quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Chegou à cidade

Rogério Arioli Silva

Demorou mas aconteceu. Finalmente a insanidade das ampliações de reservas indígenas perpetradas pela Funai em todo território nacional chegou às cidades. Estas, até então permaneciam incólumes ao clima de insegurança jurídica que vem tomando conta do campo brasileiro. E veio pelo lado certo, bem pertinho do Palácio do Planalto que, assim como todo o país, foi objeto da perambulação de povos autóctones desde tempos imemoriais

O Juiz Federal Paulo Cruz entendeu que há mesmo evidências de que a comunidade indígena Fulni-ô Tapuya é tradicional ocupante de área distante 15 km do gabinete da presidente Dilma. A área reivindicada pela comunidade indígena e seus defensores é de apenas 50 ha o que destoa das pretensões em outros locais do país. É muito modesta a reivindicação dos índios brasilienses. Estes devem estar muito mal assessorados, pois deveriam pretender milhares de ha que, segundo os laudos antropológicos modernos, são necessários para garantir a sobrevivência desses povos.


Na verdade não é apenas uma etnia a reivindicar a área em questão. São três, mas parece que duas delas já aceitaram receber áreas em outro local do DF. Nada disso! Devem ficar é ali mesmo, a exemplo do que tem ocorrido nos demais contenciosos patrocinados pelas diversas ONGs indigenistas envolvidas na questão. Além disso, como foi divulgado, aquele local faz parte do cinturão cósmico da América do Sul, uma faixa de terras que, segundo a tradição indígena, possui grande força espiritual assim como a cidade de Cuzco no Peru. A terra conhecida como “Santuário dos Pajés” já foi inclusive tese de mestrado na área de Antropologia da Universidade de Brasília.


A comunidade indígena Fulni-ô habita ainda hoje uma aldeia de 11.500 ha no município de Águas Belas no estado de Pernambuco. São considerados os únicos indígenas do Nordeste que ainda mantêm viva sua língua nativa.  Segundo estudos antropológicos alguns indivíduos deslocaram-se daquela região no ano de 1950 com destino a nova capital federal que iniciava sua construção. Fato curioso é que descende desta etnia o jogador Garrincha (1933-1983) um dos maiores craques brasileiros de futebol de todos os tempos. Na aldeia maranhense dos Fulni-ô existe uma discordância entre a FUNAI e os próprios índios que não consideram seus descendentes aqueles membros que não participam do ritual Ouricuri, uma espécie de retiro religioso sagrado. Muitos se dizem descendentes embora não praticantes, o que é uma forma de garantir seu acesso à terra.

O que está acontecendo atualmente em Brasília já vem ocorrendo, sistematicamente, há vários anos em muitas regiões do país. Centenas de áreas são reivindicadas pela FUNAI em quase todos os estados brasileiros levando a intranquilidade a muitos proprietários de boa-fé. O acirramento dos ânimos chegou ao extremo no estado do Mato Grosso do Sul onde são quase uma centena as áreas invadidas, configurando-se num verdadeiro barril de pólvora pronto a ir pelos ares, levando consigo sonhos e, quem sabe, algumas vidas. Era lógico e previsível que essas ampliações de reservas chegassem também às cidades. Nada mais justo, pois o ambiente urbano uma vez também foi rural e, portanto, sujeito às perambulações dos ameríndios que aqui habitavam quando Cabral aportou. Muitos habitantes das cidades assumiram um discurso indigenista sem saberem que as ampliações de reservas não garantem melhores condições de vida aos indígenas, pois estes já detêm 13% do território brasileiro.


Agora, quando a ameaça das ampliações atingirem também as cidades desalojando proprietários urbanos, por certo haverá um entendimento mais coerente e menos apaixonado. Será que existirão também parcelamento de casas, lotes urbanos e apartamentos como forma de acomodar alguma etnia indígena que tenha sido prejudicada por ocasião da demarcação de suas terras? Certamente no ano de 2014 terá que haver o enfrentamento dessa questão que apenas atingia os proprietários rurais, muitas vezes demonizando-os como se fossem intrusos em sua própria terra.


Lá em Brasília a polícia foi extremamente eficaz na retirada de manifestantes simpáticos aos indígenas, fato que não acontece em outros locais do país, onde inclusive muitos mandados de reintegração de posse de áreas invadidas ficam eternamente engavetados com o argumento de evitar-se o confronto. Enquanto o debate segue infrutífero, sem que nada de concreto seja resolvido, fico imaginando o Ministro da Justiça tentando convencer a presidente Dilma a escolher um novo local para instalar seu gabinete. De preferência um local onde não haja nenhum indício da presença indígena em tempos imemoriais.


* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural no MT
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