Mairson Santana *
Vivo da agricultura e nela meu pai e meu avô se criaram. Todas as gerações de nossa família vivem no campo ou do campo. Minha alegria está em cultivar a terra e fazer a alquimia acontecer: da semente que eu planto, do meu cuidado em proteger a planta das doenças, dos insetos, as vezes da falta de chuva, as vezes do excesso de chuva, vejo nascer o pão nosso de cada dia! O alimento da minha família e de muitas famílias que vivem graças ao meu trabalho e de outros agricultores.
Fico feliz que o alimento, o algodão da sua roupa quentinha que estou produzindo, te deixe tão contente e que você nem pense mais no assunto no seu dia a dia. Isso que dizer que estou fazendo meu trabalho tão bem que não lhe dou mais preocupações. Lembra daquele almoço de domingo com a família, todo mundo feliz com arroz, feijão, salada, batata, carne, ovos, leite e frutas? Pois é, estou lá. Pense no seu prato favorito, do que você mais gostaria de comer hoje, amanhã, daqui um ano, dez, cinquenta... eu estarei lá!
Como o ar que você respira, a água que você bebe, a beleza que você vê no dia a dia, naquele aroma que te faz lembrar o melhor de sua infância, eu, agricultor, honrado e lutador, estarei lá! Você não precisa ter consciência disso, mas sua vida, suas alegrias, suas tristezas, sua glória, nos seus desafios, no seu crescimento, eu sou seu aliado fiel. Vai em frete, tenha sucesso, que a energia de seu corpo, o santuário da tua alma, estará forte e sadia para dar o melhor de você mesmo.
Desde minhas idas ao sítio de meus avós para tomar banho de rio, comer bolo quentinho do forno, tomar suco de laranja e fazer traquinagens, que a minha avó sempre achava graça, até hoje na lida do campo, tenho prazer e sou feliz. Minha vida tem sentido, meus dias são repletos de trabalho e ocupação para o corpo e para a mente. Cuidar das plantas e dos animais dá muito trabalho, mas é uma arte também, saber o que fazer na hora certa para cada uma das frutas, dos vegetais, dos cereais, dos peixes, das vacas, dos porcos, das galinhas, do cheiro verde e das ervas para os chás que minha avó me fazia tomar... essa parte é ruim de lembrar... Erva da santa-luzia com leite, ninguém merece!
Nós usamos os defensivos para evitar os estragos dos insetos e das doenças de forma correta, pra não gastar muito, respeitando o devido tempo da carência, pois depois vai para a mesa da minha e da sua família, praga é coisa triste moço... e não dá pra matar na unha... se descuidar comem tudo! E aí não sobra nada, nem pra mim e nem prá você!
Meu tempo é do tempo e para o tempo. Tempo de plantar, tempo de colher, de ver frutas selvagens caírem, das revoadas dos pássaros, tempo de recolher lenha para proteger do frio, tempo de correr da chuva, tempo de ver o campo brotar, crescer, florescer e frutificar. Tempo de amar, tempo de sentar na beira do lago e ver o vento fazer a mata dançar e se contorcer no reflexo das águas.
Importante: parece que ser agricultor na Itália tem mais glamour que no Brasil! A gente vê isso na TV todo dia. Por aqui os agricultores são tratados como Jecas e nossa imagem está associada ao desmatamento, a desastre ambiental, a poluição dos rios e outras coisas. Mas isso vai mudar, a gente tem certeza. Nós somos eficientes, geradores de impostos, pilares da economia a séculos (ciclo do pau brasil, cana de açúcar, cacau, café, soja, boi, laranja, algodão, etc.), geramos valor para toda a cadeia do agronegócio e somos os propulsores da pujança vivenciada pelo Brasil nesta última década.
E continuamos sendo ambientalistas, pois convivemos com a natureza, a gente até já combinou: ela cuida de nós e nós cuidamos dela.
* Engenheiro agrônomo da Agro Norte Pesquisa e Sementes, Sinop - MT, que prestam uma homenagem ao Dia do Agricultor (28 de Julho)!
Colaborou Richard Jakubaszko
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