90 milhões de ha são consideradas improdutivas e degradadas. Estas áreas serão utilizadas para a expansão da agricultura brasileira no plantio de grãos e frutas, e também de cana-de-açúcar para a produção de etanol, o biocombustível renovável. Tudo isso sem necessidade de “destruir” a Amazônia conforme nos acusam os meios ambientalistas internacionais. 

Por oportuno, é importante informar que são acusações injustas, desprovidas de verdade. Há uma confusão jurídica nas leis brasileiras que denomina de “Amazônia Legal” várias regiões de estados vizinhos à Amazônia real. Estados como o Mato Grosso estão na Amazônia Legal sem pertencer à Amazônia real, quando é apenas região do Cerrado em mais de 80% de sua área. 
As leis, originalmente aprovadas, pretendiam promover incentivos fiscais para essas regiões e acabaram criando um imbróglio judicial que agora é difícil de ser contornado, e mais difícil ainda de ser explicado ao público internacional quando a agricultura começa a ser implantada nessas regiões do cerrado brasileiro. 

Adicionalmente, é vital esclarecer que a Amazônia não é o pulmão do planeta como querem fazer crer muitos ambientalistas. Quando muito a Amazônia poderá ser chamada de “ar condicionado” do planeta. Isto porque suas árvores são adultas e equilibram-se entre a absorção de CO2 e a emissão de oxigênio, a conhecida fotossíntese. Plantas novas são muito mais eficientes na absorção de CO2 e emitem mais oxigênio, função que a agricultura comercial de lavouras anuais como milho, soja, arroz, algodão etc., cumpre com altíssima eficiência. 

A ciência tem demonstrado, através de análises por satélite, que regiões com solo degradado ou desértico são campeãs na emissão de calor, e colaboram para o aquecimento do planeta, ao contrário de regiões onde se pratica a agricultura comercial em largas extensões. 

Independentemente do crescimento da agricultura brasileira, a questão do aquecimento ambiental obrigará os órgãos de pesquisa no Brasil a desenvolver novos cultivares que suportem as altas temperaturas. Em paralelo teremos uma migração de culturas. O café, por exemplo, que nas décadas de 70 e 80 subiu alguns paralelos no mapa mundi, fugindo de geadas severas nos estados do Sul, deverá retroceder, em busca de temperaturas mais amenas. 
Métodos convencionais de inovação agropecuária, como o melhoramento genético e o controle químico de pragas – que têm sido os principais instrumentos de adaptação dos organismos utilizados na agropecuária – deverão ser atualizados de forma revolucionária. 

Mudanças nas temperaturas e umidades nos vários agrossistemas podem intensificar os estresses bióticos, com aparecimento de pragas – insetos e microrganismos – até então sem expressividade ou de importância secundária, com danos ao sistema de produção e na qualidade dos alimentos, além de inúmeros riscos impossíveis de serem previstos na questão da segurança alimentar. 

O Brasil, através de seus agricultores e sua imensa rede de pesquisadores, tem dado mostras de que está apto e profissional para atender às necessidades de alimentos provocadas pelo aumento populacional do planeta. Desejamos fazer agricultura com sustentabilidade e total preservação do meio ambiente, um direito inalienável para as gerações futuras. Contamos, para atingir esses objetivos, com a parceria das indústrias de produtos fitossanitários, de fertilizantes, sementes e de máquinas agrícolas, pois, de resto, podemos afirmar com otimismo que o Brasil continuará produzindo mais e mais alimentos enquanto houver sol e fotossíntese. 
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