sábado, 18 de janeiro de 2014

O homem e o tempo

por Mauro Santayana *

(JB - Primeiro de Janeiro) - Sem poder dominar o tempo, e o inevitável ciclo da vida, o homem passou a medi-lo, e tentar compreendê-lo, a partir da observação da natureza. O primeiro relógio foi o Sol - e disso nos deixaram testemunho os arabescos rabiscados nas paredes das cavernas e as civilizações antigas. Separados, na imaginação humana, os dias e as noites - ou melhor, feita a luz, no gesto primevo de que fala o Genesis - passamos a dividir a existência pelas estações, as chuvas e as secas - que ganharam importância com o advento da agricultura - pelo movimento dos astros, os relógios de sombra, de água e de areia, os solstícios e as festas da colheita.

O fascínio pelo tempo levou-nos ao pêndulo e às engrenagens, à vibração dos átomos, à matemática e à física, à computação, às teorias, como a da Relatividade, ao microcosmo que se mede em nanômetros, ao universo quântico.


Nestes dias, completamos, pelo Calendário Gregoriano, mais um ano, o de 2013. Isso nos faz lembrar que sem os algarismos e a noção de tempo, a História, provavelmente, não existiria. Não teríamos como datar o passado da nossa espécie. Nem como compreender o presente fugaz e complexo que nos cerca. E nossas visões de futuro estariam relegadas - como no passado - à leitura das vísceras dos pássaros e à interpretação das profecias dos xamãs e das sacerdotisas.


Guardadas as devidas proporções, a história humana continua sendo a de um frágil conjunto de átomos, organizado em células e neurônios, perplexo diante do milagre da vida, e dedicado a postergar ou trapacear o fim inexorável.

Há aqueles, como Alexandre o Grande, Átila, ou César, que conquistam ilhas, montanhas, continentes, e constroem pirâmides e cidades para permanecer além do tempo. Há os que buscam o poder para exercê-lo sobre quem o cerca, valendo-se de seus bens ou de sua posição, como se cada instante de controle sobre outro ser humano, dilatasse os seus próprios momentos neste mundo.


Há, ainda, como Homero, Caravaggio, Lorca, Michelangelo, Picasso, Violeta Parra, Chaplin, Aleijadinho, quem prefira legar ao mundo o seu talento e o seu espanto, a beleza dos versos e das formas, das cores, dos gestos e do sonho.

E há, finalmente, aqueles, entre os quais se incluem também certos artistas e poetas, que preferem enfrentar a morte, olhando-a nos olhos e combatendo tudo que a representa. A miséria e a injustiça, a fome, a desigualdade. O racismo e o ódio, o egoísmo, a violência, a brutalidade.


Esses são os que curam os pobres e humildes, os que ensinam a ler e a pensar a quem não sabe; que desvendam os males dos vírus e bactérias; os que forjam novas ideias e movimentos. E criam vacinas, alimentos e fontes de energia mais baratas, não com a intenção do lucro, mas para mostrar que é possível. Que a vida pode ser vitoriosa,



Muitos deles morreram no último ano - e não poucos foram perseguidos e assassinados - outros alcançaram grandes vitórias e conquistas e temos certeza de que seguirão lutando.  Continuaremos dependendo deles no futuro. São eles que fazem caminhar a humanidade.


* jornalista

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