sexta-feira, 16 de julho de 2010

Falta emprego ou falta aptidão?


Richard Jakubaszko
Muita gente se queixa de que falta emprego para todos, apesar da queda nos índices de desemprego e do aumento do emprego formal, com carteira assinada. Ao mesmo tempo muitos empresários alegam que possuem vagas, mas que precisam de gente com aptidão, gente treinada, gente com a devida competência para exercer uma série infinita de especializações.

Já escrevi aqui neste blog que o Brasil tem necessidade de formar técnicos e cientistas de uma forma geral, engenheiros, matemáticos, físicos, e não de formar gente apenas nas áreas de marketing, publicidade, jornalismo, informática, moda, turismo, letras, que são as chamadas profissões da moda.

Um exemplo é a altíssima carência de técnicos em Agricultura de Precisão, para trabalhar na agricultura, problema que apontei em matéria de capa na edição nº 1 da revista DBO Agrotecnologia, em março/abril de 2003. Pois só a partir de 2010 é que surgiu o primeiro curso técnico para formar tecnólogos na área, em cursos de 3 anos, iniciativa da Fundação Nishimura, de Pompéia, SP, em parceria com a FATEC – Marília, e apoio da Jacto Máquinas Agrícolas.

Atento como sempre a problemas dessa magnitude o Dr. Fernando Penteado Cardoso, presidente da Agrisus, enviou-me uma notícia proveniente dos EUA, onde eles anunciam a absoluta falta de gente especializada para trabalhar na produção da agricultura. Na sequência, o Dr. Cardoso gentilmente traduziu o texto da notícia, que publico a seguir, como alerta aos líderes de nossas universidades e entidades escolares e aos estudantes em geral, pois o problema não é apenas americano, é nosso, é brasileiro, isto se pretendemos conquistar e consolidar o sonho de sermos um dia o celeiro do planeta.

Devemos ter consciência de que um país como o Brasil, em crescimento econômico com parâmetros chineses, como se prevê para este ano, de cerca de 7%, exige que se tenha investimento em infraestrutura básica, especialmente energia elétrica, estradas e portos, mas também, e principalmente, em infraestrutura humana, ou seja, gente devidamente capacitada, treinada e especializada, com pelo menos uma língua adicional, no mínimo o inglês, para poder aproveitar boas oportunidades de trabalho, muitas vezes não preenchidas porque não há gente que atenda os requisitos básicos.


A batalha para construir uma força de trabalho agrícola sustentável
(Tradução do engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso *)

As inscrições nas universidades americanas para as ciências da produção agrícola declinam apesar da procura crescente por talentos.
Enquanto o mercado de trabalho nos Estados Unidos permanece em marasmo, na esteira de uma das maiores recessões da história, há pelo menos uma profissão contrariando essa tendência. As oportunidades de emprego na área das ciências da produção agrícola estão explodindo.

Um dos fatores: a força de trabalho que está envelhecendo. Muita gente prediz que cerca da metade de todos os cientistas de produção agrícola empregados na indústria e no governo irão se aposentar ao longo da próxima década. Um relatório recente feito pela Universidade de Purdue e pelo Instituto para Alimento e Agricultura do Departamento de Agricultura dos EUA – USDA prevê que mais de 54.000 empregos relacionados à agricultura estarão disponíveis anualmente entre 2010 e 2015.

Apesar da perspectiva de emprego ser tão otimista, existe uma escassez de talentos nas ciências relacionadas à agricultura prática. Dados fornecidos pelas academias nacionais mostram 4.010 bacharelados concedidos em agribusiness e administração rural em 2007, mas somente 177 em produção agrícola. Uma apreciação do USDA em 2008 mostra que os bacharelados concedidos em agronomia e ciências da produção agrícola declinaram cerca de 1/3 entre 1984 e 2003.

“O assunto do desenvolvimento de talentos nas ciências agrícolas é um tópico do maior importância que preocupa os círculos da educação superior, bem como da indústria”. “Existem muitos estudantes interessados na formatura em marketing, vendas e agronegócios, mas o número interessado nas ciências de agricultura prática está declinando continuamente” diz Emílio Oyarzabal gerente do desenvolvimento tecnológico da Monsanto.

Qual seria a solução? Segundo Don Wyse, Ph.D. professor de agronomia da Universidade de Minnesota “o número de estudantes criados em uma fazenda despencaram e nós até agora não pensamos em como despertar o interesse e de como aliciar estudantes das comunidades urbanas”. “O entendimento deles sobre suas vidas e de como seu alimento é produzido, é realmente remoto, na melhor hipótese”.

A Sociedade Americana da Ciência das Invasoras, ao lado de cerca de 30 outras associações científicas, bem como seus parceiros da indústria agrícola, iniciaram a elaboração de ideias para incentivar a formação de uma força de trabalho na agricultura sustentável. Algumas das iniciativas propostas incluem:

• Promover uma consciência das oportunidades de carreira nas ciências da produção agrícola.
• Estabelecer um canal de comunicação com os estudantes do ginásio e do colegial que estejam interessados em ingressar nas ciências da agricultura básica e aplicada.
• Promover a consciência da importância dos ecossistemas agrícolas sustentáveis e do papel crucial das ciências agrícolas para alimentar uma população mundial em expansão.
• Financiar bolsas de estudo para atrair os melhores estudantes para optarem pelas ciências agrícolas e para apoiarem os programas práticos de aprendizado.
• Desenvolver programas inovadores de aliciamento e treinamento que possam atrair estudantes de pós-graduação com potencial de liderança.

“Para alimentar uma população crescente, os especialistas acreditam que necessitaremos produzir mais alimento nos próximos 40 anos do que produzimos nos últimos 10.000 anos somados – e com recursos decrescentes de terra e de água”. “As apostas não podiam ser maiores”, diz Lee Van Wychen, Ph.D. Diretor da política para ciência da Sociedade Americana da Ciência das Invasoras.

* Engenheiro agrônomo (ESALQ, turma de 1936) e presidente da Agrisus - Fundação Agricultura Suntentável.
Fonte: The Weed Science Society of AmericaLawrence, Kansas, EUA – Junho 2010.

ET. O blogueiro recomenda, adicionalmente, a leitura do artigo "Analfabetismo gerencial", publicado aqui no blog, em maio/2008, em que analisa as diferenças entre especialistas e generalistas e as perversas situações do problema, inclusive o desemprego. Leia o artigo em http://richardjakubaszko.blogspot.com/2008/05/analfabetismo-gerencial.html
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