Richard Jakubaszko
A propósito do post de 6 de dezembro, sob o mesmo título acima (ver no link a seguir: http://richardjakubaszko.blogspot.com/2011/12/jornal-nacional-noticias-requentadas.html ), o visitante deste blog pode ler no artigo abaixo, do médico toxicologista Prof. Dr. Ângelo Zanaga Trapé (e que é ex-colaborador da Anvisa), considerações interessantes sobre a tal pesquisa da ANVISA, de 2010:
Os Resultados do PARA e
Segurança Alimentar: Contribuição da Ciência e da Toxicologia para sua
interpretação e compreensão:
Prof. Dr. Angelo Zanaga Trapé
Coordenador da Área de Saúde Ambiental
Coordenador do Programa de Monitoramento de Populações Expostas a Agrotóxicos
Departamento de Saúde Coletiva Faculdade de Ciências Médicas - Unicamp
Em Dezembro de 2011 a ANVISA,
divulgou os resultados do PARA, Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos
em Alimentos. Na divulgação feita em rede nacional pela mídia a ANVISA informou
que foram realizadas análises em 2488 amostras de diversos produtos da
hortifruticultura para variados ingredientes ativos (i.as.) que compõem os
agrotóxicos.
Do total das amostras analisadas,
segundo a ANVISA, 28%, ou seja, 694 apresentaram-se insatisfatórias, sendo o
pimentão o principal alimento com maior índice de amostras insatisfatórias,
perto de 91%.
Para entendermos o
significado do parâmetro
“insatisfatório” da agência e podermos interpretar os resultados de maneira
científica é preciso que a base da avaliação seja a metodologia científica em
Toxicologia (disciplina da Ciência que estuda os efeitos dos agentes químicos
em geral nos seres vivos).
A metodologia em Toxicologia tem
como princípio básico para qualquer substância química (medicamentos, produtos
industriais, metais pesados, agrotóxicos), a relação DOSE=RESPOSTA, ou seja,
para haver uma resposta nos organismos vivos, seja ela benéfica ou não, é
necessário haver a absorção de uma dose capaz de determinar alguma alteração do
organismo, boa ou ruim.
A Toxicologia moderna ainda
mantém o ensinamento de Paracelsus, médico belga que iniciou os conhecimentos
científicos nessa disciplina há mais de 500 anos: “A dose faz o remédio, a dose
faz o veneno”. Portanto, não é qualquer dose ou resíduo de uma substância
química, no caso os agrotóxicos, que pode ser capaz de determinar alterações
prejudiciais nos seres humanos seja de curto , médio ou longo prazo. A Clínica
e a Epidemiologia em Toxicologia nos
ensinam isto.
No caso dos alimentos, as
agências internacionais que regulam níveis de resíduos de substâncias químicas em
alimentos ingeridos “In natura”, ou processados, estabelecem há muitas décadas valores, níveis aceitáveis dessas
substâncias (conservantes, corantes, realçadores de sabor, agrotóxicos) sem
causar danos à saúde humana pelo consumo
cotidiano desses alimentos durante a vida.
Para os alimentos analisados pelo PARA, o parâmetro
que deve ser respeitado pela agência reguladora ANVISA, para que uma amostra
seja “satisfatória” ou “ insatisfatória” deve ser o Limite Máximo de Resíduos
(LMR) de ingredientes ativos (i. as.) em um determinado alimento, abaixo dos quais não há preocupação em termos de saúde pública.
Voltando aos
resultados do PARA de 2010, temos que 28% das amostras, ou seja, 694 foram
consideradas “insatisfatórias” pela agência, porém quando analisamos
cientificamente os dados vemos que, deste total, somente 42 ou 1,7% das 2488 amostras tinham algum
resíduo acima do parâmetro aceito internacionalmente, o limite máximo de
resíduo, LMR. A maior parte, 605 amostras, ou 24,3% eram detecções de i.as. não
registrados para aquela cultura, mas com registro para outras culturas no país.
Avaliando os
alimentos realçados pela agência e pela mídia, como os mais “contaminados”
temos o seguinte:
1º) Pimentão -
segundo ANVISA, 91% de 146 amostras
“insatisfatórias”, porém 84,9% com
detecção de i.as. não registrados para a cultura, mas abaixo dos LMRs. Amostras
com detecção acima do LMR = 0,00% segundo o relatório da ANVISA
2º) Morango -
segundo ANVISA, 64,3% de 112 amostras “insatisfatórias”, porém 51,8% com
detecção de i.as. não registrados para a
cultura, mas abaixo dos LMRs. Amostras com detecção acima do LMR = 3, ou 2,7%
segundo o relatório da ANVISA.
3º) Pepino -
segundo a ANVISA, 57,4% de 136 amostras “insatisfatórias”, porém 55,9% com
detecção de i.as. não registrados para a cultura, mas abaixo dos LMRs. Amostras
com detecção acima dos LMRs- 2 ou 1,5%
4º) Alface -
segundo a ANVISA, 54,2% de 131 amostras “insatisfatórias, porém 51,9% com
detecção de i.as. não registrados para a cultura mas baixo dos LMRs. Amostras
com detecção acima dos LMRs = 0,00%.
5º) Cenoura -
segundo a ANVISA, 49,6% de 141 amostras “insatisfatórias”, porém 48,9% com
detecção de i.as. não registrados para a cultura, mas abaixo dos LMRs. Amostras
com detecção acima dos LMRs = 0,00%
Este problema é
fitossanitário, de extensão de uso de um agrotóxico de uma cultura para
outra(s) e não de saúde pública, pois o parâmetro que deveria ser respeitado
pelo órgão regulador, o LMR não foi ultrapassado. Mesmo nos casos de culturas
onde ocorreu detecção de resíduos acima dos LMRs pelo relatório, os valores são
muito baixos e têm como unidades de valor miligramas do i.a., por quilo do
alimento. Do ponto de vista de saúde, à luz do método em Toxicologia,
principalmente DOSE=RESPOSTA, os valores são muito baixos, não indicando riscos
para a população consumidora desses alimentos em curto, médio ou longo prazo.
Como conclusão,
fazendo uma leitura dos resultados do Programa de Análise de Resíduos de
Agrotóxicos em Alimentos - PARA, da ANVISA, com base na metodologia científica que
deve sustentar qualquer
estudo, relatório, norma ou portaria, principalmente de uma agência
reguladora nacional, podemos dizer que os alimentos analisados em 2010
mostraram uma adequada segurança química, indicando à população brasileira
tranquilidade para o consumo desses
alimentos.
COMENTÁRIOS ADICIONAIS DO BLOGUEIRO:
Registro abaixo, porque muito relevante, que inúmeros profissionais ligados ao setor sentiram-se preocupados e até mesmo indignados com a divulgação deturpada dos dados da pesquisa, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com visível preocupação alarmista e panfletária.
A publicação do material provoca descontentamento no setor produtivo, que afirma que os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos estão abaixo dos índices internacionais. Abaixo algumas dessas manifestações:
Anita de Souza Dias
Gutierrez, responsável pelo Centro de Qualidade em
Horticultura da Ceagesp:
“A Ceagesp realiza estudo semelhante ao da Anvisa anualmente. Em 450 amostras
monitoradas, é semelhante, mas com outro posicionamento. Eu não sei se a Anvisa
acredita que o terrorismo alimentar vai resolver alguma coisa. Na prática, ela
pune todos os produtores. Quando publica isso desta maneira, sem apontar
discussão ou a verdadeira causa, ela está destruindo 20 mil produtores.”.
Leonardo
Vicente da Silva, coordenador
setorial de Controle de Agrotóxicos da Secretaria de Estado de Agricultura do
Rio de Janeiro:
“Nos dias seguintes ao anúncio do PARA, houve forte retração nos preços
pagos ao produtor. Uma caixa de pimentão que custava R$ 20, está sendo vendida
por R$ 3, quando só a caixa de madeira que conserva o produto custa R$ 2,50”.
José Robson Coringa
Bezerra, presidente da Câmara Federal de Hortaliças:
“O grave da pesquisa não é o índice de contaminação, considerado baixo pelos
especialistas. O registro de produtos que devem ser utilizados tem que ser
feito, porque os produtores usam produtos registrados em outras culturas. E estas
culturas, principalmente do pimentão, não têm registro.”
Angelo Zanaga Trapé, médico toxicologista / UNICAMP:
“A
maneira como os dados foram divulgados foi equivocada. Em 30 anos de
experiência, nunca recebi um paciente contaminado por agrotóxicos. Apesar de
existir a presença da substância nas amostras, menos de 2% ficaram acima do índice
tolerado. Se analisarmos cientificamente os dados que o programa da Anvisa
apresenta, 98,3% das amostras, de 2,48 mil, indicam valores abaixo de um
parâmetro aceito em nível mundial. Isso indica que a população está segura em
termos de alimentação com esses produtos.”
Ossir Gorenstein, engenheiro
agrônomo responsável pelo Centro de Qualidade Hortigrajeira, da CEAGESP:
“Na ausência de uma autoridade sanitária que exerça o papel de informar
e esclarecer a população sobre os reais perigos dos agrotóxicos, principalmente
nos alimentos, urge que alguém com algum conhecimento do problema o faça,
para não se sentir omisso e conivente com a mentira. A desinformação tem o
propósito de transformar uma questão normativa, ou legal, em um falso drama
epidemiológico (...) As considerações são necessárias para que não passem, como
verdades, falácias lançadas em uma luta política, e para que cidadãos possam
melhor se esclarecer a respeito do real perigo representado pelos agrotóxicos
para a nossa saúde.”
Mariliza Scarelli Soranz, presidente da Associação Hortifrutiflores de
Jarinu, SP, e diretora do Instituto
Brasileiro de Frutas, IBRAF:
“A divulgação e as reportagens equivocadas prejudicam o segmento e deixam os
produtores extremamente desmotivados a permanecerem na agricultura, pela
baixíssima demanda desses alimentos. A sociedade também sofre as consequências,
pois a agropecuária é um forte eixo de sustentação da economia do país.”
Ronaldo
Tofanin, produtor
de pimentão/fornecedor do Ceagesp/Campinas:
“Depois
das reportagens sobre a pesquisa da Anvisa, a caixa do pimentão, que estava a um
preço médio de R$15 a R$18, caiu para R$8. E, mesmo assim, ninguém quer comprar
mais. Das 50 caixas por dia que eu levava ao Ceagesp de Campinas, voltaram 30
na última quarta-feira”.
_
Olá, Richard.
ResponderExcluirVale conferir o Bem-Estar de hoje, nos links
“Alimentos com casca trazem mais nutrientes e vitaminas”
http://g1.globo.com/videos/bem-estar/t/edicoes/v/alimentos-com-casca-trazem-mais-nutrientes-e-vitaminas/1740455/
“Agrotóxicos não afetam a qualidade dos alimentos, diz engenheiro”
http://g1.globo.com/videos/bem-estar/t/edicoes/v/agrotoxicos-nao-afetam-a-qualidade-dos-alimentos-diz-engenheiro/1740392/
Abraços.
Pedro Corrêa
Richard
ResponderExcluirEm qualquer situacao de mercado sempre ha' pessoas contra e a favor alguma coisa, seja na ciencia, comercio, industria, governo... No fim das contas leva mais vantagem quem tem melhor percepcao das direcoes das melhores tecnologias, das demandas dos clientes e do meio ambiente ou do mercado como um todo, como um ecosistema: menor custo, menor impacto, mais densidade nutricional, menos poluentes, mais margem no comercio etc. Isso independe da opiniao de pessoas que queiram vender a ideia falsa de que agrotoxicos nao fazem mal (quantos dos citados recebem dinheiro com venda, pesquisa, divulgacao ou teem outro conflito de interesse nao declarado), a historia demonstra consistentemente em varios paises que o que se pensava ser correto como ciencia em uma epoca passou a ser incorreto quando mais informacao foi obtida, ou quando tecnologias melhores surgiram. Um principio que e' perene e' o principio da precaucao e se ha' como fazer algo sem agrotoxicos, com menos custos e mais rendimento e sustentabilidade e ha' varias indicacoes no mercado nacional e internacional de demanda neste sentido, o empresario, jornalista, pesquisador e consumidor esclarecido vai naturalmente buscar informacoes sobre estas tecnologias melhores, como por exemplo a agroecologia que ja descrevi neste blog dezenas de vezes (ver www.agroeco.org e abaixo exemplo de campanha voluntaria de uma rede de lojas no UK contra agrotoxicos ALEM do que ja' e' feito pelo governo). Portanto independentemente de Anvisa, Unicamp, picaretas ou competentes, manipulacao de estatisticas ou mentiras, o consumidor, produtor e pesquisador esclarecido ja' migrou ou esta' migrando para agroecologia. Menor custo, mais rendimento, mais aceitacao do mercado - sem agrotoxicos.
SDS
Gerson Machado
Campanha da Marks and Spencer UK
"Pesticides?
No thanks!
We've banned over 60 already
(more than any other food retailer)
Your M&S"
A ANVISA não estaria, assim, tentando empurrar os consumidores para produtos alimentares processados industrialmente, depois de muitos "acordos" esquisitos com essa indústria sobre temas como gorduras trans e teor de sal? Para gordura trans, há pelo menos uns 2-3 anos, o limite de tolerância nos EUA é ZE-RO, com uma diferença simples: eles são uma federação e até as cidades podem decidir (como de fato fez, por exemplo, Nova York, nessa área).
ResponderExcluirGerson,
ResponderExcluircomo este é um blog de debate, registrei sua opinião, apesar de discordar em gênero, número e grau dos conceitos emitidos. Vejo que vc acredita em publicidade de varejo, e assim deduzo que vc acredita no que quer por conveniência pessoal.
O que não é legal é o que vc faz, primeiro por não dar importância a uma mentira comprovada, feita por um órgão governamental da importância da Anvisa, que espalha terrorismo entre a população, mentira que foi aceita e apoiada por gente do porte de uma TV Globo; em segundo lugar porque vc ainda lança suspeitas de que alguns dos profissionais acima "ganham" para emitir sua opinião a favor de alguma coisa.
Ora, faça-me o favor, vc que viaja tanto pelo mundo afora, perceba lá fora como as pessoas civilizadas discutem, como fazem confronto de ideias, sem a necessidade infantil e tipicamente brasileira de tentar desqualificar quem emite opinião contrária à sua. Debata a ideia, é mais produtivo.
Se houver outras opiniões semelhantes no futuro não publico mais seus comentários, lamento.
Richard,
ResponderExcluirparabéns pela defesa do livre arbítrio dos agricultores. Vocè é insuperável e brilhante nessa sua batalha. Mas permita sugerir-lhe que não publique opiniões como a desse Gerson, um verde fanático que não tem a menor ideia do que faz, e que ainda tem a pretensão de vir a ensinar padre a rezar missa...
José Carlos
COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO:
José Carlos, este blog é de debate, portanto, aceito a opinião que for, desde que sem baixarias, tipo palavras de baixo calão ou tentativa de desqualificação do autor de alguma ideia ou opinião. Que o Gerson é um verde, todo mundo já sabe. Entretanto, mesmo discordando dele, sempre aprendo quando leio opiniões contrárias às minhas. De vez em quando aprendo alguma coisa com ele... Não tenho medo de mudar de opinião, porque penso. Evidentemente que o Gerson perde tempo nesse tema de agrotóxicos, pelo menos comigo.
Assim, acho o contraditório uma dádiva divina.